'A SOBERBA PRECEDE A QUEDA': HERDEIRA DO CASARÃO DA FAMÍLIA NÉO, PROFESSORA DE 90 ANOS CRITICA ALLYSON APÓS DESAPROPRIAÇÃO
A desapropriação do casarão vizinho ao Palácio da Resistência pela Prefeitura de Mossoró ganhou um novo e pesado capítulo. A herdeira do imóvel, a professora Maria Luiza Pinheiro Néo, divulgou uma carta endereçada ao prefeito Allyson Bezerra (União Brasil), em que mistura memórias da família Néo com duras críticas ao gestor.
O casarão, adquirido legalmente pelo patriarca Antônio Ferreira Néo, agricultor que prosperou no sertão e consolidou raízes na cidade, foi desapropriado pela Prefeitura pelo valor de R$ 1,3 milhão, cinco vezes menos do que a família alega que vale.
No texto, a professora resgata a história de seu sogro e do filho dele, o médico Dr. Leodécio Fernandes Néo, que trouxe para Mossoró o primeiro modelo de atendimento comunitário de saúde antes mesmo da criação do SUS, além de seu envolvimento com o movimento democrático em plena ditadura militar.
Mas é quando fala da desapropriação que a carta ganha tom mais duro:
“Hoje, minha família foi insultada e expulsa da casa em que criei filhos e netos com carinho, amor e proteção.”
Aos 90 anos, Maria Luiza denuncia que sua trajetória e a de seu esposo foram ignoradas pela atual gestão municipal. Em outro trecho de forte impacto, a professora conclui o documento com uma frase direta ao prefeito:
“A soberba precede a queda.”
A desapropriação do casarão, alvo de críticas pela família Néo, foi justificada pela Prefeitura como necessária para “garantir a preservação” do patrimônio. Mas, para a herdeira, a ação representa desrespeito não apenas à memória da família, mas também à própria história de Mossoró.
A herdeira do casarão ao lado do Palacio da Resistencia, desapropriado pela Prefeitura de Mossoró, pela justiça, divulgou carta ao prefeito Allyson Bezerra. A carta da Professora Maria Luiza Pinheiro Néo é pesada e relata um pouco da historia do casarão e da família Néo. O casarão foi desapropriado pela Prefeitura por 1,3 milhão, valor 5 vezes menos do que a família alega.
CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA:
O casarão, adquirido legalmente pelo patriarca Antônio Ferreira Néo, agricultor que prosperou no sertão e consolidou raízes na cidade, foi desapropriado pela Prefeitura pelo valor de R$ 1,3 milhão, cinco vezes menos do que a família alega que vale.
No texto, a professora resgata a história de seu sogro e do filho dele, o médico Dr. Leodécio Fernandes Néo, que trouxe para Mossoró o primeiro modelo de atendimento comunitário de saúde antes mesmo da criação do SUS, além de seu envolvimento com o movimento democrático em plena ditadura militar.
Mas é quando fala da desapropriação que a carta ganha tom mais duro:
“Hoje, minha família foi insultada e expulsa da casa em que criei filhos e netos com carinho, amor e proteção.”
Aos 90 anos, Maria Luiza denuncia que sua trajetória e a de seu esposo foram ignoradas pela atual gestão municipal. Em outro trecho de forte impacto, a professora conclui o documento com uma frase direta ao prefeito:
“A soberba precede a queda.”
A desapropriação do casarão, alvo de críticas pela família Néo, foi justificada pela Prefeitura como necessária para “garantir a preservação” do patrimônio. Mas, para a herdeira, a ação representa desrespeito não apenas à memória da família, mas também à própria história de Mossoró.
A herdeira do casarão ao lado do Palacio da Resistencia, desapropriado pela Prefeitura de Mossoró, pela justiça, divulgou carta ao prefeito Allyson Bezerra. A carta da Professora Maria Luiza Pinheiro Néo é pesada e relata um pouco da historia do casarão e da família Néo. O casarão foi desapropriado pela Prefeitura por 1,3 milhão, valor 5 vezes menos do que a família alega.
CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA:
Meu sogro, Antônio Ferreira Néo, homem simples e agricultor do sertão, iniciou sua trajetória cultivando cana-de-açúcar e produzindo rapadura, alfenim e cachaça, que transportava em tropas de jumento até o Mercado Público Central de Mossoró. Com esforço, trabalho árduo e fé, conquistou um pequeno espaço no mercado, transformando o suor da roça em sustento digno para sua família.
Com a industrialização e o auge do algodão, montou uma indústria de extração de óleo. Foi assim, com coragem e persistência, que adquiriu a casa da família na Avenida Alberto Maranhão, vizinha à Prefeitura. O imóvel, pago em 25 prestações de mil contos de réis — negócio avalizado pelo industrial Tertuliano Fernandes —, tornou-se não apenas moradia, mas também um marco da presença e contribuição da família Néo em Mossoró.
Com muito empenho, seu filho, Dr. Leodécio Fernandes Néo, formou-se em Medicina no Recife/PE. Após o falecimento de sua mãe, D. Thereza Néo, já com a família constituída, fomos viver na casa do Sr. Antônio.
É importante que as novas gerações conheçam: foi meu esposo quem trouxe para Mossoró, quando ainda não existia o SUS, o primeiro modelo de atendimento comunitário de saúde, numa época em que apenas trabalhadores com carteira assinada pelo INPS tinham acesso a médicos. Ao lado de colegas, fundou a Casa de Saúde e Maternidade Santa Luzia, destinada a atender os mais pobres. Mais tarde, como diretor do Plano Nacional de Saúde (PNS) — que pavimentou a criação do SUS —, lutou incansavelmente para garantir assistência aos mais necessitados.
Paralelamente, dedicou-se à vida pública. Em um período sombrio de repressão, foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Mesmo diante das ameaças do regime, percorremos juntos cada canto da cidade levando a mensagem de democracia, soberania e participação popular. Disputou a Prefeitura, enfrentando a força da ARENA e do regime militar. Ainda que derrotado nas urnas, sua candidatura tornou-se motivo de orgulho, pois simbolizou resistência em nome da liberdade. Como presidente do Instituto de Previdência Social (IPE), viabilizou recursos para a construção de moradias populares no sertão potiguar — as conhecidas “casas do IPE”, embrião do atual Minha Casa, Minha Vida, que ofereceram abrigo digno a inúmeras famílias.
Quanto a mim, dediquei minha vida à educação e à formação de gerações. Sou graduada em História e Geografia pela UFPE e fui uma das fundadoras do Curso de Geografia da então FUERN, instituição pela qual lutei para que fosse gratuita, pública e de qualidade. Como reconhecimento, a UERN batizou com o meu nome uma sala da FAFIC.
Também fui diretora da Escola Estadual Abel Coelho, transformando-a na primeira instituição de ensino técnico de Mossoró — e até hoje a única do RN a ter sediado o Governo do Estado. Ali também foi erguido um bloco que leva o meu nome, perpetuando a memória de uma gestão comprometida com a educação e o futuro das novas gerações.
Como gestora da merenda escolar, enfrentei períodos conturbados, como o da explosão da usina de Chernobyl, quando lobbies tentavam vender alimentos contaminados ao Brasil. Não me curvei. Lutei, denunciei, mobilizei contatos internacionais. Graças a essa resistência, Mossoró foi uma das poucas cidades brasileiras a não oferecer comida radioativa às suas crianças.
Eu e meu marido entregamos nossas vidas a esta cidade: à saúde, à educação, à moradia, à democracia e à dignidade dos mais pobres. Lutamos para que Mossoró fosse sempre um lugar de oportunidades, justiça e esperança.
Senhor Prefeito, ao completar 90 anos, recordo que eu e meu esposo lutamos para que meninos como o senhor tivessem acesso à educação, saúde e moradia. Lutamos para que a democracia — hoje tão ameaçada — fosse plena e participativa, e para que, em um Estado Democrático de Direito, todos os cidadãos tivessem suas prerrogativas respeitadas.
Hoje, minha família foi insultada e expulsa da casa em que criei filhos e netos com carinho, amor e proteção. Mas sigo firme na convicção de que minha luta não foi em vão. Pois, do alto dos meus 90 anos, aprendi uma lição que a história sempre confirma:
“A soberba precede a queda.”
Ass.
Professora Maria Luiza Pinheiro Néo
Ismael Sousa