PREÇO DO TOMATE DISPARA NO INÍCIO DO ANO E REGISTRA ALTA SUPERIOR A 17%
A disparada no preço de alimentos como abacate, laranja, limão, peixe, café, tomate, azeite e óleo de soja tem gerado um impacto significativo no orçamento das famílias brasileiras. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam aumentos, com o abacate liderando as altas, acumulando 174,7% em 2024. O cenário é agravado por fatores climáticos, alta do dólar e oscilações na oferta. Consumidores buscam alternativas para driblar os preços elevados, enquanto especialistas alertam para o impacto no poder de compra da população.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE aponta que a inflação dos alimentos subiu 8,23% em 2024, no comparativo com o ano anterior, incluindo frutas e carnes. Entre os alimentos que tiveram maior aumento estão abacate (174,7%); laranja lima (91%); tangerina (74,2%); laranja pera (48,3%); peixe peroá (47,9%); café moído (39,6%); óleo de soja (29,2%); limão (28,3%); acém (25,2%); e alho (24,7%) fecham o “top 10” de itens que mais encareceram em 2024.
Ainda segundo o IPCA, em janeiro, os preços dos alimentos seguem em alta, com o tomate sendo um dos itens que mais pressionaram o bolso dos consumidores. Após uma safra abundante no segundo semestre de 2024, que havia reduzido os preços temporariamente, a oferta do produto diminuiu significativamente, resultando em um aumento de 17,12% apenas no primeiro mês do ano. A alta reflete um movimento sazonal, mas reforça a instabilidade nos preços dos alimentos, já que o tomate é um dos itens mais consumidos pelos brasileiros.
De acordo com o economista Helder Cavalcanti Vieira, diversos fatores explicam o aumento dos preços. “A grande questão que a gente tem hoje que é um fator predominante é o fator climático. Secas, enchentes e queimadas prejudicam toda a safra de produção de alimentos. O abacate, em especial, está numa entressafra prejudicada também por todos esses fatores práticos. Os demais são basicamente esses impactos, secas, enchentes”, destaca.
Ele também apontou o impacto da alta do dólar no custo da produção agrícola. “O dólar está presente em todos os insumos que compõem a produção agrícola, seja no combustível, seja nos implementos agrícolas e o processo próprio de importação. Então, como o mercado começa a procurar mais o mercado internacional, o preço interno sofre o impacto da lei da oferta e da procura. Consequentemente a venda e a elevação de preços”, completa.
Os consumidores têm sentido na pele os efeitos dessa inflação. Rose Ferreira, hoteleira de 50 anos, descreveu sua dificuldade em lidar com os aumentos. “Está tudo um absurdo. O tomate virou um artigo de luxo praticamente, o abacate então nem se fala, o café também está muito caro. Antes, eu conseguia comprar frutas à vontade, mas agora a gente tem que se programar mais, escolher só o essencial, aproveitar uma promoção. Até itens básicos estão pesando no bolso”, diz a comerciante.
Para aposentados, a situação é ainda mais desafiadora. Maírlon Tinôco, de 62 anos, relatou que os preços estão inviáveis para quem vive com renda fixa. “Os preços estão completamente fora da realidade. O tomate está impraticável. Até as frutas mais simples estão com preços absurdos. Hoje, a gente precisa calcular tudo com cuidado para não estourar o orçamento. Quem vive com renda de aposentado está sofrendo muito, porque não tem como absorver tantos aumentos”, lamenta o consumidor.
Nalva Dantas, vendedora autônoma de 57 anos, também destacou a dificuldade em equilibrar as contas diante dos preços elevados. “A gente vai ao mercado e sai com menos sacolas, mas a conta sempre é mais alta. Não tem jeito, a gente não vai comer dinheiro, então tem que comprar, não tem como. Não é que nem roupa que você pode esperar, usar outra, fazer um conserto. Com comida não é assim. O negócio é pesquisar, procurar uma promoção, um desconto, porque senão não tem salário que chegue”, afirmou.
Altas impactam famílias de menor renda
O impacto dessa escalada de preços reflete diretamente no poder aquisitivo das famílias. “Lamentavelmente, o poder aquisitivo das famílias é diminuído, retraído com essa elevação de preço. Um abacate com 174% de aumento torna inviável qualquer pessoa chegar a essa fruta. Isso vai aumentando as diferenças sociais e inviabilizando a vida daqueles que têm menor renda. A gente recomenda procurar substituir produtos que estejam em maior alta por aqueles que não estejam tão impactados e tentar passar por esse momento”, afirma o economista.
A expectativa de especialistas é que alguns preços possam recuar com o fim do período chuvoso e o ajuste na oferta de determinados produtos. Contudo, outros itens, como o café, devem manter os preços elevados devido a questões estruturais na cadeia produtiva. “É um cenário sazonal em muitos casos, mas precisamos de medidas que incentivem uma maior estabilidade nos preços dos alimentos”, alerta o economista.