RODRIGO MAIA: O SEGUNDO SONHA EM SER O PRIMEIRO


Na quarta-feira, dia 10, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, desembarcou em Vitória, no Espírito Santo, ao lado de dois ministros e de integrantes da cúpula de seu partido, o Democratas. Na capital capixaba, participou da cerimônia de assinatura de um repasse de verbas federais para o Espírito Santo. Aproveitou a ocasião para afagar o governador do estado, Paulo Hartung, do MDB, um caso raro de político que atravessa sem grandes avarias a tormenta que atinge a classe – daí ser um nome altamente cortejado neste ano de eleição. Maia teve ainda um encontro no mesmo dia com o sindicalista-deputado Paulinho da Força, líder do Solidariedade. Na véspera, em entrevista ao jornal O Globo, ele recorreu a alegorias ao falar da corrida eleitoral. Chamou de “deserto” o panorama político atual e comparou a disputa à Presidência a uma “avenida aberta”, apta a receber novo fluxo de veículos. Em bom português, pela primeira vez, ele admitiu ser candidato a suceder a Michel Temer no Palácio do Planalto, algo que até então vinha renegando quando instigado a falar sobre o assunto.
Depois de esboçar a candidatura, ele agora dá tempo ao tempo. Nesse período, terá de costurar alianças em torno de si para que sua candidatura se transforme em algo mais que um balão de ensaio. Conta a seu favor o fato de ser presidente da Câmara, posição que facilita muito as articulações políticas. Na quinta-feira (11), Maia recebeu o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado pelo mensalão e cacique do Partido da República (PR), uma das agremiações cobiçadas do centrão. Oficialmente, a pauta do encontro foi a reforma da Previdência. Nessa fase inicial de arranjos, é natural que se disseminem especulações. Maia transita num território onde existe forte concorrência de aspirantes a candidatos. Ele busca atrair um eleitorado de centro, insatisfeito com as principais opções à esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e à direita, o deputado Jair Bolsonaro. Até agora, essa faixa do meio permanece embaçada, com a exposição de muitos nomes que pretendem cabalar votos dentro desse espectro ideológico. Encaixam-se nesse perfil dois integrantes do alto escalão do governo federal: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, que escancararam o sonho de ser candidatos. Personagem tido como promissor, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa vem recebendo piscadelas de lideranças políticas, assim como o apresentador Luciano Huck, sonho de consumo de algumas siglas. Na linha mais tradicional, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, tenta se viabilizar como a principal alternativa para uma frente de partidos encabeçada pelos tucanos.

“A principal característica desta eleição é a imprevisibilidade”, afirma o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. “Temos uma situação que torna plausível que vários candidatos apresentem seu nome.” Trata-se de uma eleição singular, propensa a reviravoltas e surpresas. Candidato que lidera as pesquisas, o petista Lula corre o risco de ser impedido de concorrer pela Justiça. Esse não é o único vetor que pode modificar o quadro. Vivemos uma crise de representatividade dos partidos tradicionais, fenômeno, aliás, mundial. Isso abre caminho para que candidaturas avulsas e descoladas de históricos partidários prosperem. Nos Estados Unidos, em que Donald Trump surpreendeu a todos ao ganhar a disputa para a Casa Branca em 2016, surgiu, nesta semana, um clamor popular em prol da candidatura à Presidência da apresentadora de TV Oprah Winfrey. Sua credencial para ocupar o cargo mais poderoso do planeta? Um tocante discurso sobre igualdade racial e de gênero na cerimônia de premiação do Globo de Ouro, no domingo, dia 7.
É nesse cenário volátil que Maia lançou seu nome. Uma pretensão inimaginável até pouco tempo atrás, quando sua carreira política parecia em declínio. Em 2014, ao ser eleito para seu quinto mandato de deputado federal, ele exibiu seu pior desempenho nas urnas. Foram pouco mais de 53 mil votos – aproximadamente um quinto do total obtido oito anos antes, quando estava no auge de sua exposição ao combater o mensalão. Foi no decorrer do mandato atual que Maia se transmudou de um político “analógico” para o “mundo digital”, conforme suas próprias palavras. O ponto de inflexão foi o afastamento do deputado Eduardo Cunha, da presidência da Câmara, em 2016. Enquanto Cunha era encarcerado em Curitiba, abatido pela Lava Jato, Maia despontou como alternativa para cumprir o mandato-tampão. A presidência da Câmara caiu em seu colo, deixando muita gente boquiaberta. Foi eleito naquele ano e reeleito em 2017. Embora seu jeito introvertido e de sorriso raro indicassem o contrário, ele demonstrou habilidade para dialogar com os parlamentares e incluir na pauta da Casa alguns projetos e reformas que lhe são caros. 
Rodrigo Maia ingressou na política com o apoio de seu pai, Cesar Maia, por três vezes prefeito do Rio de Janeiro. No entanto, a hierarquia se inverteu e o filho ganhou alcance nacional, enquanto o pai hoje é vereador. Em sua ascensão recente, Maia tornou-se o primeiro na linha sucessória de Temer, com quem vive entre tapas e beijos. Chegou a ser cotado para substituir o presidente no auge da crise deflagrada pela divulgação da gravação do empresário Joesley Batista no Palácio do Jaburu. Em outro episódio rumoroso, Maia endureceu com Temer quando o PMDB tentou atravessar as tratativas do DEM para convencer parlamentares a aderir ao partido.
O mais provável é que a movimentação recente de Maia seja apenas uma cartada para se cacifar numa eleição mais adiante ou mesmo para conquistar seu terceiro mandato de presidente da Câmara, caso opte por concorrer pela sexta vez a deputado federal e se reeleja. Se o jogo for mais alto e ele se confirmar como a aposta do DEM à Presidência, alguns obstáculos precisarão ser superados no longo trajeto até as urnas. Num pleito em que as pesquisas apontam a corrupção como um dos itens que o eleitor mais levará em consideração, Maia figura em dois inquéritos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ele tem sido também um parceiro fiel do governo na tramitação de reformas impopulares, como a da Previdência.

Outro desafio será mostrar capacidade de ter bom desempenho numa eleição majoritária. Foi desanimadora sua única experiência num pleito desse gênero. Em 2012, Maia foi cabeça de chapa para a prefeitura do Rio, com a deputada Clarissa Garotinho como vice. Apesar dos sobrenomes conhecidos, a dupla chegou apenas em terceiro lugar, com menos de 3% dos votos válidos. A falta de carisma é uma carência evidente de Maia. “Rodrigo detestava fazer carreata. Era uma luta para convencê-lo. Não gostava também de som alto nem de muita gente com bandeira perto dele”, lembra, com bom humor, Clarissa, atual titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação. “Mas campanha presidencial é diferente. Não há corpo a corpo, é mais centrada na TV”, diz ela. “Ele tem de aparecer com algum volume nas próximas pesquisas. A candidatura é um projeto ainda no embrião”, diz Monteiro. “Mas ele conseguiu de alguma maneira colocar o nome no jogo.” Só o tempo dirá se uma candidatura presidencial de Maia empinará.
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