PRÉVIA DA INFLAÇÃO VAI A 1,3% E É A MAIOR PARA OUTUBRO DESDE 1995
Prévia da inflação oficial no mês, o IPCA-15 bateu em 1,2% em outubro - o pior resultado para o mês desde 1995 - e aumentou a pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que anuncia hoje a nova taxa básica de juros. A variação recorde dos preços levou o mercado a revisar novamente suas projeções, e as apostas agora são de aumento de até 2 pontos porcentuais para a Selic - que está em 6,25% ao ano.
No ano passado, o IPCA fechou com alta de 4,52%, acima da meta de 3,75% estabelecida para 2020. Mas a pressão inflacionária estava mais concentrada nos alimentos, que segundo o IPCA comprometem 21% do orçamento familiar e cujos preços subiram em média 14%, pressionando, principalmente, o orçamento doméstico de famílias de baixa renda.
Em 2021, ainda que os alimentos permaneçam com alta acumulada acima da inflação média, agora de 12,41%, os energéticos roubaram a cena e passaram a ser os vilões da inflação. A gasolina e a energia elétrica, segundo o IPCA-15, subiram, respectivamente, 40,44% e 30,02% nos últimos 12 meses. Com esses movimentos, os energéticos respondem por quase 45% da inflação acumulada em 12 meses, que está em 10,34%.
Segundo o IPCA, 13,5% do orçamento familiar é comprometido pelas despesas com combustíveis, energia elétrica e gás. Entre estes, a gasolina ocupa duas posições de destaque, a segunda maior alta acumulada em 12 meses (40,44%) e o maior peso no orçamento familiar (6,09%). Já o diesel, embora comprometa uma discreta fatia do orçamento familiar, 0,20%, possui grande capacidade de espalhar pressões inflacionárias. Ele compromete o preço do frete, da geração de energia e do transporte público.
O avanço no preço do barril de petróleo e a desvalorização cambial voltaram a impulsionar os preços dos combustíveis fósseis em outubro. Para as famílias de baixa renda, o gás de botijão, com alta de 35,18% em 12 meses, aparece como grande vilão.
Já a gasolina, afeta diretamente o orçamento de famílias com renda mais alta, o que faz a inflação ser percebida por todos os principais grupos sociais.
Diante de tais fontes de pressão inflacionária, o IPCA de 2021 deve fechar em 9,4%, com os energéticos dominando a cena da inflação deste ano. Para 2022, a estimativa é de que a inflação desacelere e os preços subam em média 4,4%, movidos pela expectativa de recuo expressivo da energia a partir de maio de 2022, quando finalmente há possibilidade da prática de bandeiras tarifárias menos onerosas.
Além da alta da inflação - que em 12 meses, segundo o IPCA-15, já está em 10,34%, muito acima do teto da meta definida para o ano (5,25%) -, as estimativas de bancos e consultorias também levam em conta o receio de uma piora das contas públicas. Isso seria resultado da tentativa do próprio governo de rever a regra do teto de gastos (que limita as despesas públicas à correção da inflação) para ampliar os desembolsos com programas sociais e emendas parlamentares em 2022, ano eleitoral.
"Temos uma tempestade perfeita composta pela forte deterioração do quadro fiscal e expressiva alta de preços. O BC terá de ter pulso firme, pois a política monetária está sozinha", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, que admite que sua previsão de alta de 1,25 ponto foi atropelada pelo IPCA-15.
Entre as casas que passaram a ver a possibilidade de alta de até 2 pontos, está a Asa Investments. "Não é só o fiscal, em paralelo estamos perdendo (o controle da) a inflação em velocidade bem superior ao que imaginávamos. Dado o contexto, entendemos ser difícil o BC não aumentar em 2 pontos", disse o seu economista-chefe, Gustavo Ribeiro.
O aumento dos juros terá impacto negativo na recuperação da economia e na geração de novos empregos. Como reflexo desse cenário, num dia de novos recordes das Bolsas nos EUA, o Ibovespa terminou com baixa de 2,11%, aos 106.419,53 pontos. Já o dólar teve valorização de 0,32%, cotado a R$ 5,57 - com variação acumulada no mês de 2,34%.
Nesta quarta-feira (27), os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, voltam a ter uma rodada de discussões para definir o novo patamar da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 6,25% ao ano. De 43 instituições ouvidas na segunda-feira pelo Projeções Broadcast, 18 esperavam alta de 1,50 ponto porcentual, para 7 75%, outras 18 de 1,25 ponto, para 7,50%, e sete ainda acreditavam em aumento de 1,00 ponto, passo adotado em setembro, para 7,25%.
Mas, diante do IPCA-15 de outubro acima do esperado, algumas casas já estão mudando de novo suas apostas, para um patamar mais elevado. No mercado de juros futuros, o prêmio embutido na curva se traduz em aumento na precificação de alta de 1,75 ponto porcentual (80%) da Selic, para 8,00%, nos cálculos da Greenbay Investimentos. Se confirmada qualquer uma das opções, será a sexta elevação consecutiva da taxa básica. Desde o fim de 2017, a Selic está abaixo desses patamares.