MANAUS TEM O TRIPLO DE ENTERROS QUE A MÉDIA E FUNERAL SEM COVEIRO


A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Manaus, órgão que gerencia os cemitérios públicos na cidade, informou que o número de sepultamentos registrados ontem bateu recorde desde a chegada do novo coronavírus na capital amazonense. Foram 140 sepultamentos e duas cremações — desses, 41 pessoas morreram em casa sem atendimento. Antes da pandemia, essa média era de 30 corpos por dia.

Em meio à pandemia, o estado começa a viver um caos no sistema funerário, que não dá conta do aumento de mortes em curto espaço de tempo. O Amazonas também enfrenta o colapso das unidades de saúde que estão superlotadas.

Nos cemitérios, a falta de coveiros levou familiares a enterrarem diretamente seus parentes. Ontem, reportagem do Fantástico, da TV Globo, mostrou o corpo de um idoso de 82 anos sendo enterrado por familiares no cemitério Nossa Senhora Aparecida, zona norte de Manaus. Procurada, a prefeitura disse tratar-se de um caso isolado.

Segundo o boletim de hoje da prefeitura, dos 142 óbitos registrados na capital, 47 pessoas morreram por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) ou insuficiência respiratória, a maioria com suspeita por covid-19, mas ainda sem a confirmação laboratorial.

Outras 41 pessoas morreram em casa. De todos os óbitos de ontem, 10 foram de pacientes já testados e com confirmação do novo coronavírus. Outras 28 tiveram no atestado o registro de causa indeterminada ou desconhecidas, entre outras causas.

Desde 9 de abril, foram mais de 1.600 registros de sepultamentos na capital. Com o aumento na demanda, o município firmou parceria com um crematório para que parentes possam escolher entre sepultar ou cremar os corpos das vítimas da pandemia.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal francês Le Monde, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), afirmou que Manaus está "à beira da barbárie".
Unidades em colapso

Na rede pública de saúde não há mais vagas para internações, e somente quando um paciente morre ou tem alta é que surge uma vaga.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram corpos no chão de unidades, que não teriam mais espaço para armazenamento. Foi o caso do Serviço de Pronto Atendimento Eliameme Rodrigues Mady, em Manaus, onde dois corpos foram fotografados ontem no chão.

Em nota ao UOL, o governo do Amazonas informou que a unidade recebeu uma demanda alta de pacientes com síndromes respiratórias e que, infelizmente, quatro pacientes não resistiram.

"A direção explica que imagem que circula na internet foi feita no momento em que a equipe levava os corpos ao necrotério onde aguardariam a retirada pelas famílias, diz o governo, reiterando que realiza "com respeito e segurança os protocolos de cuidados com os corpos de pacientes que morrem na unidade".

Também hoje, funcionários do Hospital de 28 Agosto, em Manaus, protestaram contra a falta de EPIs (equipamentos de proteção individual). No estado, mais de 500 profissionais já foram contaminados com o novo coronavírus.

Pedido de leitos e médicos

Até ontem, o Amazonas registrou 3.833 casos oficiais de covid-19, com 304 mortes. No sábado (25), o governo local enviou ofícios à União pedindo a abertura de um novo hospital de campanha e de novos leitos de UTI, e também voltou a solicitar auxílio para a contratação de profissionais.

Entre as demandas está a necessidade imediata da chegada de profissionais de saúde, entre eles 60 médicos intensivistas e 20 médicos intensivistas coordenadores, além de mais 120 enfermeiros intensivistas e 80 fisioterapeutas de UTI.

O pedido também solicita abertura de 200 leitos UTI e aquisição de carros de emergência, desfibriladores, aspiradores portáteis e bombas de infusão.

Desde o dia 7, o governo enviou seis documentos ao Ministério da Saúde e à vice-presidência da República solicitando prioridade no recebimento de respiradores para abrir novos leitos.