TOMÓGRAFO DO WALFREDO ESTÁ EM USO HÁ 15 ANOS E É CONSIDERADO OBSOLETO


O Hospital Walfredo Gurgel está novamente sem tomógrafos. Os equipamentos, utilizados para a realização de exames de imagem, quebraram pela terceira vez em dois meses, dificultando o acesso dos pacientes da unidade ao tratamento adequado. Segundo relatório da própria Secretaria de Saúde, ao qual a reportagem da TRIBUNA DO NORTE teve acesso, o tomógrafo de maior porte do hospital, responsável pela maior parte dos exames diários, foi fabricado em 2010 e está em uso há 15 anos, sendo considerado “obsoleto” pelo fabricante – a Philips – desde dezembro de 2024. A Secretaria de Saúde está com um processo licitatório em curso para a compra de um novo aparelho e planeja alugar outro, o que possibilitaria a substituição dos dois atualmente em uso, que vivem quebrando.

Segundo o relatório ao qual a reportagem teve acesso, é necessário substituir com urgência o equipamento. “Salienta-se que equipamentos ultrapassados podem comprometer a precisão, aumentar o tempo de exame e elevar riscos aos pacientes devido à limitação tecnológica. A obsolescência também implica maior custo de manutenção, menor eficiência energética e incompatibilidade com novos protocolos de imagem, impactando diretamente a segurança e a eficácia do atendimento”, afirma o relatório, produzido pela Coordenadoria de Patrimônio e Infraestrutura da Sesap.

O outro tomógrafo do Walfredo Gurgel foi fabricado em 2015 e já tem 10 anos de uso. Atualmente, ele também não está operando. O hospital atende a demandas da rede estadual, como tomografias de urgência do Hospital Giselda Trigueiro, Hospital João Machado, Hospital José Pedro Bezerra (Santa Catarina), Hospital Maria Alice Fernandes, entre outras unidades de saúde.

A Secretaria Estadual de Saúde informou, em ofício, ao Ministério Público do RN, a intenção de adquirir um novo equipamento e alugar outro, o que evitaria a descontinuidade do serviço. O MPRN abriu inquérito para investigar a falta de exames de imagem no Walfredo Gurgel. O custo de um tomógrafo é estimado em R$ 2,9 milhões. A estimativa de atendimento mensal no Hospital Walfredo Gurgel é de 4.600 tomografias. Com a paralisação dos tomógrafos, os pacientes são encaminhados para o Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim, e para o Hospital Giselda Trigueiro, em Natal.

Para Ana Karla Galvão, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN (SindSaúde), a falta do tomógrafo pode trazer risco de vida aos pacientes, atrasando diagnósticos importantes. Ela lembra que o Hospital Walfredo Gurgel é referência em trauma, urgência, emergência e politrauma. “O hospital recebe todo tipo de pacientes de urgência e emergência: vítimas de violência por arma de fogo, por faca, de acidente automobilístico, acidente de queimadura, por exemplo”.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que, nesta segunda-feira, “o hospital recebeu a empresa responsável pela manutenção do equipamento, que indicou a necessidade de troca de uma peça, que já foi requisitada ao fornecedor em Minas Gerais”. Segundo o G1 RN, o outro tomógrafo está em uma sala em reforma, o que inutilizou o espaço. A TRIBUNA DO NORTE contatou a Sesap-RN, via assessoria de imprensa, para saber a previsão de retorno do serviço, mas não teve retorno até o fechamento da edição.

Em 16 de setembro, os dois tomógrafos do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel quebraram e os pacientes tiveram de ser transferidos para o Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim. Em 14 de outubro, a pasta havia confirmado que os dois aparelhos do hospital, principal unidade do RN, estavam sem funcionar.

Leitos de UTI

O Hospital Regional Dr. Mariano Coelho, em Currais Novos, e o Hospital Santa Catarina, em Natal, têm leitos de UTI sob risco de bloqueio, sendo que a segunda unidade tem ainda 12 leitos infantis bloqueados devido a uma reforma. A reportagem apurou que os problemas nas unidades são, respectivamente, falta de aspiradores portáteis e necessidade de profissionais de enfermagem.

Em documentos aos quais a TRIBUNA DO NORTE teve acesso, as unidades cobram medidas para evitar o bloqueio dos leitos. A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap-RN) afirmou, em nota, que as duas unidades estão com os serviços mantidos. Sobre os leitos infantis do Hospital Santa Catarina, a pasta informou que a reforma do setor está prevista para acabar até o fim deste mês.

No Hospital Regional Dr. Mariano Coelho, há um número insuficiente de aspiradores portáteis para atender aos 10 leitos da unidade de terapia intensiva, segundo documento assinado nesta segunda-feira (10). O diretor da unidade pediu a resolução do problema com urgência.

Já no Hospital Dr. José Pedro Bezerra (Santa Catarina), existe a necessidade de enfermeiros e técnicos de enfermagem. Em despacho assinado na última quarta-feira (05), a direção do hospital pede a contratação de mais profissionais no complexo neonatal – UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal) e UCINCO (Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais Convencionais) – com urgência, para evitar o bloqueio.

Sobre os leitos de atendimento infantil, a Sesap-RN diz que “a assistência aos bebês segue ocorrendo normalmente nos leitos de média complexidade”. Esse rearranjo, segundo Ana Karla Galvão, sobrecarrega os outros setores de urgência e emergência. Os 12 leitos bloqueados no Hospital Santa Catarina são aqueles que aplicam o Método Canguru, o “setor Canguru”. “Isso vem causando reflexo na UTIN, que atende pacientes recém-nascidos de alto risco, e na UCINCO, com superlotação”, afirma.

“O setor Canguru recebe os bebês prematuros da UCINCO. É o local onde os prematuros ficam sob a assistência de enfermagem, onde os pais mantêm os primeiros contatos com o bebê. Isso ajuda no fortalecimento do vínculo familiar, na manutenção da temperatura corporal e na estabilidade de funções vitais”, diz Galvão.

Segundo o médico Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), a Secretaria de Administração sinalizou que deve chamar profissionais do atual concurso da Sesap-RN, como auxiliares, enfermeiros e técnicos de enfermagem. “Existe uma carência em boa parte dos hospitais. Essa situação é muito complicada, porque sem enfermagem, sem técnicos de enfermagem, a gente não tem condições de colocar as estruturas para funcionar”, diz.

O presidente do Sinmed-RN avalia como “absurdo” o problema no sistema de vácuo – aspiração contínua – da UTI do Hospital Regional Dr. Mariano Coelho. Ele acredita que isso se trata de um problema simples de manutenção, que a empresa responsável consegue resolver rápido.

“Todo leito tem que ter um vácuo. Se está faltando o [aspirador] portátil, certamente é porque o vácuo central deve estar com problema”, explica. “O portátil é um quebra galho. A repercussão da falta dele é imensa. Você coloca em risco a vida dos pacientes que precisam ser aspirados. São pacientes portadores de doença respiratória ou então portadores de patologias graves que não conseguem deglutir. Eles têm que ser aspirados com extrema frequência”, completa.
 
TRIBUNA DO NORTE