CUIDADO AO TENTAR SER MUITO ENGRAÇADO NO TRABALHO
David Lenihan, executivo-chefe de uma startup de Nova York
da área de ensino de medicina, percebeu uma coisa quando se viu na reprodução
de um vídeo institucional que ele estava gravando. Toda vez que entrava na sala
de projeção para se apresentar para a câmera, ele tropeçava.
Ele fez uma piada sobre sua falta de jeito e seguiu em
frente. Mas ele continuava tropeçando. Então, ele percebeu que não era o único
- seus colegas também estavam tropeçando. E todos eles estavam lidando com
aquilo da mesma maneira: riam, faziam uma piadinha autodepreciativa e seguiam
em frente. O que chamou a atenção de Lenihan foi a negação coletiva:
"Ninguém estava falando a respeito. Ou questionando por que todos nós
estávamos tropeçando o tempo todo", diz ele.
No caso de Lenihan, o problema era um cabo rebocador mal
colocado. Mas o humor do tipo autodepreciativo é uma estratégia arriscada no
trabalho, especialmente para os executivos mais graduados. Se fazemos troça de
nós mesmos, corremos o risco de criar uma distração de problemas que podem ser
sérios. Ou pior: atrair as atenções para as nossas fraquezas ou minar nossa
credibilidade.
A auto-ironia ponderada, entretanto, pode ser uma coisa
poderosa. Ela pode aliviar as tensões, transmitir confiança, aumentar a aceitação
e aproximar pessoas de status diferentes. Pesquisadores da Cambridge Judge
Business School estão tentando descobrir se há como os líderes usarem o humor
de forma habilidosa e eficiente, para aumentar os benefícios e reduzir os
riscos.
Eles afirmam que ao longo de seu trabalho - que está em um
estágio inicial e em breve será submetido para publicação -, perceberam
diferenças significativas na maneira como homens e mulheres usam o humor, e que
as mulheres podem sair perdendo em estratégias de liderança inteligentes.
A professora Sucheta Nadkarni, diretora do Cambridge
Wo+Men's Leadership Centre, e Vanessa Marcié, da turma de MBA Executivo,
consultaram 100 executivos dos escalões intermediário e alto que trabalham em
uma série de setores, e deram sequência na pesquisa entrevistando alguns dos
participantes.
Elas constataram que homens e mulheres usam o humor de
maneira diferente no trabalho. Enquanto os homens - como Lenihan - se mostram
mais confiantes de rir à própria custa, as mulheres são cautelosas com as
brincadeiras e as piadas sobre si mesmas. Na verdade, muitas evitam
completamente as brincadeiras - especialmente quando estão lidando com
superiores. Enquanto isso, os homens se mostram mais dispostos a brincar com
seus chefes.
Isso, conjecturaram as pesquisadoras, acontece porque
enquanto o humor autodepreciativo pode ser eficiente no nível executivo, para
os gerentes intermediários - o nível em que as mulheres têm uma probabilidade
maior de estar na carreira - isso pode ser simplesmente arriscado demais.
Conforme diz a professora Nadkarni, a estratégia não funciona bem para aqueles
que têm menos poder: "Faz você parecer ser mais fraco", afirma ela.
Pesquisas existentes sugerem que as entrevistadas podem
estar certas em ser cautelosas. Um estudo de 2017 publicado no "Journal of
Personality and Social Psychology" constatou que o humor tem um papel
muito importante nas hierarquias de grupos. Bem usado, ele melhora o status,
mas os riscos são elevados quando as brincadeiras não dão certo. Outro estudo de
2017, feito por pesquisadores da Singapore Management University, notou que o
humor é uma estratégia de liderança tão inteligente que alguns líderes
políticos e empresariais estão até mesmo contratando "treinadores de
humor".
Portanto, onde um executivo cautelosamente divertido deve
começar? Os pesquisadores de Cambridge sugerem as seguintes dicas:
- Entender os tipos de humor e o poder associado a cada um
deles no local de trabalho. Eles identificaram quatro:
"autoenaltecedor" e "autodepreciativo", ou rir de si mesmo;
"associativo", ou fazer piadas sobre as situações do dia-a-dia;
"agressivo", ou rir dos outros; e "autodestrutivo", que é
geralmente autocrítico e usado para desarmar ataques. No trabalho, fique com a
primeira e a segunda opções e evite o humor "agressivo" e o
"autodestrutivo". É preciso ter habilidade para evitar confundir o
humor autodepreciativo com a autodestruição.
- Conheça seu público: observe as associações básicas dos
colegas, suas crenças religiosas e tenha informações pessoais suficientes para
se certificar de que as piadas não sejam inconvenientes - uma maneira certa de
fazer você parecer estar fora da realidade.
- Permaneça no controle. Use o humor seletivamente, em vez
de agir como o palhaço da classe, o que pode fazer líderes parecerem
desesperados por aprovação.
Vanessa Marcié, ela mesma uma comediante ocasional, conclama
as mulheres e executivos de escalões intermediários a entenderem as regras e
entrarem no jogo - afinal, pelo menos eles têm a vantagem de conhecer seu
público. A autodepreciação no trabalho é "na verdade mais fácil do que dar
uma de comediante 'stand-up', porque você já tem um denominador comum",
afirma ela. "Um comediante de verdade nunca conhece a plateia."
Mas às vezes, mesmo quando os executivos seguem todas as
regras do humor autodepreciativo, eles correm riscos. Lenihan afirma que no
estúdio ele estava tão ocupado rindo de si mesmo que subestimou o óbvio:
"Arrume o cabo, faça vídeos melhores", diz.
Por mais agradáveis que fossem os executivos que tropeçavam,
eles estavam concentrados demais em desviar as atenções de seu embaraço. Agora
eles estão livres para se concentrar em suas habilidades de apresentadores -
além de estarem muito mais seguros.