QUASE 30% DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS TÊM DÍVIDAS ATRASADAS, APONTA CNC


Ainadimplência segue em alta entre os brasileiros, com 29,4% das famílias reportando dívidas em atraso – o maior patamar desde outubro de 2023, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). O número de consumidores que afirmam não ter condições de quitar suas dívidas aumentou para 12,9% (em outubro, esse percentual era de 12,6% e, em novembro do ano passado, 12,5%).

A pesquisa Peic mostra ainda que o endividamento das famílias brasileiras cresceu em novembro de 2024, atingindo 77% dos lares. O índice mostra um leve aumento em comparação com o mesmo período do ano passado (76,6%). O levantamento, que também apontou um aumento nas contas em atraso, revela o impacto financeiro das festas de fim de ano e do uso intensivo de crédito, apesar de melhorias no mercado de trabalho e na organização das dívidas. O cartão de crédito é o principal motivador das dívidas e está presente em 83,8% das famílias endividadas.

Fabio Bentes, economista-chefe da CNC em exercício, explica que o aumento do endividamento está relacionado ao crescimento dos gastos com serviços, especialmente com apostas, algo que tem pressionado o orçamento das famílias. Ele alerta ainda que, com o aperto monetário e juros elevados, o mercado de trabalho pode não sustentar essa situação por muito tempo. “Esse aumento do endividamento e da inadimplência merece ser sempre considerado como um alerta”, reforça.

O economista acrescenta que esses elementos tornam o cenário contraditório. “Há uma dificuldade das famílias brasileiras em equilibrar o orçamento nos últimos meses. Vemos um avanço no percentual das famílias com contas em atraso, assim como daquelas que declararam não ter condições de pagar suas dívidas. E isso é curioso no momento em que o mercado de trabalho tem apresentado bons números, com uma taxa de desemprego baixíssima, abaixo de 6,5%”, observa.

Entre os consumidores, a realidade financeira é uma mistura de desafios e esperanças. Wagner Bento, estudante, confia em um 2025 com mais oportunidades para reverter o cenário de contas a pagar. “Realmente as dívidas são um problema. Infelizmente ainda não consegui me equilibrar, mas acredito que o primeiro passo é se programar. Estou estudando para passar em um concurso em 2025. Essa é a minha principal meta para conseguir sair do endividamento”, conta.

Já Julio Vieira, prospector de vendas, aponta as despesas de fim de ano como um dos fatores que agravam o endividamento. “No final de ano, a gente acaba tendo um gasto maior, com festas, presentes, e isso faz com que a gente se endivide mais. Estou nessa estatística, mas não podemos desanimar. Para mim, o principal é se controlar e cortar o que não é necessário. Só assim conseguimos ter uma vida equilibrada financeiramente”, afirma.

Tempo médio diminuiu


Outro aspecto destacado pela CNC é a redução do tempo de atraso no pagamento das dívidas. Apesar de um aumento geral no número de contas atrasadas, o tempo médio de inadimplência tem diminuído. Em novembro, o comprometimento médio da renda das famílias com dívidas caiu para 29,8%, evidenciando esforços de organização financeira. Isso se reflete também em uma maior flexibilização nos prazos, com 35,9% das dívidas agora sendo pagas em mais de um ano, o maior nível desde dezembro de 2021.

Por outro lado, a elevação dos juros continua como um grande desafio. Fabio Bentes alerta que, apesar de os consumidores demonstrarem maior controle, os altos custos de crédito, especialmente em modalidades como cartão de crédito e empréstimos pessoais, ainda impactam de forma significativa a economia doméstica. “Os juros elevados não apenas dificultam o pagamento das dívidas já existentes, mas também limitam o acesso a novos créditos, criando um ciclo desafiador”, aponta o economista.Quem
Dados da Pesquisa Peic (Novembro de 2024):77% de famílias endividadas: (aumento de 0,4 p.p. em relação a novembro de 2023)
29,4% das famílias apresentam dívidas atrasadas
12,9% das famílias afirmam não ter condições de pagar suas dívidas
29,8% da renda fica comprometida com dívidas (média)
83,8% dos pesquisados se endividaram com cartão de crédito

Fonte: Pesquisa CNC/Peic