RETOMAR RELAÇÕES COM O MUNDO DOMINARÁ AGENDA DE LULA APÓS A POSSE


O presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva irá aproveitar a presença de quase 60 delegações estrangeiras para sua posse, no dia 1º de janeiro, para iniciar imediatamente um trabalho de recuperação do espaço do Brasil no cenário internacional. No dia seguinte à posse, o presidente destinará praticamente toda sua agenda para receber os presidentes, primeiros-ministros e monarcas que fizeram a viagem até Brasília.

Segundo a coluna apurou, já são cerca de 25 chefes de estado e de governo que estarão na posse, além de vice-presidentes e ministros.

Fontes próximas ao presidente confirmaram que Lula tem "pressa" no restabelecimento de uma nova relação com as principais potências, principalmente depois de quatro anos de uma política externa que isolou o Brasil. Para governos estrangeiros, o país passou a ser parte dos problemas, e não da solução de crises internacionais.

Também no dia 2 de janeiro, o embaixador Mauro Vieira assumirá a chancelaria e seu discurso é aguardado com especial atenção por parte da comunidade internacional.

Em seu primeiro dia efetivo de trabalho, Lula quer dar pelo menos três sinalizações aos líderes internacionais:A de que o Brasil adotará uma nova postura na agenda ambiental
Um apoio irrestrito ao fortalecimento do multilateralismo e na busca de um mundo multipolar.
A retomada do processo de integração regional. Não por acaso, a insistência de Lula de ter grande parte dos países da América do Sul em sua posse era nítida.

Para cada um dos representantes, Lula ainda apontará suas prioridades regionais.

No caso sul-americano, o presidente já empossado vai insistir na necessidade de que velhos mecanismos de integração sejam repensados e ampliados. Os temas terão de ir além do comércio, incluindo ainda a questão ambiental.

Com os europeus - principalmente Alemanha, Espanha e Portugal-, um dos principais temas será a retomada das negociações entre Mercosul e União Europeia, na busca de um entendimento. O tratado já foi fechado em 2019, depois de 20 anos de tratativas. Mas o pacto ficou abaixo do que os exportadores brasileiros esperavam.

Do lado europeu, há um entendimento de que, enquanto não houver um mecanismo real de controle ambiental no Brasil, dificilmente o tratado será ratificado pelos parlamentos nacionais do Velho Continente.

A agenda ainda com a Alemanha deve tratar dos temas ambientais e da retomada do Fundo da Amazônia. Berlim enviará não apenas seu chefe de governo, mas também a chefia da pasta de Meio Ambiente.

Um dos focos será ainda retomar a agenda africana do Brasil e aos países lusófonos. Aos chefes de estado e de governo de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, o tom será o de que o continente voltará a estar entre as prioridades do novo governo.

No documento produzido pela equipe de transição, a destruição da política externa brasileira ficou nítida.

"A combinação entre o desmonte de políticas públicas, em nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo, no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a capacidade brasileira de influir sobre temas da agenda global", disse.

"Ao assumir posturas negacionistas, o Brasil perdeu protagonismo em temas ambientais, desafiou esforços de combate à pandemia e promoveu visão dos direitos humanos inconsistente com sua ordem jurídica", constatou.