PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL NO RN CRESCE 89% EM CINCO ANOS, APONTA ANP
A produção de gás natural no Rio Grande do Norte apresentou um crescimento de 89% no intervalo de cinco anos, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP). Sendo um dos maiores produtores em terra do Brasil, a produção do RN atingiu uma média de 1.118,04 milhões de m³/dia a cada mês em 2024. Em 2019, essa média era de 590,96 mil m³/d. Já em 2025, a média nos três primeiros meses é de 1.148,9 milhão de m³/dia, indicando uma possibilidade de crescimento ainda maior nos próximos anos. Para o Estado, a indústria de petróleo e gás deve ter investimentos de pelo menos R$ 3 bilhões até o final da década, segundo informações da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec).
De acordo com especialistas e representantes de empresas que atuam diretamente na extração do gás na Bacia Potiguar, o aumento se deve a dois fatores essenciais: a demanda interna pelo produto no Brasil, que importa de países vizinhos para abastecer a cadeia nacional, e o investimento maciço das produtoras independentes nos campos da Bacia Potiguar após os desinvestimentos da Petrobras no Estado. Para se ter uma ideia, 39% da produção em 2019 era independente. Em dezembro daquele ano, a produção em terra foi de “apenas” 492,21 mil m³/d de gás natural. Atualmente, todo o gás extraído no RN onshore é fruto das “Oil Juniors”, ou seja, as produtoras independentes.
O presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), Márcio Félix, acrescenta ainda que, em nível nacional, as independentes representam cerca de 7% da produção total. Há outro fator que chama a atenção também no Estado: a produção de gás natural é majoritariamente em terra, representando 90% do total produzido em 2024, por exemplo. Em outros estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, o gás natural offshore representa a totalidade ou praticamente toda a produção.
“O estado ganha royalties, por onde passa a cadeia produtiva gera emprego, desenvolvimento e economia, serviços. O gás também contribui para melhoria do meio ambiente ao substituir óleo combustível, lenha. É uma energia relativamente limpa em relação a outros combustíveis fósseis. O gás é um insumo importante para a indústria, como para a cerâmica, por exemplo”, explica Márcio Félix. O presidente da ABPIP, no entanto, afirma que há uma dicotomia nesse sentido. Embora a produção no mar seja maior, o gás feito em terra se torna mais competitivo e vai para o mercado, gerando mais lucro para as produtoras.
“Parte da produção no pré-sal é reinjetada, não vem para terra. Tem campos que tem muito CO2 do gás carbônico, então isso é reinjetado e não tem gás. O consumo nas plataformas é muito alto. É uma termelétrica. O consumo dentro das unidades da Petrobras de refinaria também é grande. Então o gás produzido no mar, menos da metade dele chega no mercado. Isso no pré-sal. Em terra, quase 100% vai para o mercado. O gás de terra é mais competitivo, mais barato, tem um custo menor que o gás do pré-sal”, explica.
O secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN, Hugo Fonseca, aponta que os investimentos na cadeia se intensificaram no Estado a partir de 2018. “Esse é um mercado bastante atrativo, pois há uma demanda muito grande por gás. É natural que as empresas foquem na produção de gás natural por termos uma demanda bastante aquecida, que é focada principalmente no consumo pelas indústrias”, cita. Essa demanda, explica, é fruto ainda do Brasil importar gás de países como Venezuela, Argentina e Bolívia, por exemplo, para suprir a indústria nacional. “É uma rentabilidade bem interessante para essas empresas no tocante à comercialização”, acrescenta.
“Estávamos num cenário de estagnação na produção. Quando os operadores entraram eles investiram, tinham um objetivo de investir e ampliar a produção e, consequentemente, gerar ganhos ocasionados pelos investimentos que eles fizeram. Esse aumento é reflexo da retomada, de fato, da produção e os investimentos que eles estão fazendo”, analisa Robson Matos, analista técnico e gestor do projeto de Petróleo e Gás do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RN).
Empresas querem ampliar investimentos
Presentes no Rio Grande do Norte nos últimos anos e intensificando suas participações, as Oil Juniors querem ampliar investimentos e a produção no Estado para os próximos anos. A Brava Energia (que comprou os ativos da 3R) e a PetroReconcavo têm em seus planos continuar o investimento no Estado tanto para produção de petróleo quanto gás natural.
Dados da Associação Brasileira de Produtores Independentes (ABPIP) mostram que os investimentos no Brasil podem chegar a US$ 310 milhões até 2028. A produção, inclusive, deve sair de 23 milhões de m³/d em 2025 para 29 milhões de m³/d em 2028.
A PetroReconcavo foi uma das primeiras a assumir os ativos em terra da Petrobras. Segundo João Vitor Moreira, vice-presidente Comercial e de Fusões e Aquisições da empresa, o aumento da produção de gás natural no Estado em cinco anos foi de 400%. As operações da empresa, que também atua na Bahia, se dividem em 60% petróleo e 40% gás natural.
“Esses campos vinham lidando com um declínio de produção, e a partir da entrada de novos produtores, que possuem uma filosofia de investimento voltada ao redesenvolvimento de bacias maduras, se observa um grande ganho de produtividade associado a estes campos, o que resulta em um ciclo virtuoso de reinvestimento no crescimento e manutenção da produção”, explica.
Tendo investido R$ 2,65 bilhões nos ativos em que opera, a PetroReconcavo tem 50% da produção no RN. “Temos uma perspectiva de continuar investindo de forma sólida no desenvolvimento da produção, conforme projetam nossos dados de reserva divulgados ao mercado”, acrescenta. Prova disso é que há uma negociação em andamento para a compra de 50% de infraestrutura de escoamento e processamento de gás no Rio Grande do Norte, atualmente pertencente à Brava Energia. O valor da transação é de US$ 65 milhões.
Os ativos contemplados na transação incluem as Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN) II e III de Guamaré, com capacidade total de processamento de 3 milhões de metros cúbicos diários, além do gasoduto que conecta as instalações da PetroReconcavo ao Ativo Industrial de Guamaré e as esferas utilizadas para o armazenamento do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) produzido nas UPGN.
Fiern: evolução da base regulatória é desafio
O presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Roberto Serquiz, vê como positiva a chegada do investimento das empresas independentes de petróleo e gás no Estado e cita o aumento nos royalties ao Estado como um avanço do setor. Ele comenta que os repasses de royalties ao Rio Grande do Norte somaram aproximadamente R$ 173,9 milhões, representando um aumento de 26,23% em comparação com o mesmo período de 2024.
“Esse crescimento é atribuído, em grande parte, aos investimentos e às melhorias de produtividade implementadas pelas empresas que assumiram os campos maduros na Região Oeste do estado, indicando o avanço do setor”, cita.
Ainda segundo Roberto Serquiz, é “crucial” a melhoria da base regulatória e modernizações de legislações no Estado para tornar o RN ainda mais competitivo.
“A Fiern defende que a evolução da base regulatória é crucial para aprimorar o ambiente de negócios, o que impulsionaria ainda mais a competitividade e a capacidade produtiva neste setor e nos demais. Nesse sentido, a Federação se mantém firme na defesa da revisão da Lei Complementar 272, visando uma legislação moderna e compatível com as novas tecnologias de mitigação, o que permitiria um desenvolvimento ainda maior”, cita.
Potigás: expectativa é baixar preços
A Companhia Potiguar de Gás (Potigás) vai lançar, em junho, uma chamada pública para comprar 100 mil m³/d de gás natural para inserção na rede do Estado, seja industrial, residencial, comercial e postos de combustíveis. A informação é da presidente da companhia, Marina Melo, que explica que o gás comprado pela Potigás é repassado diretamente para os consumidores, mantendo o preço competitivo. A expectativa é iniciar até o fim do ano e baixar os preços praticados no RN.
“Vamos fazer uma nova chamada pública para essa aquisição e contamos que os produtores locais participem e participem com preços competitivos. Porque o custo de produção onshore, que é a principal atividade deles, é o menor do mercado, é um custo mais competitivo, porque você produz esse gás aqui em terra e entrega aqui dentro do próprio RN. Isso favorece a um preço mais competitivo e contamos que as empresas ofereçam esse gás com um preço que favoreça o mercado local”, explica.
Independentes
A presidente explica que a chegada das independentes é positiva para o Rio Grande do Norte. Um desses exemplos foi a Potiguar E&P, da empresa baiana PetroReconcavo, que assinou contrato em 2021 com a Potigás por 20 anos para venda de gás natural para o Estado.
“A Potigás compra o gás desses produtores e vende sem custos em cima. Não colocamos margem no custo do gás, e sim na construção da nossa infraestrutura. Repassamos integralmente o preço que compramos esse gás. Trabalhamos com um mercado regulado, não podemos colocar o preço que a gente quer, mas os produtores sim, porque o mercado deles é livre e eles podem colocar o preço que achar conveniente”, acrescenta.