ESTADO PODERÁ PERDER QUILÔMETROS DE LITORAL


As projeções do IPCC estimam que, até atingir 72 centímetros em 2100, a costa do Rio Grande do Norte sofrerá um avanço de 10 centímetros em 2030 e 23 centímetros em meados do século. Em 2150, a perspectiva é de que o mar suba 1,27 metro. O geógrafo Marco Túlio Diniz, que também atua nos estudos de interações atmosfera-terra-oceano, classifica o movimento como “risco gravíssimo”.

“A gente não tem uma modelagem perfeita para isso no Rio Grande do Norte, mas com esse aumento de 72 centímetros, áreas urbanizadas mais baixas de Natal, como Areia Preta e Ponta Negra, que já têm uma série de obras de contenção para tentar segurar a erosão costeira teriam uma dificuldade ainda maior para manter essas estruturas”, comenta.

No entanto, segundo ele, o impacto teria maior magnitude em regiões banhadas pelos rios Piranhas/Assu e Apodi/Mossoró. “No Piranhas/Assu, se o mar avança um metro quer dizer que quilômetros de costa serão perdidos, talvez um ou dois quilômetros de litoral serão perdidos. Avançando 72 centímetros, as cidades serão invadidas na maré alta porque elas já estão a um ou dois metros do nível do mar. A atividade salineira do estado quase toda vai ser destruída porque ela é praticada basicamente no nível do mar. Se o mar subir um metro, os territórios de municípios como Macau, Porto do Mangue, Areia Branca, Grossos, Galinhos vão perder uma quantidade enorme de suas terras para o mar. O risco é gravíssimo”, acrescenta.

Outro fator que contribui para esse desequilíbrio é o aquecimento do mar em si, como explica o meteorologista Cristiano Prestelo, do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas (DCAC/UFRN). “Com a condição de temperatura da atmosfera mais elevada, a superfície do oceano também aquece. Todo corpo que aumenta sua temperatura, aumenta também o seu volume. Então, os oceanos mais quentes acabam dilatando mais os seus volumes, fazendo com que essas coisas juntas aumentem o nível do oceano”, diz.

O pesquisador Guilherme Longo, do Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL/UFRN) explica que a mudança no mar deverá provocar anomalias na circulação oceânica, além de gerar condições que favoreçam fenômenos naturais mais agressivos. “Vai mudar a biodiversidade. Tem peixes que migram de um canto para o outro porque mudou a física e, principalmente, porque a mudança causa eventos extremos mais intensos. Há dois anos nós tivemos aquela ressaca que pegou Caiçara do Norte. Essas ressacas em cenários de nível do mar maior podem ser, além de mais agressivas, mais frequentes. É bastante preocupante por isso, não só pela perda direta de área, mas pela frequência de ocorrência de eventos como tempestades, ressacas, enchentes”, diz.

Longo se refere ao episódio de destruição na cidade de Caiçara do Norte, litoral norte do estado, registrado em setembro passado. O mar avançou assustando moradores e derrubando parte da estrutura de dez imóveis. Em 2018, a água já havia invadido as ruas do município durante a maré alta. Em março deste ano, o Executivo local declarou situação de calamidade pública por causa dos estragos causados pela ressaca.