COM IPVA, IPTU E SEGUROS, GASTOS DE INÍCIO DE ANO EXIGEM ATENÇÃO E PLANEJAMENTO


Ícaro Carvalho
Repórter

Com previsão de boletos chegando para o início do ano, junto com os altos gastos das festas de Natal e Reveillón, o planejamento financeiro e cuidados com o dinheiro para evitar novas dívidas e contas não pagas são essenciais para os brasileiros. Entre as contas comuns que chegam neste começo de ano – somadas às contas diárias – estão o IPVA, IPTU, licenciamentos, renovações de seguros e matrículas escolares. Segundo especialistas, o planejamento financeiro e um olhar atento sobre as contas podem ajudar a evitar ‘bolas de neve’ nos primeiros meses de 2025.

No Rio Grande do Norte, o calendário de pagamento do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA) foi divulgado na semana passada, e os potiguares precisam se atentar para as primeiras parcelas ou cotas únicas a partir do dia 10 de março. Aliado a isso, a capital potiguar já divulgou o calendário de pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) com perspectiva de desconto de 16% para quem pagar à vista, podendo ser ainda dividido em 10 cotas mensais fixas. A legislação estabelece o pagamento de 1% do valor de mercado do imóvel.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN), Helder Cavalcanti, é importante que o cidadão se debruce sobre as contas anuais e elenque as prioridades, observando as datas de vencimentos e eventuais juros sobre atrasos.

“Orientamos que o trabalhador utilize o 13º salário dividindo para os gastos de festas de fim de ano e o que acontece em janeiro, com material escolar, matricula, IPTU, IPVA. Então é preciso se preparar para esses gastos que são necessários e fundamentais”, comenta.

O presidente do Corecon orienta ainda que aqueles que têm reserva de dinheiro que tentem negociar descontos para pagamentos à vista, por exemplo. “Quem tem um dinheiro em reserva normalmente paga com abatimento. Então, se o consumidor for na escola e negociar a matrícula, pode ser que tenha uma condição melhor. No IPTU, o valor total também tem abatimento também. Esses gastos precisam ser colocados como prioritários”, cita.

Além desses impostos, é comum também que potiguares se debrucem sobre seguros de carros e matrículas de filhos, além de material escolar e compra de livros, fardas, entre outros itens. É o caso de Caio Dênio Santos, 33 anos, analista de redes de computadores. Ele conta que tem adotado uma estratégia de guardar o dinheiro desde meados de novembro, visando amenizar as altas contas que chegam em janeiro.

“As contas de início de ano sempre são difíceis para mim. Começo a me preparar normalmente em novembro, visualizando o que tenho para janeiro, como IPTU e IPVA. Tenho dois filhos e uma das minhas maiores despesas são a escola, fardamento, mensalidade. Tudo isso pesa, principalmente agora com custo de combustível e alimentação altos. Minha maior estratégia é começar em novembro, juntando nesses meses para que em janeiro eu ter esse fôlego para não atropelar as contas e honrar as despesas”, comenta.

Quem também se organiza é Luiz Tavares, 32 anos, engenheiro de software. Ele cita que utiliza uma estratégia há alguns anos para não ter apertos financeiros no começo do ano, como separar as despesas por estrutura, visando o controle dos gastos.

“Geralmente eu costumo dividir as contas em três tipos, como fixas, variáveis e extras. Para as fixas, eu já deixo separado o dinheiro e não mexo mais, que são as contas mais importantes. As variáveis são contas que sei que vão vir, mas não sei quanto, como supermercado, gasolina. Tento deixar um valor médio para essas contas e vou controlando conforme vou gastando”, explica.

“O final e início do ano são diferentes, porque esses gastos extras aumentam muito e no meio disso há contas essenciais, como IPVA, seguro do carro, material escolar e também coisas que não são essenciais, como presentes de Natal, confraternizações, viagens. Apesar de não serem essenciais, são coisas que gostamos de fazer”, acrescenta. “Para esse período especificamente passo o ano inteiro tentando me preparar, determino um valor que quero ter guardado até o fim do ano. Tento me programar, ver para onde vou viajar. Tendo isso em mente guardo aos poucos e quando chega o fim do ano já tenho um valor para esses gastos extras”, acrescenta.

Empréstimos: solução ou novo problema?


Com parte dos brasileiros sem uma organização financeira prévia para pagar as contas do início de ano, surge uma dúvida entre os consumidores: contrair empréstimos é uma alternativa plausível?

Na avaliação de William Eufrásio Nunes Pereira, do Departamento de Economia da UFRN, é necessário “cuidado” ao aderir a essa modalidade financeira para pagamento de dívidas.

“Existe um tipo de empréstimo, que é o consignado, que é o menos ruim de todos os tipos, pois as taxas de juros são mais baixas, mas mesmo assim não é adequado. Mesmo assim, não é adequado. O ideal é o trabalhador procurar pagar as contas à vista ou no caso parcelá-las, mas sempre pagá-las em dia. Se acaso acontecer situações inesperadas, que exigem recursos acima do que se tem, deve-se procurar esses empréstimos com taxas de juros mais baixas. CDC, cheque especial, cartão de crédito, todos têm taxas de juros mais elevadas”, explicou.

Já o presidente do Conselho Regional de Economia (Coreron-RN), Helder Cavalcanti, aponta para os riscos de “bola de neve” com empréstimos bancários.

“Qualquer tipo de empréstimo envolve um custo que são as taxas de juros. Quem faz esse tipo de estratégia, se não couber dentro do orçamento, está só adiando o problema, porque não vai conseguir pagar. O bom senso é tentar organizar a sua renda mensal para caber dentro do orçamento e cumprir seus compromissos. Uma regra fundamental: primeiro o que é necessário, como alimentação, moradia, escola, transporte, depois os demais gastos, como a cerveja do fim de semana, passear, mas o que sobrar disso. Fazer empréstimo por fazer sem caber no orçamento é criar uma bola de neve, porque não vai conseguir pagar e terá mais juros lá na frente”, acrescenta.

Na avaliação de Thaíne Clemente, executiva de Estratégias e Operações da Simplic, fintech de crédito pessoal online, a alternativa pode ser uma solução possível. “Um novo ano muitas vezes começa com desafios financeiros, ou com contas acumuladas durante as celebrações, o que pode escalar rapidamente. Ter um dinheiro extra pode dar aquela ajuda e garantir estabilidade e flexibilidade financeira”, explica.

“O ideal é que, mesmo ao aderir a essa modalidade de crédito, a pessoa continue cuidando das contas por meio de planilhas de gastos ou aplicativos, o que for mais fácil de assimilar no dia a dia. A organização precisa ser levada a sério o ano inteiro, não somente na transição de um para o outro”, orienta a executiva.Hierarquizar contas pode ser alternativa
Na avaliação de William Eufrásio Nunes Pereira, professor do Departamento de Economia da UFRN, é importante que o trabalhador tenha cuidado com os gastos nas contas e estabeleça uma ‘hierarquia’ nas despesas, sejam elas previstas ou não.

“É importante hierarquizar, organizar e estruturar, pagando primeiro aquilo que é essencial, urgente e obrigatório, que não pode ser deixado para depois. E o também tem que fazer os demais pagamentos, compras e quitar as dívidas. Para se organizar é importante reduzir alguns aspectos do consumo, diminuir esses gastos para sobrar recursos e fazer frente a essas outras despesas urgentes e inesperadas”, orienta.

O professor cita ainda que o consumidor precisa ficar atento às contas com taxas de juros mais altas. “Elencar prioridades é uma boa saída. É preciso organizar a estrutura de pagamento para dar prioridade às contas com taxas de juros mais altas. Toda conta com esse fator deve ter uma certa prioridade porque, se não for paga, pode explodir com a taxa de juros. É o caso do cartão de crédito. Atrasá-lo não é bom para ninguém. Em seguida, outras despesas como tributos, também tem multas relativamente altas”, acrescenta.