COMO ESPECIALISTAS DA USP CALCULARAM QUE HAVIA 185 MIL PESSOAS NO ATO DE BOLSONARO NA PAULISTA

O ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (25) na Avenida Paulista reuniu 185 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). A estimativa foi feita por tecnologia que representa uma novidade em relação aos métodos usados costumeiramente, como o feito pela Polícia Militar e por outras entidades.

Em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, nesta segunda-feira (26), Pablo Ortellado, professor de gestão de políticas públicas da USP, explicou o sistema de contagem usado agora:

📷 Drones tiram fotos na posição vertical; a divisão é feita por perímetro, podendo ser de um quarteirão inteiro ou de meio quarteirão.

🖥️ Um software excluí imagens sobrepostas, para não contar as mesmas pessoas duas vezes.

➕ Cria-se uma grande foto na horizontal, juntando todas as fotos verticais.

👥 Um software treinado para contar cabeças aponta uma estimativa do número de pessoas na imagem.

Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP), por exemplo, usa uma técnica que consiste na multiplicação da área da manifestação pelo chamado "coeficiente de ocupação" (concentração de pessoas). A pasta informa que, para estabelecer esse índice, usa imagens aéreas e observação de agentes em solo. "Com base no software Copom Online, o coeficiente é lançado e o cálculo das áreas ocupadas é feito automaticamente", diz a secretaria.

Na entrevista desta segunda, Ortellado afirmou: “A maior parte das estimativas que vemos ali, dos organizadores, elas são muito superestimadas e feitas mais ou menos no olho. O que estamos fazendo, há dois anos, é desenvolver a tecnologia para mensurar isso de uma maneira igual, que nos permita fazer comparações no tempo e [de maneira] razoavelmente precisa”.

O diferencial, explica o pesquisador, está justamente na utilização de um software treinado para reconhecer o número de pessoas em meio a multidões:

“Hoje, depois de treinarmos bastante o software, a nossa margem de erro está em 12%. Significa que, se estimarmos que foram 100 mil pessoas, um número [final fica] entre 88 mil e 112 mil”.

Entre as limitações do software, estão os obstáculos físicos para a contagem. "Por exemplo, não conseguimos contar quem está embaixo de uma copa de uma árvore. Tiramos a foto às 15h, e, se um grupo chegou às 15h30, não entrou na nossa contagem", diz o professor.

"Mas posso assegurar, com bastante convicção, que estabeleci um grau de grandeza, e ele não vai variar muito daquilo. Como fazemos isso reiteradamente com o mesmo método, estamos usando a mesma régua", afirma (leia mais abaixo nesta reportagem).

Segundo o estudo da USP, o pico de 185 mil ocorreu por volta das 15h, momento em que Bolsonaro subiu no carro de som. Às 17h, havia entre 45 mil e 30 mil pessoas.

O ato deste domingo foi convocado por Bolsonaro em meio a investigações nas quais ex-presidente é alvo por suspeita de participação numa tentativa de golpe de Estado para permanecer no poder após a eleição na qual foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022.

Maior precisão

Ortelladoo explicou que iniciou essa nova metodologia de contagem por precisar desses números como pesquisador. Segundo ele, os números apresentados até então eram superestimados.

"[Há] Uma cultura política que superestimou esses números durante muitos anos, não apenas para eventos políticos. Famos que teve não sei quantos milhões na Paulista na virada do ano, não sei quantos milhões no caminhão de som da Ivete Sangalo no Carnaval. São números muito inflados, que foram estimados no olho de maneira muito imprecisa e usando métodos muito grosseiros", diz.

Ele diz que a metodologia aplicada por agora é capaz, por exemplo, de comparar eventos realizados em um mesmo lugar.

"A nossa metodologia é muito mais precisa. E, como temos feito da mesma maneira várias vezes, conseguimos dizer com muita convicção que, por exemplo, ontem [domingo] na Paulista teve mais gente, bem mais gente, do que a gente teve no 7 de setembro de 2022 na Paulista", compara.

"Porque usamos a mesma maneira [para calcular]: são fotos feitas do mesmo jeito, no mesmo lugar, com a mesma iluminação, usando a mesma metodologia. Isso nos permite olhar a evolução dessas mobilizações como parâmetro comum."

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