MESA BRASIL: ALIMENTO AUXILIA ROTINA DE ONGS E INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS


Tendo um câncer de coloretal diagnosticado em 2022, a vida do servidor público potiguar Serjane Marcos de Oliveira, 56 anos, foi completamente modificada ao necessitar sair de Pau dos Ferros para Natal, semanalmente, para sessões de quimioterapia. Nos últimos três meses, Serjane intensificou o tratamento e tem ficado na Casa de Apoio Irmã Gabriela, mantida pela Liga Contra o Câncer, onde tem acesso a roupas padronizadas, itens de higiene pessoal, dormitório e pelo menos seis refeições diárias. O potiguar é um dos 3,2 milhões de pessoas beneficiadas diretamente pelas ações do Mesa Brasil, do Serviço Social do Comércio (Sesc-RN), da Federação do Comércio de Bens, Serviço e Turismo do RN (Fecomércio-RN).


“Esse apoio aqui é fundamental porque além de estarmos passando por um tratamento desse, que mexe com a gente de maneira psicológica, esse apoio ajuda até nisso. Temos café da manhã, lanche, almoço, janta, ceia, transporte, e tem essa interação com todo mundo. É uma alimentação saudável a que recebemos aqui”, explica Serjane, que está em tratamento visando se recuperar do câncer.

Na Casa de Apoio Irmã Gabriela, da Liga Contra o Câncer, o Mesa Brasil é parceiro doador de alimentos e donativos desde janeiro de 2008, segundo informa o superintendente da Liga, Roberto Sales. A Casa recebe pacientes do interior do Estado que precisam vir à Natal para o tratamento contra o câncer. São pelo menos 36 leitos disponibilizados atualmente, com seis refeições diárias e estrutura para atender os pacientes. Mensalmente, a Liga atende em torno de 2.000 pacientes.

“A relação que a Liga tem com o Sesc e Sistema Fecomercio é muito produtiva e benéfica para a instituição. Graças a essa parceria com o programa a Liga consegue desenvolver programas como Mercearia da Liga, que tem cadastrados mais de 400 pacientes. Eles recebem ajuda nutricional da Liga e grande parte dessa ajuda é via Mesa Brasil. Todos os pacientes que necessitam de alimentação suplementar, a Liga fornece uma alimentação adequada, seja sólida, líquida ou pastosa, para que ele continue mantendo seu sistema nutricional adequado para suportar e concluir com êxito o tratamento que realiza na Liga”, cita.

Segundo informações do Mesa Brasil Sesc RN, há várias entidades e instituições cadastradas para recebimento de alimentos. Atualmente, 185 entidades são beneficiadas no Estado: sendo 48 sistemáticas e 137 eventuais. São igrejas, entidades filantrópicas, ONGs, hospitais, instituições de longa permanência para idosos, projetos sociais, escolas, centros comunitários, entre outras.
Quem conseguiu ingressar no programa recentemente foi a Sociedade Amigos do Deficiente Físico do Rio Grande do Norte (Sadef-RN), um dos principais centros de paradesporto do Estado, beneficiando cerca de 170 atletas em alto rendimento em 11 modalidades.

Segundo o presidente, Dário Gomes, como a Sadef recebe atletas da Grande Natal e do interior, a alimentação é fundamental para o alto rendimento dos integrantes, que em muitos casos, são de realidades de vulnerabilidade social. Além das refeições na Sadef, há complementações por meio de cestas básicas. “Temos atletas que chegam aqui sem tomar café, saindo de casa cedo, pegando transporte, às vezes vindo a pé para treinar porque eles têm o objetivo de alcançar algo na vida através do esporte. Para se ter rendimento precisa-se de alimentação”, explica. “Por trás desse atleta precisamos considerar o contexto, a família. Não é só um atleta: para que ele possa vir treinar, parte significativa deles são beneficiários de programas do Governo Federal, como o BPC, e também estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica”, acrescenta Shirley Poliana, assistente social da Sadef-RN.

Um dos beneficiados via Sadef é o halterofilista Walban Flávio Barbosa, 31 anos, morador de Ceará-Mirim. Treinando três vezes por semana na Sadef, Walban explica que o apoio da entidade é fundamental no seu desenvolvimento esportivo.

“A estrutura da Sadef nos permite passar uma semana aqui. Venho de 12h, fico até às 16h e retorno. Tenho apoio de tudo, desde o dormitório com colchões e ar-condicionado novos. A alimentação ajuda não só a mim mas todos os atletas que recebem a complementação na refeição. Como vivo um esporte de alto rendimento, algumas refeições da gente comemos bem mais que a média. Temos banco de alimentos aqui que nos ajuda e é bem importante porque conseguimos complementar a refeição sem mexer na nossa renda. Não tenho nem palavras para descrever o que o esporte representa na minha vida. Sem o esporte não seria quem sou hoje”, explica.

Ajuda vai de alimentos à educação continuada

Com 20 anos de existência, o Instituto Terapêutico Nova Aliança, localizado no município de Nísia Floresta, já tem parceria com o Mesa Brasil há 18 anos, segundo o presidente da instituição, Marcos Bezerra. “Desde praticamente o início da nossa instituição, a gente tem essa parceria com o Mesa Brasil. O programa é relevante não apenas pela questão das doações de alimentos, de biscoitos, de frutas, verduras, mas também pela educação continuada”. Segundo ele, vários cursos já foram realizados em parceria com o Mesa Brasil.

Hoje, o Instituto Nova Aliança atua na recuperação e reabilitação de dependentes químicos (adictos). Diretamente, a entidade atua com 76 homens, mas também faz um trabalho com as famílias dos adictos, desde atendimentos psicológicos à assistência social. Ao todo, são mais de 300 pessoas impactadas. O programa de terapia oferece assistência social, psicologia, clínica médica e odontológica, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

“Só para ter noção, somente de arroz, por dia, são 8 quilos que precisamos, de cuscuz são 16 pacotes. Enfim, todas as doações são para nosso consumo interno que é muito alto”, explica Marcos Bezerra. “No início, essa parceria foi muito, muito, muito importante. Hoje, a gente tem outros subsídios, mas durante os dez primeiros anos o Mesa Brasil foi, sim, essencial para a nossa subsistência enquanto instituição. Durante muito tempo, foi nosso principal parceiro. Ainda é, na verdade, então, a gente sempre é muito grato pelo Mesa Brasil, por esse projeto tão magnífico”, diz o presidente da Nova Aliança.
Tabela mostra quais são as instituições mais beneficiadas ao longo dos 20 anos do do programa. Foto: TN

O adicto em recuperação no Instituto Terapêutico Nova Aliança, João Kennedy, 34 anos, é um desses potiguares do interior do Estado beneficiados com as doações do Mesa Brasil. Ele cita que, na época, em que era dependente químico, morou na rua e chegou a comer comida do lixo. “Para quem vem para um processo de recuperação, de tratamento e tem à disposição programas como o Mesa Brasil, que efetuam doações periódicas, faz muita diferença”, cita.

O adicto relembra uma passagem curiosa quando comeu lagosta pela primeira vez na vida. “A quantidade de quilos de lagostas que veio foi tão enorme que nós conseguimos comer essas lagostas por cerca de 30, 45 dias, e foi uma felicidade muito grande, porque ninguém nunca tinha comido lagosta e, através do Mesa Brasil, tivemos a oportunidade de conhecer”, diz.

Alimentos são avaliados por nutricionistas

O diretor de Programas Sociais do Sesc-RN, Ivanaldo Júnior, aponta que a estrutura do Mesa Brasil atualmente no Estado permite que o programa consiga fazer destinações específicas para as instituições beneficiadas. Todos os alimentos recebidos e arrecadados pelo programa, segundo ele, são avaliadas por nutricionistas especializados.

“Quando o nutricionista e a assistente social vão fazer a visita de cadastramento é visto o perfil da instituição. Se for uma que trabalha com idoso, prioriza-se mais o envio de frutas. Se for uma que trabalha com almoço e jantar, então envia-se cestas básicas. O critério de envio das doações é de acordo com a avaliação do funcionamento dessas entidades”, acrescenta.

O Mesa Brasil tem uma estrutura multidisciplinar, com nutricionista, assistentes sociais e administrativos, motoristas e assistentes de serviços gerais. A nutricionista, explica, garante que os alimentos arrecadados pelo Mesa Brasil estão aptos para o consumo humano. “Trabalhamos também com ações educativas. A nutricionista vai nas instituições para aproveitamento integral desses alimentos”, explica.

O programa tem dois caminhões para a arrecadação de alimentos no Estado e o custeio total é de cerca de R$ 1,7 milhão, segundo a Fecomércio RN.