FÉRIAS E VERÃO EXIGEM ATENÇÃO REDOBRADA COM A SAÚDE DAS CRIANÇAS
As férias escolares, combinadas com o calor intenso do verão, mudam a rotina das famílias e aumentam os riscos à saúde das crianças. Desidratação, afogamentos e alimentação desregulada estão entre os problemas mais comuns do período, exigindo atenção redobrada de pais e responsáveis, segundo especialistas.
Ana Luiza Braga, pediatra do HUOL-UFRN-Ebserh, explica que, durante o verão, aumentam os casos de doenças e acidentes envolvendo crianças. “As férias são um tempo precioso — e eu sempre digo aos pais que elas não são o problema. O risco está na quebra total da rotina, quando tudo fica liberado demais”, disse Ana Luiza Braga.
Mudanças na alimentação podem ser um dos grandes vilões das férias. “Aparecem mais beliscos, mais alimentos ultraprocessados e menos refeições organizadas. Quando esse padrão se prolonga, ele interfere no eixo de regulação da fome e da saciedade, dificultando que a criança reconheça sinais naturais de fome e saciedade”, revela.
A manutenção desses hábitos pode favorecer ganho excessivo de peso, aumentar o risco metabólico, como resistência à insulina, além de dificultar o retorno à rotina alimentar após as férias. “Oriento os pais a procurarem alimentos regionais e naturais, como frutas, refeições mais leves e horários minimamente organizados. Férias não significam bagunça total”, reforça a pediatra.
O sono também é afetado durante as férias. Dormir muito tarde e acordar sem horários regulares prejudica a liberação hormonal relacionada ao crescimento, ao metabolismo e à regulação do apetite.
Tempo excessivo de tela é outro ponto de atenção. “Isso interfere no sono, no apetite, no humor, no desenvolvimento e na autorregulação da criança. Muitas vezes chamamos isso de ‘liberdade’, mas, na prática, pode virar excesso disfarçado de liberdade”, destaca a pediatra.
No verão, as crianças brincam mais, suam mais e gastam mais energia, mas nem sempre bebem água suficiente, o que aumenta o risco de desidratação, conforme a especialista. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda observar sinais como aumento da sede, urina escura e boca seca.
“A água precisa estar sempre disponível. A criança não pode depender apenas da sede. Ter uma garrafinha por perto, oferecer líquidos com frequência e observar a urina — que deve estar clara e em boa quantidade — são cuidados essenciais”, orienta Ana Luiza Braga.
Em casos de desidratação ou insolação, os principais sinais de alerta são febre alta, fraqueza intensa, vômitos persistentes, dor de cabeça, confusão mental e desmaios. O cansaço e a falta de líquidos no organismo também elevam o risco de quedas.
Na prática, a preocupação com a segurança das crianças no verão já faz parte da rotina de quem frequenta as praias de Natal.
Diana Neves passeia com os dois filhos na praia: um bebê de 10 meses e uma criança de 3 anos. Ela conta que alguns cuidados são indispensáveis durante os dias de calor. “Hidratar bastante, né? Vindo para a praia, usar uma roupa térmica, protetor solar. Quando entra no mar, recebe o auxílio do adulto, com certeza. Sozinha, jamais”, relatou enquanto passeava com a família.
Girliane Quinto brinca com as duas filhas na praia de Ponta Negra e observa atentamente cada movimento. Ela conta que, dentro do mar, teme que as crianças caiam e se afoguem. “Correr dentro da água é o maior perigo porque eles não param”, disse, enquanto observava as meninas construírem castelos na areia.
Edinei Soares observa quatro crianças na praia e sabe da responsabilidade e atenção com os pequenos. “Tem que ter cuidado neles para não se perder. Principalmente aqui na praia. Aí tem que ter bastante cuidado com afogamento também”, explicou.
Rápido e silencioso
Em praias e piscinas, a atenção também deve fazer parte da rotina da família para evitar acidentes. “O afogamento é um acidente rápido e silencioso e está entre as principais causas de morte acidental na infância”, disse Braga.
A recomendação do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte (CBMRN) é que os responsáveis mantenham as crianças sempre respeitando uma distância segura equivalente a um braço de comprimento e com atenção constante.
De acordo com o aspirante Vidal, chefe do setor de mergulho do CBMRN, em situações de afogamento a orientação é que, ao perceber alguém em perigo, a população não coloque a própria vida em risco ao tentar entrar na água: “A primeira coisa que você deve fazer é procurar um guarda-vidas, ligar 193 e não entrar na água e acabar sendo uma nova vítima”.
A recomendação é jogar algo que a pessoa possa se segurar e flutuar, como uma boia, garrafa pet fechada e cheia de ar, uma bola de futebol, bola de vôlei ou tampa de caixa de isopor. O objetivo é manter a pessoa flutuando até que um guarda-vidas treinado e capacitado possa chegar ao local e retirá-la da água com segurança.
Outra recomendação do CBMRN é que as pessoas procurem os guarda-vidas logo ao chegar à praia. Seja por meio das rondas a pé, das viaturas ou dos postos fixos distribuídos em algumas praias, os profissionais estão preparados para orientar os banhistas.
Segundo o aspirante Vidal, as condições do mar variam de acordo com a maré, o que impacta diretamente no nível de risco. “A gente tem diferença quando a maré é seca e quando a maré é cheia. Quando a maré está mais cheia, as correntes, elas têm mais força. As ondas, elas são mais fortes e provocam o arrastamento das pessoas na água com maior facilidade”, destacou.
Os guarda-vidas sabem a localização de buracos, valas, correntes de retorno e áreas próximas a pedras submersas.
O aspirante também reforça a importância de respeitar a sinalização nas praias: “Se você ver uma bandeira vermelha na praia, ela simboliza alto risco de afogamento. Então, ali provavelmente vai ter uma vala, algum valão, que significa um buraco na areia, dentro do mar, que representa algum risco. Sempre que você ver uma bandeira vermelha, tome um banho longe desse ponto”.
Vidal também faz um alerta sobre a falsa sensação de segurança causada pelas boias de braço. “As pessoas conseguem comprar boias de braço em qualquer loja, no mercado, achando que elas trazem a sensação de segurança, mas elas não trazem. Então, o ideal, nesses casos, é que seja um colete salva-vidas homologado”.
Exposição ao sol deve ser regulada conforme a idade
A orientação da pediatra Ana Luiza Braga é que as crianças podem aproveitar o verão, mas sempre com proteção adequada à idade. “Sol em excesso não é apenas uma questão estética — está relacionado a queimaduras, insolação e aumento do risco de câncer de pele ao longo da vida”, alerta.
Bebês de 0 a 6 meses não devem ser expostos diretamente ao sol, e a proteção deve ser feita com barreiras físicas, como sombra, carrinho com capota, roupas leves e chapéu.
Crianças de 6 meses a 2 anos devem ter a exposição limitada, sempre fora do período de maior radiação, antes das 10h e após as 16h. “Usar protetor solar bebê, preferencialmente com filtros físicos (minerais) e FPS 30 ou maior, além de chapéu e sombra”, aconselha.
Crianças maiores de 2 anos podem usar protetor solar infantil, FPS 30 ou superior, reaplicado a cada duas horas ou sempre que entrarem na água.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta que queimaduras solares na infância aumentam o risco de câncer de pele na vida adulta, incluindo o melanoma. Já a Sociedade Brasileira de Oftalmologia recomenda o uso de óculos de sol com proteção UV para crianças de todas as idades, especialmente em ambientes como praia e piscina.
Cresce o número de acidentes domésticos
Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que os acidentes domésticos aumentam cerca de 25% durante as férias, justamente devido ao maior tempo livre das crianças e à quebra da rotina.
Atividades como bicicleta, skate e patinete exigem atenção redobrada, já que aumentam o risco de traumatismos. A orientação é optar por ambientes seguros, longe do trânsito, com piso regular e sem obstáculos. Em casa, a prevenção passa pela instalação de portões em escadas e barreiras de proteção ao redor de piscinas.
A supervisão deve ser compatível com a idade da criança, já que muitas lesões acontecem em poucos segundos, quando o adulto se afasta. “A palavra-chave é prevenção. As férias precisam vir acompanhadas de um ambiente seguro”, disse.
Outro ponto essencial é a prevenção de queimaduras: manter as crianças longe da cozinha e, ao cozinhar, posicionar os cabos das panelas voltados para dentro do fogão, além de deixar líquidos quentes fora do alcance.
De acordo com a médica, os brinquedos devem ser sempre adequados à faixa etária da criança, respeitando as recomendações do fabricante e as normas de segurança: “Verificar selo do Inmetro e evitar peças pequenas. Brincar junto também é cuidado”.
Ana Luiza Braga, pediatra do HUOL-UFRN-Ebserh, explica que, durante o verão, aumentam os casos de doenças e acidentes envolvendo crianças. “As férias são um tempo precioso — e eu sempre digo aos pais que elas não são o problema. O risco está na quebra total da rotina, quando tudo fica liberado demais”, disse Ana Luiza Braga.
Mudanças na alimentação podem ser um dos grandes vilões das férias. “Aparecem mais beliscos, mais alimentos ultraprocessados e menos refeições organizadas. Quando esse padrão se prolonga, ele interfere no eixo de regulação da fome e da saciedade, dificultando que a criança reconheça sinais naturais de fome e saciedade”, revela.
A manutenção desses hábitos pode favorecer ganho excessivo de peso, aumentar o risco metabólico, como resistência à insulina, além de dificultar o retorno à rotina alimentar após as férias. “Oriento os pais a procurarem alimentos regionais e naturais, como frutas, refeições mais leves e horários minimamente organizados. Férias não significam bagunça total”, reforça a pediatra.
O sono também é afetado durante as férias. Dormir muito tarde e acordar sem horários regulares prejudica a liberação hormonal relacionada ao crescimento, ao metabolismo e à regulação do apetite.
Tempo excessivo de tela é outro ponto de atenção. “Isso interfere no sono, no apetite, no humor, no desenvolvimento e na autorregulação da criança. Muitas vezes chamamos isso de ‘liberdade’, mas, na prática, pode virar excesso disfarçado de liberdade”, destaca a pediatra.
No verão, as crianças brincam mais, suam mais e gastam mais energia, mas nem sempre bebem água suficiente, o que aumenta o risco de desidratação, conforme a especialista. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda observar sinais como aumento da sede, urina escura e boca seca.
“A água precisa estar sempre disponível. A criança não pode depender apenas da sede. Ter uma garrafinha por perto, oferecer líquidos com frequência e observar a urina — que deve estar clara e em boa quantidade — são cuidados essenciais”, orienta Ana Luiza Braga.
Em casos de desidratação ou insolação, os principais sinais de alerta são febre alta, fraqueza intensa, vômitos persistentes, dor de cabeça, confusão mental e desmaios. O cansaço e a falta de líquidos no organismo também elevam o risco de quedas.
Na prática, a preocupação com a segurança das crianças no verão já faz parte da rotina de quem frequenta as praias de Natal.
Diana Neves passeia com os dois filhos na praia: um bebê de 10 meses e uma criança de 3 anos. Ela conta que alguns cuidados são indispensáveis durante os dias de calor. “Hidratar bastante, né? Vindo para a praia, usar uma roupa térmica, protetor solar. Quando entra no mar, recebe o auxílio do adulto, com certeza. Sozinha, jamais”, relatou enquanto passeava com a família.
Girliane Quinto brinca com as duas filhas na praia de Ponta Negra e observa atentamente cada movimento. Ela conta que, dentro do mar, teme que as crianças caiam e se afoguem. “Correr dentro da água é o maior perigo porque eles não param”, disse, enquanto observava as meninas construírem castelos na areia.
Edinei Soares observa quatro crianças na praia e sabe da responsabilidade e atenção com os pequenos. “Tem que ter cuidado neles para não se perder. Principalmente aqui na praia. Aí tem que ter bastante cuidado com afogamento também”, explicou.
Rápido e silencioso
Em praias e piscinas, a atenção também deve fazer parte da rotina da família para evitar acidentes. “O afogamento é um acidente rápido e silencioso e está entre as principais causas de morte acidental na infância”, disse Braga.
A recomendação do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte (CBMRN) é que os responsáveis mantenham as crianças sempre respeitando uma distância segura equivalente a um braço de comprimento e com atenção constante.
De acordo com o aspirante Vidal, chefe do setor de mergulho do CBMRN, em situações de afogamento a orientação é que, ao perceber alguém em perigo, a população não coloque a própria vida em risco ao tentar entrar na água: “A primeira coisa que você deve fazer é procurar um guarda-vidas, ligar 193 e não entrar na água e acabar sendo uma nova vítima”.
A recomendação é jogar algo que a pessoa possa se segurar e flutuar, como uma boia, garrafa pet fechada e cheia de ar, uma bola de futebol, bola de vôlei ou tampa de caixa de isopor. O objetivo é manter a pessoa flutuando até que um guarda-vidas treinado e capacitado possa chegar ao local e retirá-la da água com segurança.
Outra recomendação do CBMRN é que as pessoas procurem os guarda-vidas logo ao chegar à praia. Seja por meio das rondas a pé, das viaturas ou dos postos fixos distribuídos em algumas praias, os profissionais estão preparados para orientar os banhistas.
Segundo o aspirante Vidal, as condições do mar variam de acordo com a maré, o que impacta diretamente no nível de risco. “A gente tem diferença quando a maré é seca e quando a maré é cheia. Quando a maré está mais cheia, as correntes, elas têm mais força. As ondas, elas são mais fortes e provocam o arrastamento das pessoas na água com maior facilidade”, destacou.
Os guarda-vidas sabem a localização de buracos, valas, correntes de retorno e áreas próximas a pedras submersas.
O aspirante também reforça a importância de respeitar a sinalização nas praias: “Se você ver uma bandeira vermelha na praia, ela simboliza alto risco de afogamento. Então, ali provavelmente vai ter uma vala, algum valão, que significa um buraco na areia, dentro do mar, que representa algum risco. Sempre que você ver uma bandeira vermelha, tome um banho longe desse ponto”.
Vidal também faz um alerta sobre a falsa sensação de segurança causada pelas boias de braço. “As pessoas conseguem comprar boias de braço em qualquer loja, no mercado, achando que elas trazem a sensação de segurança, mas elas não trazem. Então, o ideal, nesses casos, é que seja um colete salva-vidas homologado”.
Exposição ao sol deve ser regulada conforme a idade
A orientação da pediatra Ana Luiza Braga é que as crianças podem aproveitar o verão, mas sempre com proteção adequada à idade. “Sol em excesso não é apenas uma questão estética — está relacionado a queimaduras, insolação e aumento do risco de câncer de pele ao longo da vida”, alerta.
Bebês de 0 a 6 meses não devem ser expostos diretamente ao sol, e a proteção deve ser feita com barreiras físicas, como sombra, carrinho com capota, roupas leves e chapéu.
Crianças de 6 meses a 2 anos devem ter a exposição limitada, sempre fora do período de maior radiação, antes das 10h e após as 16h. “Usar protetor solar bebê, preferencialmente com filtros físicos (minerais) e FPS 30 ou maior, além de chapéu e sombra”, aconselha.
Crianças maiores de 2 anos podem usar protetor solar infantil, FPS 30 ou superior, reaplicado a cada duas horas ou sempre que entrarem na água.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta que queimaduras solares na infância aumentam o risco de câncer de pele na vida adulta, incluindo o melanoma. Já a Sociedade Brasileira de Oftalmologia recomenda o uso de óculos de sol com proteção UV para crianças de todas as idades, especialmente em ambientes como praia e piscina.
Cresce o número de acidentes domésticos
Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que os acidentes domésticos aumentam cerca de 25% durante as férias, justamente devido ao maior tempo livre das crianças e à quebra da rotina.
Atividades como bicicleta, skate e patinete exigem atenção redobrada, já que aumentam o risco de traumatismos. A orientação é optar por ambientes seguros, longe do trânsito, com piso regular e sem obstáculos. Em casa, a prevenção passa pela instalação de portões em escadas e barreiras de proteção ao redor de piscinas.
A supervisão deve ser compatível com a idade da criança, já que muitas lesões acontecem em poucos segundos, quando o adulto se afasta. “A palavra-chave é prevenção. As férias precisam vir acompanhadas de um ambiente seguro”, disse.
Outro ponto essencial é a prevenção de queimaduras: manter as crianças longe da cozinha e, ao cozinhar, posicionar os cabos das panelas voltados para dentro do fogão, além de deixar líquidos quentes fora do alcance.
De acordo com a médica, os brinquedos devem ser sempre adequados à faixa etária da criança, respeitando as recomendações do fabricante e as normas de segurança: “Verificar selo do Inmetro e evitar peças pequenas. Brincar junto também é cuidado”.
