O RISCO DE VOTAR EM BOLSONARO E ELEGER HADDAD
Com poucas exceções, os eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) são
anti-petistas. Boa parte deles afirma, inclusive, que o principal motivo para
votar no capitão reformado é que ele seria o único capaz de derrotar o PT.
É possível entender a ojeriza dessas pessoas ao PT, dada a
extensa rede de corrupção revelada pela Lava Jato e a grave crise econômica
gerada pelos equívocos do governo Dilma, e a despeito do bem sucedido programa
de distribuição de renda Bolsa Família.
O que é difícil de assimilar é de onde vem essa crença de
que Bolsonaro é o único capaz de derrotar o PT, quando as pesquisas eleitorais
mostram exatamente o contrário. Levantamento divulgado pelo Ibope nesta quarta-feira
(26) aponta que Bolsonaro perde para Fernando Haddad (PT) no segundo turno,
atingindo 38% das intenções de voto contra 42% do petistas.
Os apoiadores mais entusiasmados do deputado vão acusar as
pesquisas eleitorais de serem mentirosas, da mesma forma que dizem que a urna
eletrônica é uma fraude. Não há muito o que dizer a eles. Contra “religião”,
não há argumento que resista.
Mas voltemos aos números. Na noite desta sexta-feira
(28), o Datafolha divulgará novo levantamento que pode ou não confirmar essa
tendência. Na pesquisa anterior do instituto, Haddad empatava com Bolsonaro e
Marina Silva (Rede), mas perdia para Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Bolsonaro não vai bem no segundo turno, porque é o candidato
que possui a maior rejeição entre o eleitorado, que teme suas posições
machistas e homofóbicas, sua apologia ao porte de arma e à tortura, e sua
negação de que o Brasil viveu uma ditadura militar.
Não dá para negar, contudo, que o deputado é um fenômeno de
votos, provavelmente pelos mesmos motivos que é rejeitado. Bolsonaro representa
uma extrema direita que há muito tempo não se manifestava abertamente no Brasil
e que votava maciçamente no PSDB.
Essa extrema direita, que comunga dos mesmos valores do
deputado, todavia, tinha vergonha de admitir isso depois do trauma da ditadura.
Votava nos tucanos, porque eram o polo oposto ao PT, mas não porque se
identificava com o PSDB, um partido que sempre foi de centro esquerda.
É pouco provável, no entanto, que a extrema direita no
Brasil chegue a atingir os 28% de intenções de voto de Bolsonaro –quase
um terço do eleitorado. Pelo menos uma fatia desse pessoal está ali porque o
deputado lidera as pesquisas. Se é por isso, melhor tomar cuidado: podem votar
em Bolsonaro e acabar elegendo Haddad.