PASTORES, TEÓLOGOS E EVANGÉLICOS REPUDIAM BOLSONARO EM CARTA AO PAÍS
Mais de 2.300 religiosos –
pastores e teólogos evangélicos – assinaram a “Carta Pastoral à Nação
Brasileira”, em repúdio à tentativa da campanha de Bolsonaro de usar um grupo
“neo-pentecostal” e “manipular o nome de Deus” em sua campanha. A carta diz: “Cremos
num Deus grande o suficiente para não se deixar usar por formas anticristãs de
pensamento e de ação”. E acrescenta: "[afirmamos] Nossa indignação
contra toda pretensão de haver um governo exercido em nome de Deus, bem como
contra toda aspiração autoritária e antidemocrática".
A carta, publicada pelo jornal Hora do Povo, alerta para o uso
indevido e oportunista do 'nome de Deus' e da 'fé do povo' pela campanha do
ex-militar e pede para que os brasileiros usem a cidadania na hora do
voto.
Leia a íntegra da carta e os dez
primeiros nomes que a assinam:
Nós – pastores e pastoras, e líderes
evangélicos das mais diferentes tradições cristãs – vimos à nação brasileira,
neste conturbado contexto eleitoral, marcado por polarizações, extremismos e
violência, afirmar:
1. Nosso compromisso com o
Evangelho do Cristo, personificado na figura de Jesus de Nazaré, que,
suportando todo tipo de contradição, injustiça, humilhação e violência,
legou-nos o caminho do amor, da paz e da convivência; e promoveu a dignidade
humana. Sim, em Cristo, não há direita, nem esquerda, nem homem, nem mulher,
nem estrangeiro, nem rico, nem pobre. Também não há distinção de classe, de
cor, de nacionalidade ou de condição física, pois, nele, todos somos iguais (Fp
2.1,5-11; Jo 4; Mt 19.14; Is 53.4-7; Rm 10.12; Gl 3.23-29; Cl 3.11; Fp 2.5-8);
2. Nosso renovado compromisso
de orar não só pelo futuro mas, sobretudo, pelo presente do país, incluindo
seus governantes, neste momento em que o povo brasileiro é convidado a fazer
suas escolhas, de tal modo que elas sejam exercidas em paz e pela paz (1Tm 2.2;
Rm 13.1-7; Pv 28.9; Mt 7.7-8; Rm 8.26-27; Ef 6.18; 1Ts 5.17; 1Tm 2.1-2; Tg
5.16);
3. Nosso convite para que
todos os brasileiros e brasileiras exerçam sua cidadania, escolhendo seus
candidatos pelo alinhamento deles com os valores do Reino de Deus, evidenciados
na defesa dos mais pobres e dos menos favorecidos, na crítica a toda forma de
injustiça e violência, na denúncia das desigualdades econômicas e sociais, no
acolhimento aos vulneráveis, na tolerância com o diferente, no cuidado com os
encarcerados, na responsabilidade com a criação de Deus, e na promoção de ações
de justiça e de paz (Dt 16.19; Sl 82.2-5; Pv 29.2; 31.,9; Is 10.1-2; Jr
22.15-17; Am 8.3-7; Gn 2.15; Rm 8.18-25; Mt 5.6; 25.34-35; Lc 6.27-31; Tg 1.27;
2.6-7);
4. Nossa indignação contra
toda pretensão de haver um governo exercido em nome de Deus, bem como contra
toda aspiração autoritária e antidemocrática. Afirmamos nossa firme convicção
de que o nome de Deus não pode ser usado em vão, ainda mais para fins
políticos. Por isso, recomendamos, enfaticamente, que se desconfie de qualquer
tentativa de manipulação do nome de Deus (Ex 20.7);
5. Nosso repúdio a toda e
qualquer forma de instrumentalização da religião e dos espaços sagrados para
promoção de candidatos e partidarismos. Cremos num Deus grande o suficiente para
não se deixar usar por formas anticristãs de pensamento e de ação;
6. Nossa denúncia da
instrumentalização da piedade e da posição pastoral com objetivo de exercer uma
condução do voto. Reafirmamos a liberdade que o cidadão tem de optar por seus
candidatos, sem se sentir levado por sentimentos de medo e culpa,
frequentemente promovidos por profissionais da religião visando a manipulação
política de fiéis (Mt 7.15-20; Rm 16.17-18; 2 Pe 2.1-3; Jo 10.10a);
7. Nossa denúncia de toda e
qualquer forma de corrupção, desde aquelas que lesam os cofres públicos às
demais travestidas ora de opressão social, ora de conluios e conveniências com
a injustiça, com a impunidade e com os poderes estabelecidos (Dt 25.13-16; Pv
11.1; 20.10; 31.9; Is 10.1-2; Jr 22.15-17; Mq 6.11; 7.2-3; Lc 3.12-13);
8. Nossa certeza de que o
Reino não está circunscrito à Igreja e de que não pode ser capitaneado por
ninguém, seja qual for o cargo que exerça ou credencial que possua (Lc
17.20-21; At 10.34-35);
9. Nossa inconformidade com
o clima violento que tomou conta do país, o qual foi, também, muito alimentado
por lideranças religiosas que, ao invés de pacificarem o povo e abrandarem os
discursos, inflamam ainda mais o contexto polarizado em que vivemos (Mt 5.9;
11.29; Lc 6.27-31; Rm 12.19-21; Cl 3.12);
10. Nossa defesa do Estado
laico, da liberdade de consciência e de expressão, do direito à vida, à
maturidade individual e à integridade, e do pleno direito de exercermos a
liberdade religiosa (Jo 8.31-32,36; 2Co 3.17; Gl 5.1.13; Rm 6.22; Cl 1.13);
11. Nosso renovado
compromisso de semear perdão onde houver ofensa, amor onde houver ódio,
esperança onde houver desespero, luz onde houver trevas, verdade onde houver
mentira e união onde houver discórdia, manifestos no respeito e na contínua
intercessão a Deus pelo processo democrático brasileiro (Mt 5.9; 18.21-22; Lc
6.27-31; Jo 13.3-5; Rm 12.19-21; Gl 5.13);
12. Nossa união em defesa da
vida digna, em sua plenitude, para todas as pessoas, cujo exemplo e potencial
maior está em Jesus de Nazaré; e do amor, da paz e da justiça estabelecidos por
ele como valores para sua efetivação (Mt 11.29; Jo 10.10; 13.3-5,15; Rm 12.1-2;
Fp 2.5-8).
“A graça do Senhor Jesus Cristo,
e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” (2 Co
13.13)
Brasil, setembro de 2018.
Assinam:
1. LUIZ LONGUINI NETO. PASTOR DA
IGREJA PRESBITERIANA DO RIO COMPRIDO (IPB).
2. REV. CID PEREIRA CALDAS.
PASTOR DA IP BOTAFOGO – RIO DE JANEIRO. PRESIDENTE DO PRESBITÉRIO RIO DE
JANEIRO DA IPB. VICE-PRESIDENTE DO SÍNODO DO RIO DE JANEIRO DA IPB. SECRETÁRIO
DO CONSELHO DE CURADORES DO INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE. 1º SECRETÁRIO DO
CONSELHO DELIBERATIVO DO INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE.
3. SERGIO RICARDO GONÇALVES
DUSILEK. DOUTORANDO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. UFJF/MG. PASTOR BATISTA. IGREJA
BATISTA MARAPENDI. RIO DE JANEIRO-RJ
4. MAGALI DO NASCIMENTO CUNHA.
LEIGA METODISTA. JORNALISTA E DOUTORA EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. É
COLABORADORA DO CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS.
5. CLEMIR FERNANDES. DOUTOR EM
SOCIOLOGIA. ISER. RIO DE JANEIRO.
6. SANDRO XAVIER. DOUTOR.
LINGUISTA, TEÓLOGO E PASTOR. PRESBITERIANO. BRASÍLIA – DF
7. RICARDO LENGRUBER. DOUTOR EM
TEOLOGIA. IGREJA METODISTA. RIO DE JANEIRO.
8. PAULO LOCKMANN. PASTOR.
PROFESSOR. BIBLISTA. BISPO EMÉRITO DA IGREJA METODISTA. EX-PRESIDENTE DO
CONCÍLIO MUNDIAL METODISTA.
9. REV. CARLOS ALBERTO RODRIGUES
ALVES. PASTOR, JUIZ DE PAZ, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO. PASTOR ANGLICANO. IGREJA
ANGLICANA EM CURITIBA. CURITIBA
10. CARLOS CALDAS. DOUTOR EM
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PELA UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. PASTOR
PRESBITERIANO E PROFESSOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
DA PUC MINAS. PUC MINAS. BELO HORIZONTE
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