NATAL TERÁ 100% DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO ATÉ 2022, PREVÊ CAERN


O mau cheiro é constante na frente da casa da feirante Márcia Pereira, 26, no bairro de Felipe Camarão, zona Oeste de Natal. Oriundo da lama escura que escorre na frente da sua casa, o odor torna a situação ainda se torna pior quando chove. É a água que emerge das residências sem qualquer tratamento e se mistura com todo tipo de resíduos que, porventura, se apareçam no caminho. 

Márcia e seus vizinhos fazem parte da metade da população natalense que não dispõe de esgotamento sanitário, mas que poderá contar com o serviço até 2022. Essa é a meta do Governo do Estado para completar as obras que permitirão atingir o índice de 100% do esgotamento sanitário da capital. 

“Sanear” é uma palavra que vem do latim e significa tornar saudável, higienizar e limpar, mas por enquanto, o cenário é diferente onde não existe um sistema completo de saneamento básico, que compreende a distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgoto, drenagem urbana e coleta de resíduos sólidos.

Na rua de Márcia falta o sistema de drenagem e o esgotamento sanitário, que ocasiona a lama que tanto a incomoda. Sem o serviço, parte da água que a família dela usa, escorre para a rua, apesar da casa possuir uma fossa séptica escavada no quintal para receber a água do vaso sanitário, assim como seus vizinhos fazem. 

Na casa da feirante moram cinco pessoas, três delas são crianças. Ela disse que acredita que muitos dos problemas de saúde que a família enfrenta têm relação com o esgoto a céu aberto. "Aqui aparecem muitos insetos, esse mau cheiro deixa a gente com dor de cabeça, aparecem muitos mosquitos e acho que a diarreia que os meninos têm às vezes é por conta disso. Já cheguei a pegar um germe no pé e a médica acha que pode ser disso porque pode ter fezes e urina de animais misturada à lama", declarou. 

A preocupação tem fundamento. Ambientes insalubres com destinação inadequada do esgoto e a falta de tratamento da água são focos de diversas doenças porque ajudam no desenvolvimento de organismos patogênicos. Entre as principais doenças estão diarreia, cólera, verminoses e arboviroses.

“Quase todo mundo aqui na rua teve dengue ou Chikungunya e deve ter sido porque a água acaba empoçando. Aqui aparecem insetos de todo tipo, sapos e ratos. Aqui passa água que se usa na cozinha, no banho, até animal morto a gente encontra nessa lama”, relatou a comerciante Rosa Ligia machado, 33 anos. 

Por todo o mundo, o saneamento básico é um privilégio da população mais rica e em Natal não é diferente. É nas periferias onde o problema se torna mais presente, como na zona Norte, onde apenas 3% da população tem acesso a um sistema de esgotamento sanitário, e na zona Oeste, onde Márcia e Rosa Lígia moram.

Curiosamente, é dessas áreas que partirá a solução para que Natal consiga universalizar o serviço. A Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) que está sendo construída no bairro do Guarapes, zona Oeste, está 17% concluída, mas segundo o diretor-presidente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), Roberto Linhares, a estrutura já começou a ganhar forma e a mostrar a grandiosidade do equipamento.

“É através desta ETE que esgotos da zona Oeste e Sul da cidade do Natal serão tratados. Quando entrar em operação, Natal terá o serviço de esgotamento sanitário universalizado”, frisou. A previsão deste empreendimento é para dezembro de 2022 com um investimento contratado de R$ 105 milhões. 

Antes disso, a ETE Jaguaribe, na zona Norte da cidade, que já está com a obra física 85% concluída, deverá cobrir quase metade dos moradores daquela área já no próximo ano.

“A região, que atualmente dispõe de apenas 3% de cobertura, passará em meados de 2021 para uma cobertura de aproximadamente 45% com a ativação do primeiro módulo. 

Já em 2022 com outros dois módulos, teremos 100% da população atendida”, declarou Linhares. O valor total contratado para esta ETE é de R$ 115 milhões