DEPUTADO CHAMA PAPA FRANCISCO E ARCEBISPO DE “PEDÓFILOS SAFADOS”; CNBB REAGE


O deputado estadual Frederico D’Avila (PSL-SP) fez uma série de ataques ao arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ao papa Francisco. O parlamentar chamou os religiosos de “safados”, “vagabundos” e “pedófilos”.

As ofensas foram dadas em seu discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) na última quinta-feira (14/10).

No feriado de terça-feira (12/10), Dom Orlando Brandes, criticou a disseminação de notícias falsas e o armamento da população brasileira. A declaração foi dada durante o sermão da missa do Dia de Nossa Senhora Aparecida. Apesar de não mencionar o nome do presidente Jair Bolsonaro, o religioso utilizou o slogan do governo federal para afirmar que “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”.

D’Avila atacou ferozmente a declaração. “Seu vagabundo, seu safado da CNBB, dando recadinho para o presidente [Bolsonaro], para a população brasileira, que pátria amada não é pátria armada. Pátria amada é a pátria que não se submete a essa gentalha”, disse.

“Seu vagabundo, safado, que se submete a esse papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito, do bem-estar e do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos safados, a CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil”, gritou o deputado no plenário.

CNBB reage

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de carta, repudiou os ataques sofridos pela instituição, pelo arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes e pelo papa Francisco em discurso do deputado estadual Frederico d’Ávila (PSL).

A carta, assinada por D. Walmor Oliveira de Azevedo (presidente da CNBB), D. Jaime Spengler (1º vice-presidente), D. Mário Antônio da Silva (2º vice-presidente) e D. Joel Portella Amado (secretário-geral), diz que os ataques aos religiosos foram feitos “com ódio descontrolado” pelo parlamentar.

A instituição religiosa ainda “reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa,o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).”

Por fim, a carta pede “medidas internas eficazes, legais e regimentais para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.”

Leia a íntegra da carta enviada pela CNBB:

“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes. Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei. Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.”

Fonte: Correio Braziliense e Poder360