lÁ VEM lULA


De onde vem a força política de Lula?

São muitas as respostas possíveis.

Vem da própria história de superação do retirante que, chegado a Santos nos anos 1950, a bordo de um pau-de-arara, mudou-se com a família para São Paulo, fez curso no SENAI, trabalhou como operário, militou no movimento sindical, transformando-se no mais emblemático sindicalista do Brasil nos anos 1970-80, fundou um partido político (Partidos dos Trabalhadores – PT) que congregou sindicalistas, intelectuais e membros da igreja, tornou-se maior e mais representativo do que o partido, chegou a presidência da república, elegendo-se e reelegendo-se, fez o seu sucessor, no caso, sucessora e implodiu o partido e a si mesmo, abrindo espaço para a vitória, em 2018, de Jair Bolsonaro.

Vem da participação na luta pela redemocratização do Brasil, entre o final dos anos 1970 e toda a década de 1980, que encerrou-se na eleição direta para presidente da república, em 1989, quando ele perdeu, no segundo turno, para Fernando Collor de Mello.

Vem da atuação da atuação de professores e alunos nas universidades públicas (e mesmo privadas) Brasil afora, onde as esquerdas, de modo geral, e o PT, em particular, têm hegemonia.

E vem do governo por ele feito na primeira década deste século (2003-2010), quando penetrou nos redutos até então dominados pelas azeitadas máquinas do PMDB e PFL e aliados, praticando o fisiologismo e o clientelismo que denunciava nos anos em que esteve na oposição.

A força de Lula, como líder político de massas está atrelada à melhoria da renda das camadas populares. Os políticos ditos profissionais apostaram na derrocada de Lula, tragado pelos escândalos de corrupção de seu governo, e não atentaram para a melhoria de vida das camadas mais pobres da sociedade. E aí quebraram a cara.

Lula fortaleceu-se porque é nordestino, veio de baixo, conseguiu se fazer entender pelas massas e é bom palanqueiro, mas principalmente porque os mais pobres, que constituem a maioria da população, disseram, nele votando, que estavam melhor de vida. A melhoria, o tempo mostrou, não era sustentável, entretanto isso, por mais que seja apontado por vários estudiosos de economia, não entrou, ainda, no radar de quem sentiu, nos anos Lula, que vivia melhor. Afinal, é bom ressaltar, política é, também e principalmente, momento. E o momento dos pobres foi mais agradável com Lula do que com outros presidentes.              

A melhoria de vida dos mais pobres foi fruto de uma combinação de distribuição de renda com crescimento econômico, associada a medidas de cunho assistencialista como bolsa-família (pacote herdado de bolsas do período tucano), aumento do salário-mínimo, queda ou pequeno aumento do preço dos alimentos, entre outros.           

O PT errou no passado porque desprezou a força do Real – assim como o os partidos de oposição, durante os anos do PT, erraram ao apostar que, como o crescimento médio é ruim (e foi mesmo), os pobres iriam perder.

Sem dar bola para os casos de corrupção ocorridos no núcleo governamental, os mais pobres ainda embalam o sonho do retorno do líder petista. É como se a imagem de Lula estivesse desvinculada da do PT. Para se afastar do PT, o próprio PT se “remodelou”, excluindo a estrela vermelha.

Livre da cadeia e com a Lava Jato em xeque, muitos ainda embalam o sonho do retorno sebástico, em 2022.