CAI A OCUPAÇÃO DAS UTIS POR COVID-19 NOS ESTADOS BRASILEIROS


Pela primeira vez, desde julho de 2020, a taxa de ocupação de leitos de UTI Covid para adultos do SUS está abaixo dos 60% em todas as unidades federativas do Brasil. Os dados foram compilados pela Fiozruz e constam no Novo Boletim Observatório Covid-19, divulgado nesta sexta-feira (25).

Na legenda de acompanhamento, o Brasil está totalmente no "verde", o que siginifica que o nível de alerta é baixo para todos os estados e o Distrito Federal. É a primeira vez que isso ocorre, desde que a situação é monitorada pela Fiocruz. O Brasil já chegou a ter 25 estados e o DF no "vermelho", que é o nível crítico de alerta, durante a pandemia.

No Rio Grande do Norte, a taxa de ocupação aparece em 24%. O melhor cenário é no Amazonas, com 6%, enquanto que Sergipe, com 59%, tem a taxa mais alta do Brasil.  O Boletim é referente às Semanas Epidemiológicas (SE) 10 e 11 de 2022, que abrange o período de 6 a 19 de março. Os pesquisadores da Fiocruz atribuem o resultado ao avanço da vacinação no país.

A maior parte dos estados apresentou estabilidade dos indicadores de transmissão, com exceção de Rondônia e Acre, que tiveram redução significativa do número de casos e de óbitos, e do Amapá, Maranhão, Piauí, Paraíba, Bahia e Mato Grosso do Sul, que apresentaram uma diminuição no número de óbitos, mas manutenção do número de casos. As maiores taxas de incidência no período foram observadas em Rondônia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás. As maiores taxas de mortalidade por Covid-19 foram registradas no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás. 

A taxa de letalidade por Covid-19, isto é, a proporção de casos notificados que evoluíram para óbito, permaneceu em valores próximos a 1%. Ao longo de 2021, esses valores oscilavam entre 2% e 3%. Foram reduzidos para 0,2% no início de 2022 e, ao longo do mês de março, voltaram a aumentar para 1%. Ainda que discreto, o aumento da letalidade hospitalar entre adolescentes de 10 a 19 anos também é destacado pelos cientistas.

Nas Semanas Epidemiológicas 10 e 11, as SRAG seguiram em declínio no país. Entretanto, observa-se que a redução foi menos intensa quando comparada às semanas anteriores. Atualmente, a taxa de incidência de SRAG no país é de 2,3 casos por 100 mil habitantes.

Em termos de tendências observadas nos estados, a maioria mantém sinal de queda nas incidências de SRAG. No entanto, em Roraima, Sergipe, Espírito Santo e Distrito Federal indícios de aumento foram observados. 

Tocantins, Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro encontram-se em estabilidade e os demais estados em redução. Nas capitais, a tendência é de redução, porém menos acentuada. Em Boa Vista, Florianópolis, Fortaleza e Aracaju há tendência de alta. No Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Belém, Maceió e Porto Velho observa-se estabilidade e nas demais capitais constata-se declínio das respectivas incidências. Vale ressaltar, segundo dados do Boletim InfoGripe, que mesmo com estas tendências a maioria das macrorregiões de saúde ainda  se encontra em nível alto de transmissão.

As notificações SRAG referem-se a casos graves, com hospitalização e/ou óbito, por doenças respiratórias. As tendências recentes de diminuição de casos aparecem para todas as faixas etárias, com exceção de 0 a 4 e 5 a 11 anos, em que há presença de casos de SRAG por Covid-19, como também por outras doenças respiratórias. 

Pesquisadores: momento ainda exige atenção
Os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo Boletim, alertam, no entanto, que o momento ainda exige atenção nas ações de vigilância em saúde e cuidados. “É importante destacar que esta queda encontra-se acompanhada de taxas ainda significativas de [Síndrome Respiratória Aguda Grave] SRAG e incidência de mortalidade por Covid-19”. Eles atribuem esse resultado ao avanço da vacinação no país. Os dados atuais mostram 82% da população brasileira com a primeira dose, 74% com a vacinação completa e 34% vacinada com a dose de reforço. 

As análises que envolvem dados sobre internações e óbitos por SRAG e Covid-19 destacam grupos extremos da pirâmide etária. Por um lado, afirmam os pesquisadores, há os idosos que têm a idade como um fator de risco, o que reforça a necessidade de busca ativa daqueles que ainda não tomaram a terceira dose, assim como a aplicação da quarta dose da população elegível. Na outra ponta, crianças de 5 a 11 anos, em razão da baixa adesão dos seus responsáveis à vacinação. “É importante a vacinação contra a Covid-19 para crianças, assim como as demais vacinas do calendário infantil. A população em geral, também deve realizar o esquema completo de vacinação”, pontuam os cientistas.

Após destacar que a vacinação tem sido o grande motor para o arrefecimento de casos graves e fatais por Covid-19 no Brasil e no mundo, os pesquisadores pontuam que o controle da pandemia não está concentrado em uma única medida, mas numa série de providências e recomendações. Diante dessa constatação, reforçam que sob circunstâncias de intensa circulação de pessoas nas ruas, concomitante ao abandono do uso de máscaras, podem ser criadas situações que favoreçam uma maior circulação do vírus.

“Consideramos prudente a manutenção do uso de máscaras para determinados ambientes fechados, com grandes concentrações de pessoas (a exemplo dos transportes coletivos) ou abertos em que haja aglomerações”, recomendam. Como referência, o Boletim indica as Recomendações sobre o uso de máscaras no atual cenário epidemiológico – Quem, quando e qual máscara utilizar, documento elaborado pela Associação Médica de Infectologia. Entre os elegíveis estão os seguintes grupos populacionais: população mais vulneráveis, imunossuprimidos, pessoas com mais de 60 anos (principalmente com doenças crônicas) e gestantes.

Endemia
Os pesquisadores reforçam que o ponto de mudança da Covid-19, de pandemia para endemia, envolverá um conjunto de indicadores, sendo um deles o de letalidade. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) é destacada como a principal referência para esta definição. “Quando a ocorrência de formas graves que requerem internação for suficientemente pequena para gerar poucos óbitos, e não criar pressão sobre o sistema de saúde, será possível saber que se trata de uma doença para a qual se poderá assumir ações de médio e longo prazo sem precisar contar com estratégias de resposta imediata”, explicam os cientistas.