EQUIPE DE BOLSONARO NÃO ENTRA EM CONSENSO, E DISCURSO EM DAVOS É INCÓGNITA
O presidente Jair Bolsonaro no ‘AeroLula’ com os ministros Paulo Guedes, Sergio Moro e Ernesto Araújo durante viagem à Suíça – Alan Santos/Presidência da República
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O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
construiu seu patrimônio antes de se declarar empresário, de acordo com
informações cartoriais, da Justiça Eleitoral e da Junta Comercial do Rio de
Janeiro.
O ainda deputado estadual é sócio da Bolsotini Chocolates e
Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da
Tijuca, zona oeste do Rio.
De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7
de janeiro de 2015 e tem mais um sócio.
Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito
declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.
Fabrício
Queiroz, ex-motorista do deputado estadual, é investigado sob suspeita de
ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de
servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.
A partir da investigação, o Ministério Público do Rio
solicitou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) relatório
sobre as contas de Flávio. O levantamento apontou
48 depósitos de R$ 2.000para o deputado entre junho e julho de 2017.
Em
entrevista à TV Record no
domingo (20), o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que tentam de “forma
baixa” insinuar que a origem de seu dinheiro tem a ver com ex-assessores de seu
gabinete.
“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho
na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de
deputado”, afirmou o senador eleito.
Como
mostrou a Folha no ano passado, Flávio fez pelo menos 20
transações imobiliárias em 14 anos, entre compras, vendas e permutas.
A maior parte das aquisições ocorreu antes de 2015, segundo
dados de cartório. Em alguns casos, o parlamentar fez dívidas e só as quitou
depois, quando já tinha a loja.
Segundo a assessoria da Kopenhagen, “o retorno do
investimento aplicado ocorre de dois a três anos após o início das atividades”.
Ou seja, no caso de Flávio, só começaria a ocorrer em 2017 ou 2018.
A Folha apurou com pessoas familiarizadas com esse
tipo de franquia que o faturamento bruto (não descontados os impostos e outras
despesas) é de cerca de R$ 60 mil ao mês. A Kopenhagen não divulga faturamento
de seus franqueados.
A Folha perguntou a Flávio se ele exerce mais
algum trabalho além da sociedade na filial de chocolates e o mandato. A
assessoria informou que ele não se manifestaria.
Uma reportagem da revista Piauí, de setembro de 2016, relata
que o deputado estadual entregou um cartão de sua filial na Barra da Tijuca e
chamou a atividade de plano B.
“A gente nunca sabe quanto tempo vai permanecer na política
e é importante ter um plano B”, afirmou.
Atualmente, o salário de um deputado estadual do Rio é de R$
25,3 mil brutos.
Na última declaração de bens, de 2018, Flávio disse ter R$
1,74 milhão —considerando o fato de que ele diz ser dono de apenas 50% dos
imóveis, já que é casado em regime de separação de bens.
Ele entrou na vida política em 2002, com apenas um carro Gol
1.0, declarado por R$ 25,5 mil.
Entre 2012 e 2014, Flávio teve uma intensa movimentação
imobiliária.
Suas duas últimas grandes aquisições, um apartamento no
bairro de Laranjeiras e outro na Barra da Tijuca, no Rio, ocorreram antes de
2015.
Os dois imóveis foram registrados ao custo de R$ 4,2
milhões. Nos dois casos, o filho de Bolsonaro pediu empréstimos, um na Caixa e
outro no Itaú, respectivamente.
Segundo a versão de Flávio, a dívida de R$ 1 milhão com a
Caixa foi quitada em 2017.
Valor aproximado foi detectado em um segundo relatório do
Coaf, divulgado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, sobre movimentações atípicas
na conta do filho do presidente. Segundo a reportagem, o órgão não
identificou a data exata e o beneficiário.
Flávio não explicou a origem do dinheiro pago à Caixa.
Após 2015, documentos de cartório mostram que houve apenas
uma permuta feita por Flávio e uma venda. Ele se desfez do imóvel das
Laranjeiras, em troca de um na Urca e também de uma sala comercial na Barra,
bairros do Rio de Janeiro. O parlamentar ainda recebeu um valor de R$ 600 mil
na operação. Em maio 2018, o apartamento da Urca foi vendido, por R$ 1,1
milhão.
Além de dizer que o retorno de investimento demora entre
dois e três anos para ocorrer, a Kopenhagen informou ainda que para
aquisição de uma franquia nos moldes da do filho do presidente da República é
cobrada uma taxa de R$ 45 mil, além de investimento de R$ 350 mil, mais R$ 100
mil de capital de giro.
A Folha enviou no começo da tarde desta segunda (21) cinco
perguntas para a assessoria de Flávio.
Além de questionar se há outra atividade desempenhada pelo
parlamentar, a reportagem perguntou o valor do lucro líquido da loja, se
ele teve alguma fonte de renda antes de 2015 que auxiliou nas aquisições e
a origem do R$ 1 milhão utilizado para quitar o empréstimo com a Caixa.
Ele disse que não iria se manifestar.
FOLHAPRESS