Bispos são contra o projeto de irrigação da Chapada do Apodi

O projeto de irrigação da Chapada do Apodi, que irá desapropriar 13.855,13 hectares na região, voltou a causar polêmica no estado. Dessa vez foram os bispos da Igreja Católica que se posicionaram contra a obra. Em carta pública, o arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Matias Patrício de Macedo e mais três bispos se mostram descontentes com o projeto, que na opinião deles, irá prejudicar as famílias locais e o meio ambiente. O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) afirma que não há nada de errado com a obra e que as manifestações contrárias são fruto de desinformação.

"Após diálogo com as famílias na região, movimentos sociais, serviços e pastorais sociais da Igreja Católica, que há muitos anos atuam na Chapada do Apodi, compreendemos que a proposta de projeto defendida pelo Dnocs trará enormes prejuízos aos agricultores familiares ali residentes, pois terão de deixar suas casas e as terras, onde vivem há mais de um século, praticando agricultura baseada na agroecologia, para dar lugar a um grupo de empresas cujo modelo de produção baseia-se na monocultura e no uso intensivo de agrotóxico que, como sabemos, contamina a água, a terra e o ar, com consequências graves diretas na saúde das pessoas e no meio ambiente", opinam os bispos.

A Igreja se diz solidária aos agricultores da Chapada do Apodi e pede sensibilidade ao Governo Federal para revogar o decreto que prevê a desapropriação. Os bispos acreditam que a melhor saída é abrir um diálogo na construção de novo projeto com os recursos já disponibilizados no PAC. "Que seja capaz de integrar a Chapada e Vale do Apodi visando fortalecer a agricultura familiar camponesa de base agroecologica, incluindo todos os assentamentos que estão nesta região", salienta a carta sobre como deve ser o projeto.

Outro lado

Conforme o diretor geral do Dnocs, Elias Fernandes, alguns grupos estão sem informações claras de como é de fato o projeto, que já está licitado e contratado, com obras previstas para começar em fevereiro de 2012. "Fizemos seis reuniões com as pessoas envolvidas no projeto. Depois da última em Apodi não ficou nenhum questionamento", disse Elias. As audiências foram realizadas em Apodi, Natal e no Ministério da Integração. "Em nenhuma delas o Dnocs foi convencido que estava agindo incorretamente", reforçou.

Um das reclamações da carta dos bispos era a troca da agricultura familiar pela monocultura. Conforme Elias Fernandes, a obra é dividida em duas etapas, a primeira que usará cerca de 6.200 hectares, e a segunda que começará a funcionar quando a transposição do rio São Francisco chegar ao estado. "Do total de lotes, apenas cinco com 48 hectares cada, são destinados ao empresários, ou seja, cerca de 96% das terras são para o pequeno e médio produtor", alega. Elias aponta que os sete assentamentos ao redor do projeto são favoráveis a obra em razão do benefício da irrigação.

De acordo com o Dnocs, o agricultor poderá trocar o seu lote atual por um irrigado. Porém, o processo passa por uma avaliação de mercado e caso exista necessidade de algum pagamento por parte do agricultor, o projeto conta com o financiamento do Banco do Nordeste. "È que o valor de uma terra irrigada é diferente de outra sem esses equipamentos", aponta Elias. A previsão é que as desapropriações comecem em janeiro do próximo ano.