DUPLA DAS MANHÃS, CAFÉ E PÃO REGISTRAM ALTA DE PREÇOS


O café da manhã do potiguar, especialmente a dupla essencial pão e café, está mais cara em 2024. Segundo um levantamento publicado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na última sexta-feira (6), itens como o café em pó e o pão francês, presentes na cesta básica, registraram altas expressivas nos últimos 12 meses, afetando diretamente o bolso dos consumidores.


De acordo com a pesquisa realizada em novembro, o custo da cesta básica em Natal alcançou R$ 593,54, uma elevação de 3% em relação ao mês anterior. Na comparação anual, a alta foi de 4,63%. Entre os itens analisados, o pão francês subiu 4,29% no acumulado de 12 meses, enquanto o café em pó disparou 49,58%, se consolidando como um dos produtos de maior impacto na cesta básica.

De acordo com Ediran Teixeira, supervisor técnico do Dieese no RN, a alta do café está diretamente ligada a problemas climáticos enfrentados pelos principais países produtores, como Brasil, Vietnã e Colômbia. No Brasil, uma forte seca entre agosto e setembro deste ano afetou estados como Minas Gerais, São Paulo e Paraná, principais polos da produção de café.

“O preço sobe a nível mundial, o café é uma commodity. Disparou o preço não só no Brasil, mas como no mundo todo. A tendência é que ainda haja aumento no café. Dessa vez não só por conta de problemas climáticos, mas por conta de problemas a nível nacional. Talvez em dezembro feche uma variação ainda maior”, destaca. Na tabela publicada pelo Dieese, a média do preço do pacote de 300g em novembro de 2023 era R$9,42, enquanto no mesmo mês de 2024 saltou para R$14,09.

Enquanto o café dispara, o aumento do pão francês tem sido mais moderado, porém não deixa de ser observado pelos consumidores. “O Brasil importa boa parte do trigo utilizado na panificação, principalmente da Argentina. Apesar da alta de 4,29% no ano, esse aumento está dentro da média inflacionária e não está vinculado a nenhum crescimento exagerado de preço”, explica.

William Eufrásio, professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), acrescenta que os desafios econômicos enfrentados pela Argentina, como dificuldades nas políticas de exportação e inflação elevada, têm afetado a cadeia de abastecimento de trigo. “Esses fatores podem prolongar a tendência de alta nos preços, mas, no caso do pão, a elevação deve se estabilizar nos próximos meses”, afirma.

Além do trigo, custos adicionais, como energia elétrica e reajustes salariais no setor de panificação, também devem influenciar os preços em 2025. Diante desse cenário, o consumidor potiguar tem buscado alternativas para driblar os preços elevados.

Para o café, optar por marcas de menor renome ou estoques antigos pode ajudar a aliviar o peso no orçamento. “Uma estratégia é diversificar as marcas ou reduzir o consumo de outros bens, ajustando o orçamento familiar sem comprometer o essencial”, sugere Eufrásio. Quanto ao pão, o professor ressalta que a tendência de preços mais estáveis permite que as famílias mantenham o consumo sem grandes alterações.

Junto com o café e o pão, outros 7 itens da cesta básica registraram aumentos significativos nos últimos 12 meses: óleo de soja (26,23%), arroz agulhinha (23,03%), leite integral (15,82%), banana (11,78%), carne bovina de primeira (7,09%), açúcar refinado (5,32%) e manteiga (0,49%). Apenas o tomate (-12,83%), a farinha de trigo (-11,48%) e o feijão carioquinha (-1,51%) apresentaram redução.

Comprometimento da renda

O levantamento do Dieese também revela que, em novembro, o trabalhador remunerado pelo salário mínimo em Natal precisou trabalhar 92 horas e 29 minutos para adquirir a cesta básica, refletindo em um comprometimento de 45,44% na renda líquida, uma alta em relação aos 44,12% de outubro. No mesmo período de 2023, o percentual era de 43,43%, refletindo o aumento acumulado nos preços ao longo do ano.

Apesar das adversidades, Teixeira acredita que uma recuperação gradual na oferta de café e trigo pode ocorrer com a melhora nas condições climáticas e ajustes na cadeia produtiva. “Os agricultores estão se preparando para isso. Com a retomada das chuvas deve ser aumentado a área plantada e talvez ano que vem isso se resolva”, conclui o supervisor técnico do Dieese.