ALUÍZIO ALVES, 104 ANOS: RELEMBRE A HISTÓRIA DO LÍDER QUE TRANSFORMOU O RN


Nesta segunda-feira, 11 de agosto, o Rio Grande do Norte celebra os 104 anos de nascimento de Aluízio Alves, uma das figuras mais importantes e influentes da política e do jornalismo potiguar. Fundador da TRIBUNA DO NORTE, ele marcou a história do Estado com atuação pioneira tanto na imprensa quanto na política.

Aluízio nasceu em Angicos, a 175 quilômetros de Natal, em 1921. Filho de Manuel Alves Filho e Maria Fernandes Alves, fez o curso primário, de 1926 a 1930, em Angicos, e os estudos secundários de 1933 a 1940, em Natal e Fortaleza. Ainda criança fundou o jornal O Clarim. “Desde muito cedo, ainda menino, despertara em mim o desejo de ser jornalista. Usando uma máquina de escrever da casa comercial do meu pai, editei, na cidade de Angicos, durante as férias de fim de ano de 1932, o jornal O Clarim”, escreveu na edição de 50 anos da TN.

Na política, Aluízio foi eleito deputado federal (1946-1951), sendo o mais jovem membro da Assembleia Constituinte de 1946. Em 1961, com uma campanha memorável ao criar novos símbolos, como lenços, galhos e a inseparável camisa verde, foi eleito governador do Rio Grande do Norte ao vencer as eleições com 121.076 votos.

Entre os feitos à frente do Estado, Aluízio foi o responsável por inaugurar a primeira etapa da linha de transmissão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), que trouxe energia elétrica para o Rio Grande do Norte. Em 1969, Aluízio teve o mandato cassado pelo AI-5, quando exercia o quinto mandato parlamentar (1967-1971), mas manteve influência política ao ingressar no MDB em 1970.

Na comunicação, em 1949, assumia o cargo de redator chefe do jornal, “Tribuna da Imprensa”, de propriedade de Carlos Lacerda, e em 1950, fundava esta TRIBUNA DO NORTE. Jornalista talentoso, combatente, escritor, orador fluente levantava o povo em praça pública, liderava passeatas pelas madrugadas adentro. Em 1958, escreveu “A recuperação do Nordeste”, propondo já então nova e moderna política de crédito rural, para substituir, como ele sempre combatera, as frentes de emergência contra os efeitos da seca.

Antes de deputado constituinte, Aluízio Alves foi diretor do Seras, no governo Rafael Fernandes, serviço de reeducação e assistência social e executivo da Legião Brasileira de Assistência – LBA. Construiu o Instituto Padre João Maria, para meninas pobres, que depois foi fechado em outro governo, onde funciona hoje o Corpo de Bombeiros; o abrigo Juiz Melo Matos, para meninos em situação de rua, também fechado posteriormente, e o abrigo Juvino Barreto, ainda funcionando.

Aluízio Alves faleceu em 6 de maio de 2006, vítima de uma isquemia cerebral.
 
Foto: Arquivo/TN

Memória Viva

Em 18 de julho de 1983, o ex-governador Aluízio Alves deu um depoimento ao programa Memória Viva, na TV Universitária. A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Woden Madruga, Alvamar Furtado, Ticiano Duarte e Affonso Laurentino. Confira abaixo alguns trechos da conversa:

A vida como jornalista

“Eu tenho em matéria de jornalismo, com o perdão da modéstia, um feito inédito: eu já fui diretor de um jornal de um só exemplar, e já fui diretor de um jornal com 200 mil exemplares. Um dia, não sei por que – até hoje não sei por que – resolvi fazer um jornal. O jornal tinha um exemplar. Eu escrevia o jornal no sábado e no domingo, à máquina. E aquele jornal na segunda-feira começava a circular de casa em casa na cidade. Era um exemplar só”.

“Chamava-se O Clarim. E fui depois diretor da Tribuna da Imprensa, que na fase que dirigimos, Carlos Lacerda e eu, tinha circulação de 120 mil, 130 mil exemplares, mas que no dia do atentado a Carlos Lacerda, no qual morreu Major Vaz, ele tirou 200 mil exemplares. E eu estava na direção. Carlos Lacerda estava ferido e eu assumi a direção do jornal. Então tenho esse feito inédito no jornalismo: dirigi um jornal de um só exemplar, com 11 anos de idade. E depois dirigi um jornal com 200 mil exemplares, no Rio de Janeiro.”

A personalidade sem neutralidade

“Apesar de ser um homem polêmico. Diante de mim, das minhas atitudes, raramente há uma neutralidade, sempre alguém está a favor, alguém está contra. É uma característica da minha vida, não escolhida por mim, mas por talvez pelos acontecimentos ou pelo meu temperamento.”

O deputado

“Tudo o que eu quis ser não consegui. E fui muitas outras coisas que eu nunca pensei em ser. Eu quis ser diretor da República, não consegui. Eu quis ser promotor público. Não consegui. Quis ser deputado estadual, também não consegui. Havia três candidatos da ala estudantil. Eram Zé Ariston, Zé Gonçalves e eu. Os dois queriam ser deputados federais e eu queria ser deputado estadual. Eu tinha apoio eleitoral, eles não tinham. A chapa estadual estava muito cheia. Houve a convenção estadual, na escolha da chapa e sobrou Agenor Lima, chefe político em Goianinha, que, em cima do palco, ao saber que sobrou, ameaçou romper com o partido. Imediatamente eu abri mão do meu lugar. Me procuraram Monsenhor Mata, Dinarte, Dix-sept. Foi muito engraçada a conversa. Disseram: ‘Você tinha uma eleição de deputado estadual certa. Para deputado federal nós devemos fazer quatro pela UDN'”.

“Você deve ficar em quinto. Mas serão eleitos Zé Augusto. Djalma. Pedro Amorim e cada um tira uma licença, vez por outra, e você assume”. E entrei para a chapa de deputado federal. Fomos para a campanha. Eles pensando que eu seria o quinto e que os outros quatro seriam eleitos. Terminando a campanha, a UDN não fez quatro. Fez dois. E os eleitos foram Zé Augusto e eu. E eu fui eleito sem esperar, nos últimos dias. Aos 23 anos de idade, o deputado mais moço da Assembleia Nacional Constituinte.” 
 
Tribuna do Norte