A DIREITA NATALENSE EM CHAMAS: ENTRE CONCHAVOS, TRAIÇÕES E O ROLÊ VERMELHO, ACERTAM TIRO NO PÉ E MATAM 3 COELHOS
Por: Wesley de Lima Caetano (“Geleia”)*
Natal vive um momento de fissura profunda no campo da direita, e quem ousar “olhar de novo” para a cena política percebe um quadro de dualidades, contradições e conspirações dignas de novela mexicana. O grupo do prefeito Paulinho Freire — que hoje detém a caneta e o comando da máquina municipal — não se sustenta por ideologia, mas por um projeto de poder que, a cada dia, se mostra mais instável e autofágico.
A engenharia da vitória de Paulinho
Não se pode esquecer: Paulinho não teria chegado à Prefeitura sem a mão pesada do ex-prefeito Álvaro Dias que, ao indicar Joana Guerra como vice e compor o projeto paulinhista, foi o grande fiador da vitória. Mas o custo desse arranjo já aparece na conta.Álvaro, Paulinho, Joana, além dos vereadores Irapuã Nóbrega e Daniel Rendall — ambos do partido Republicanos, partido de Álvaro — e ainda a ex-vereadora Margarete Régia (que foi prejudicada), assim como o ex-vereador Peixoto, acabaram engolidos pelos apadrinhados e favorecidos pela máquina pública, segundo apurações. Margarete, com postura altiva e combativa, chamou na responsabilidade e apresentou denúncia ao MPRN. Assim, respondem por abuso de poder econômico e uso da máquina pública, acusados de pressionar servidores durante o período eleitoral: Álvaro Dias, Paulinho Freire, Joana Guerra e os dois vereadores Daniel Rendall e Irapuã Nóbrega.Foi nesse jogo pesado que um candidato que mal passava de 4% nas pesquisas conseguiu se sentar na cadeira de prefeito. Como diz o ditado: onde dinheiro e surra não der jeito, é porque foi pouco.
Os compromissos firmados
Os compromissos firmados ali não ficaram apenas no plano municipal. Está em jogo a sucessão estadual de 2026, onde a direita disputa espaço entre três caciques:
Álvaro Dias, que busca se viabilizar mesmo com a sombra dos processos;
Allyson Bezerra, prefeito de Mossoró que surfa na onda populista, blindado por marketing enquanto pipocam denúncias de irregularidades em obras e licitações;
Rogério Marinho, senador que é a voz do bolsonarismo raiz no RN e o único com peso nacional.
Um tripé que mais parece uma mesa bamba.
O racha Paulinho x Ériko x Nina
Dentro do grupo natalense, o fogo amigo é explícito. O presidente da Câmara, Ériko Jácome, saiu da eleição de 2024 com pretensões de ser candidato a deputado federal; chegou a dar entrevistas e mobilizar suas bases nesse sentido. Mas no caminho havia Nina Souza — a primeira-dama da Prefeitura, secretária da SEMTAS e esposa de Paulinho — que, contrariando acordos internos, lançou-se com toda a sede ao mesmo cargo.
Nina não recuou um milímetro. Ériko pressionou e buscou se insurgir diante do iminente atropelo, mas, fragilizado, recuou para uma candidatura a deputado estadual. O problema é que os bastidores não perdoam: a disputa azedou de vez a relação entre os dois “cabeças” do grupo. Um episódio na Secretaria de Cultura, onde Midiany Avelino (esposa de Ériko) se desentendeu com Iracy Góis (braço-direito de Paulinho), foi o estopim: o “babado” foi forte e culminou na realocação da primeira-dama do Legislativo Municipal. Foi a gota d’água.
No jogo de poder, Paulinho mantém vereadores sob rédea curta, controlando cada voto com cargos, verbas e privilégios, retirando de Ériko qualquer condição de contrapor-se de forma direta e constituindo a legislatura mais contestável da história moderna natalense, pelo seu perfil subserviente. Isso cria uma perspectiva de fragilidade do poder perante o outro, na pessoa do prefeito Paulinho como arquiteto e dominador. Mas Nina cometeu um erro crasso: destinou, ainda como vereadora, R$ 25 mil para a própria secretaria que já sabia que iria comandar. Dinheiro público usado para pagar atrações artísticas em um evento privado da SEMTAS, o famoso Arraiá da SEMTAS, que aconteceu no restaurante Taíba de Carne, na Via Costeira. Pura autopromoção, à sombra da máquina. A denúncia apareceu em alguns blogs, mas logo foi abafada.
O rolê vermelho e a ironia do destino
Eis que surge a oportunidade perfeita para virar o jogo em favor da candidatura de Ériko — e, de quebra, dar uma resposta ao caso de sua esposa: as emendas da vereadora Brisa Bracchi, a petista que virou alvo preferencial da base governista. O cálculo foi simples: atacar Brisa significava, na prática, retirar a blindagem impositiva de Nina e ainda atingir Iracy de quebra já que a sua secretária é quem de fato tem responsabilidade no caso. Três coelhos em uma só cajadada.
O problema é que política não é só cálculo: é também desastre. O escândalo do “rolê vermelho” acabou exposto num momento singular, quando vereadores da base de Paulinho foram flagrados, por um microfone aberto, combinando falas e pré-julgamentos no processo contra Brisa. Para piorar, o vídeo oficial da sessão, publicado pela TV Câmara no YouTube, foi removido da plataforma digital e misteriosamente editado: retiraram os áudios comprometores. Depois recolocaram, já manipulado. Uma violação clara da legalidade, como escreve o advogado Davyson Moura em matéria anterior vinculada aqui no blog. Agora, com esse movimento tomado no calor do momento, a bomba respinga diretamente sobre o presidente Ériko Jácome.
Uma direita sem cola
O que se vê é uma direita natalense que não tem coesão, não tem lealdade e não tem projeto coletivo. É um amontoado de interesses individuais, costurados em acordos frágeis que logo se rompem. O contraste é evidente: enquanto partidos de esquerda — com todos os seus defeitos — ainda sustentam laços de pertencimento e identidade ideológica, a direita potiguar se guia por uma lógica de conveniência, barganha e traição.
E assim, o grupo que parecia sólido se corrói de dentro para fora. A fome de poder supera qualquer unidade, e cada movimento abre uma rachadura nova. O episódio atual é apenas a ponta do iceberg.
Conclusão: o preço da ganância
Ao fim, fica o alerta: a pseudo-direita artificial de Natal está cavando sua própria ruína. A ganância interna, o vale-tudo e as traições silenciosas corroem seus vínculos mais rápido do que a oposição poderia sonhar.Paulinho, talvez, ainda nem tenha percebido a dimensão maquiavélica do tabuleiro em que foi colocado. Mas, cedo ou tarde, vai descobrir que, na política, o inimigo mais perigoso quase nunca está no outro campo — está sentado à sua mesa.
Contudo, a esquerda, os partidos progressistas e todos os natalenses deverão aproveitar o momento desse tiro no pé e colocar o bloco na rua com força, solicitando uma CEI dos contratos culturais por emendas. Uma investigação do MPRN deve ser provocada e todos os natalenses devem se mobilizar e retomar as ruas para, exercer um papel de pressão como já foi feito anteriormente eu acho que é o caminho natural e que feliz ou infelizmente a turma do poder pelo poder não calculou ou até calculou demais esse momento.
*É gestor público, produtor cultural e empresário.
Por Blog do Barreto