FIOCRUZ PREVÊ ATÉ 3.000 MORTES NO RJ SE AULAS VOLTAREM A PARTIR DE AGOSTO

A Fiocruz prevê até 3.000 novas mortes no estado do Rio por covid-19, se as aulas nas escolas forem retomadas a partir de agosto. O estudo traça um panorama em todo o país do impacto da volta às aulas em uma população de mais de 9 milhões de pessoas do grupo de risco que convivem na mesma casa com crianças e adolescentes em idade escolar —600 mil delas moram no Rio.

A estimativa leva em consideração idosos com mais de 60 anos e pessoas com diabetes, problemas no coração ou no pulmão que convivem na mesma casa com ao menos uma pessoa com idade entre 3 e 17 anos. Segundo a Fiocruz, cerca de 10% dessa população deve precisar de cuidados intensivos —o equivalente a 60 mil pessoas no Rio. O cálculo de óbitos em decorrência da covid-19 para o estado foi feito a pedido do UOL pelo epidemiologista Diego Ricardo Xavier, um dos responsáveis pelo estudo.

O levantamento foi desenvolvido com base na Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz.


Segundo o pesquisador, em caso de volta às aulas, o contato com crianças e adolescentes fará com que parte do grupo de risco interrompa o isolamento social.

A gente precisa lembrar como se dá a dinâmica familiar. Muitos pais saem para trabalhar e deixam os filhos com os avós. Mas, quando a criança voltar para a escola, vai acabar levando o vírus para essa população de risco, que não terá como seguir isolada. Acabou o 'fica em casa' para esses idosos. A doença é menos prejudicial na população mais jovem. Mas eles funcionam como vetores do vírus

Diego Ricardo Xavier, epidemiologista da Fiocruz

A desmobilização do reforço nas unidades de saúde para atender pacientes com covid-19 também é apontada como um agravante em meio a esse cenário. "Se o vírus voltar a subir de forma abrupta, não vai ser possível atender toda essa população. Os leitos já estão ocupados para atender o que ficou para trás por conta da covid", observa Xavier.

A projeção de óbitos leva em conta o fato de o Rio não adotar o chamado bloqueio sanitário —medida defendida pela Fiocruz para o retorno às aulas. Estudo da fundação propõe a aplicação de exames PCR, tipo de testagem com coleta no nariz e garganta do paciente, que permitem detectar o RNA do vírus e rastrear o seu deslocamento em casos suspeitos ainda em estágio inicial. A adoção da medida envolveria investimento das prefeituras e governo do estado.

Depois disso, um retorno seguro só se daria após dois meses, quando uma queda significativa de casos e óbitos fosse verificada. "É a única forma de controlar o avanço da pandemia sem a vacina. Só podemos pensar em volta às aulas quando houver um controle maior da pandemia", argumenta o pneumologista Hermano Castro, um dos autores do estudo.

Xavier ainda cita o contato entre professores e funcionários das instituições de ensino. "É difícil manter cuidados de higiene com crianças, que vão se aglomerar e entrar em contato com os trabalhadores da escola, criando uma nova distribuição do vírus. Seria preciso adotar estratégias de rastreamento dessa população para evitar que isso aconteça", alerta.
Sindicato de professores diz que volta às aulas é 'prematura'

O Sinpro RJ (Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro) citou os estudos científicos desenvolvidos pela Fiocruz para manifestar contrariedade em relação à autorização de volta às aulas a partir de 3 de agosto. A categoria ainda condiciona um eventual retorno à testagem dos profissionais para covid-19, que não faz parte dos protocolos adotados pela Prefeitura do Rio.

O Sinpro, que representa 35 mil profissionais em atuação em mais de 2.000 escolas privadas na capital, marcou uma assembleia virtual para 1º de agosto, véspera da retomada facultativa das atividades escolares.

Oswaldo Peles, presidente do sindicato, participou na última terça-feira (21) de uma reunião com a Vigilância Sanitária para discutir o assunto. Um dos pontos de maior contrariedade da categoria foi a ausência de testagens para os profissionais no protocolo adotado pelo poder público. A recomendação, inclusive, faz parte das orientações da Fiocruz.

Fiz esse questionamento na reunião e fui informado de que a testagem para os profissionais não está no protocolo. A nossa visão é a mesma da Fiocruz. Entendemos que ainda é prematuro para a retomada das aulas. Não é o momento para a volta às aulas

Oswaldo Peles, presidente do Sindicato dos Professores do Rio
O que diz a Prefeitura do Rio

A Prefeitura do Rio contestou o posicionamento do Sinpro e disse que a categoria dos professores aprova a volta às aulas. Em nota, a administração municipal encaminhou relatos de profissionais de ensino, em apoio à medida, após a reunião com representantes de escolas, na última terça, sobre a proposta de retomada parcial das escolas.

O encontro virtual foi conduzido por gestores da Vigilância Sanitária, que reforçaram as medidas estabelecidas no protocolo de prevenção à covid-19 para escolas, publicado no Diário Oficial.
O que diz o protocolo da Prefeitura do Rio
Rodízio com manutenção do ensino remoto, para evitar aglomeração e atender ao distanciamento de precaução de 2 m entre as pessoas;
Máscaras de proteção devem ser trocadas a cada três horas;
Alunos e professores que pertençam ao grupo de risco devem seguir atuando na modalidade de ensino remoto;
Restrição do atendimento nas secretarias, dando preferência ao acesso virtual;
Horários alternados entre as aulas e de funcionamento do refeitório, para evitar aglomeração;
Preferência de atividades em grupo de forma virtual;
Restringir circulação de pessoas nas dependências da instituição de ensino;
Sempre que possível manter portas e janelas abertas. Bebedouros de uso direto não são recomendados;
Se algum professor, colaborador ou aluno apresentar sintomas compatíveis com a covid-19, a direção deve ser informada, para encaminhamento à assistência médica;
Implementar comunicação sobre as medidas de prevenção à covid-19 em pontos estratégicos em todos os ambientes da instituição, utilizando cartazes;
Utilizar sinalização e marcações no piso para direcionar o sentido do deslocamento entre os espaços físicos da instituição, a fim de reforçar distanciamento mínimo;
Aumentar a frequência de higienização das áreas de maior circulação e de objetos, como carteiras, mesas, cadeiras, teclados, maçanetas, corrimão e itens compartilhados. É recomendado que seja feita a limpeza a cada três horas, com água sanitária;
Os veículos destinados à prestação de serviços de transporte deverão seguir as medidas de prevenção do protocolo sanitário destinado a transportes coletivos.