DO SONHO AO PESADELO: CLIENTES LEVAM CALOTE DE BUFFET EM NATAL


O que tinha tudo para ser a realização de um sonho, um momento de celebração entre família e convidados, virou um verdadeiro pesadelo para os clientes da empresa de festas infantis FestJoy Buffet, localizada no bairro Capim Macio, na zona sul de Natal.

Na noite do último domingo, a casa divulgou nota no perfil oficial @festjoybuffet informando o encerramento das atividades devido à “impossibilidade do cumprimento integral daquilo que pactuado conosco, no que diz respeito a realização dos eventos a partir do dia 16/12/2023”. A postagem foi bloqueada para comentários, mas desde então, muitas pessoas deixaram comentários em postagens anteriores onde relatam situações de não cumprimento dos serviços contratados, outras lamentam o cancelamento das festas a poucas horas do previsto e há quem tenha data futura marcada sem ter recebido ainda qualquer satisfação da empresa.

Para Danielly Silva, o alerta veio através do contato de uma fornecedora: “Ontem, às 8h, a pessoa que iria fazer o meu bolo fake (decoração) me mandou uma mensagem dizendo que não iria mais fazer por falta de pagamento da casa de festa. Foi quando comecei a procurar nas redes sociais e fiz contato com algumas mães”.

Danielly conta que planejou tudo desde fevereiro e já estava com 100% do valor pago para a festa de 1 ano do filho, marcada para a próxima quinta-feira (21), reunindo 80 convidados. “Estamos arrasados, eu e meu marido. O aniversário de 1 ano de um filho, o dinheiro conta bastante, mas podemos recuperar depois. Já o trauma, a angustia… esses ficarão para sempre. São sonhos destruídos”.

Danielly conta ainda que desde a última sexta-feira (15), tentou contato para acertar algumas coisas da festa e não teve retorno. “Tenho 3 contatos de lá, mas nenhum dos 3 respondem nem atendem ligação”. Já na tarde desta segunda-feira (18), ela recebeu um e-mail que inicia com um pedido de “desculpas pelo transtorno” e segue “ Estamos preparando um cronograma de atendimento para que o mais rápido possível possamos encontrar uma solução para sua demanda”.

Já na tarde de segunda-feira, em nova publicação nas redes sociais, o diretor administrativo da empresa voltou a pedir desculpas pelo ocorrido, falou de “dificuldades para sobreviver dentro de um contexto econômico difícil” e afirmou ainda que a empresa está tomando providências para minimizar transtornos aos clientes.
“Eu comecei a observar que só tinha um garçom, eram 100 convidados”

Antes do anúncio do encerramento total das atividades, o serviço prestado já não atendia ao que era contratado. Wilder Souza foi as redes sociais no domingo, 10 de dezembro, para relatar o transtorno vivido por sua família durante o aniversário do filho. “Em outubro decidimos de fato fazer a festa. Fechamos com o FestJoy devido a eles terem a data, uma data boa pra gente e por ser próximo a minha casa. Aí eles marcaram o ‘dia de prova’, que é o dia que você vai provar lá o que eles vão servir na festa. A gente foi, foi tudo maravilhoso, atendimento espetacular. Fechamos o contrato”.

Mas o encanto da primeira impressão foi por água abaixo quando a família chegou ao local da festa: “Contratamos uma fotógrafa que pediu para gente chegar 30 minutos antes para tirar as fotos. Quando entramos, estava uma equipe lá ainda montando as bolas e os convidados começaram a chegar. Ficaram arrumando a festa no decorrer do evento, cheio de convidados e eles botando bola, vi que não estava com o painel que pagamos por fora R$700, a mesa não ficou do jeito que a gente contratou”, relatou Wilder, acrescentando que a medida em que o tempo passava, a situação se agravava. “Comecei a observar que só tinha um garçom. Eram 100 convidados, só tinha um garçom. Ele subia, arrumava os pratos e descia. Depois, descobri que eles estavam com a louça toda suja de uma festa anterior. As toalhas cobrindo as mesas também estavam sujas e algumas até molhadas de outras festas. A cerimonalista avisou que os brinquedos não poderiam funcionar porque não tinha recreadores. Tudo que a gente contratou não estava ali”.

Wilder conta ainda que, para beber, só era servido um refrigerante de péssima qualidade, em copo descartável, e o garçom ainda falava: “Não joga o copo fora porque só tem esse”, e continua “Não tinha água, não tinha suco, os convidados me chamavam e diziam que gostariam de água, suco. Eu cobrava eles e me respondiam: ‘não tem, não tem água e suco não tem como fazer, não tem água também’.

O contrato fechado por Wilder também previa um minialmoço que não ficou pronto no horário da festa, doces e um bolo que não apareceu: “Contratamos 400 doces e não tinha 50 disponíveis. Na hora de cantar parabéns, soube que eles estavam sem o bolo, o principal da festa não tinha levado”.

Para a família, o dia de comemorações terminou com um misto de revolta e vergonha: “Pedi mil desculpas por faltar tudo, já que na minha festa não teve nada. A gente chorou, minha esposa chorou no final porque era uma mistura de raiva com decepção e injustiça”.

A equipe de reportagem do Diário do RN tentou contato com a administração do buffet através de ligação, whatsapp e e-mail, mas até o fechamento da matéria não obteve respostas.
Direito do consumidor

O advogado, presidente da Comissão de Consumo da OAB/RN, Pedro Petta, explicou como as vítimas podem estar procurando seus direitos na justiça: “São festas familiares que trazem uma perspectiva do momento familiar muito agradável, que vão deixar lembranças, que envolvem terceiros que são convidados, que muitas vezes vêm de outros estados, então aquele consumidor que também não teve o seu serviço à contente também tem direito a uma reparação. Então aquele consumidor precisa dirigir essa delegacia do consumidor, registrar um boletim de ocorrência para apuração de eventuais crimes contra o consumidor ou até mesmo um eventual estelionato e procurar um advogado especialista na área do direito do consumidor para que esse advogado ajuíze uma demanda de reparação dos eventuais prejuízos que aquele consumidor considera que teve, tanto do cunho material como indenizações a título de dano moral”.

“O consumidor precisa demonstrar que tentou entrar em contato com a empresa, seja através dos canais de comunicação que eles oferecem, o WhatsApp, o e-mail, ou seja, até mesmo através de uma correspondência, e registrar isso daí no próprio boletim de ocorrência. E aqueles consumidores que estão com eventos agendados, mas que ainda não houve o efetivo desse cumprimento por parte do fornecedor, pode-se haver uma rescisão antecipada desse contrato em razão da demonstração do seu próprio estado de insolvência, que na nota emitida pela própria empresa, ela deixa bem claro que a empresa faliu, então pode haver inclusive a rescisão antecipada desses contratos que ainda não houve o descumprimento” complementou o advogado.

Explicou ainda que caso haja confirmação de que houve uma prática de má-fé da empresa, os proprietários podem ser punidos como pessoa física: “Se existia indícios daquele fornecedor de que ele não poderia dar cumprimento àquele contrato em função da sua insolvência, ele não poderia ter ofertado, ele não poderia ter contratado junto ao consumidor. Então se for realmente constatada essa situação, pode haver uma condenação, uma imputação de um crime. Porque se houver indícios de crime cometidos contra o consumidor, pode haver inclusive a desconsideração da personalidade jurídica dessa empresa e os sócios virem a responder com o seu patrimônio da pessoa física”.