EM ROTA DE COLISÃO
O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) ainda mantém em
seu escritório paulista uma foto do presidente Jair Bolsonaro (PSL)
que ocupa uma parede, mas não esconde sua decepção com o governante que ajudou
a eleger e, segundo ele, já não trata com "carinho" os aliados mais
antigos.
Em entrevista ao UOL gravada na sexta (7), o deputado
federal pelo PSL paulista afirmou que gosta "demais do Jair
Bolsonaro" --a quem ainda chama pelo primeiro nome--, mas tem tido
"muitas divergências" com o presidente.
Um dos principais articuladores do PSL na Câmara, Frota
reclamou do que vê como falta de prestígio do partido junto ao presidente, como
a dificuldade de conseguir levar demandas ao Planalto enquanto nomes de outras
legendas ocupam cargos-chaves.
O deputado também não tem economizado nas
críticas públicas ao governo e a colegas de partido, como o deputado
federal Eduardo Bolsonaro. Eduardo assumiu o comando do PSL paulista na segunda
(10), e Frota promete judicializar a questão.
"Eu estou em rota de colisão pelo que eu acho
certo", diz.
Para o deputado, o governo precisa "ter mais carinho
com aqueles que lutam" por suas agendas.
"Na prática, seria atender os deputados, uma demanda,
uma reunião. Muitas vezes eu já intercedi por colegas que querem falar ou com o
presidente, ou com o chefe da Casa Civil, ou com algum ministro, e fica
difícil. Não tem agenda, não tem hora, não tem tempo", afirma.
Segundo Frota, "o PSL, com toda a certeza, foi o
partido menos prestigiado pelo governo Bolsonaro desde a transição". Ele
conta que deputados do partido reclamam de não serem convidados para eventos do
governo federal em seus estados, enquanto parlamentares de outras legendas são.
"Parece hoje que o partido do Bolsonaro é o DEM"
Reconhecimento aos "soldados"
Vice-líder do PSL na Câmara, Frota também coloca a
dificuldade em formar uma ampla base governista na conta da falta de atenção
com os próprios aliados.
"Quando vocês da imprensa falam 'o governo Bolsonaro
não tem base'... Não tem base. E não tem porque não se construiu essa base. A
gente muitas vezes é o partido do presidente quando interessa a eles. 'Olha aí,
Frota, orienta assim, o governo tá pedindo.' Mas, quando vem um deputado para
me falar: 'Fiquei três horas na porta do Bolsonaro e não fui recebido', o que
eu vou falar para esse parlamentar?"
Frota também questiona o que considera uma falta de
reconhecimento de Bolsonaro, depois de assumir a Presidência, a quem o ajudou a
chegar lá. O deputado não nega que surfou na "onda Bolsonaro", mas
afirma que o presidente incorporou um pensamento da "turma do Olavo de
Carvalho" de que os deputados do PSL devem seus mandatos a Bolsonaro e
devem se conformar com isso.
"Quando o Bolsonaro era a comédia, o desacreditado, o
machista, quem estava lá embaixo brigando por ele éramos nós. Nós também
ajudamos a eleger Jair Bolsonaro", diz. "A gente brigou muito, saiu
na porrada. E até hoje eu estou lá defendendo ele, ainda que eu tenha
divergências com ele."
O reconhecimento deveria se estender, para Frota, aos
soldados "feridos" de Bolsonaro. Entre eles, o ex-senador Magno Malta
e o ex-ministro Gustavo Bebianno, braço direito de Bolsonaro na campanha
eleitoral e depois demitido por suspeita de envolvimento no escândalo dos
"laranjas" do PSL.
"Bolsonaro várias vezes falou para mim, falou para
vários outros: soldado meu que é ferido na guerra não fica para trás. Todos
ficaram", diz. "Não me interessa aqui o que o Bebianno fez, mas
Bolsonaro tem que ter o reconhecimento pelo que o Bebianno fez."
Perguntado sobre qual seria a solução para as dificuldades
na relação entre Bolsonaro e o próprio partido, Frota diz que isso cabe ao
presidente.
"Quando o Olavo de Carvalho chama de pilantra, chama de
merda, como ele chamou o Santos Cruz, eu subo lá e defendo o Santos Cruz. Mas
quem tinha que pegar o celular e ligar pro Olavo de Carvalho, dar um esporro e
fazer o Olavo de Carvalho calar a boca dele, é o Bolsonaro."