ALTA DO CAFÉ TEM RELAÇÃO COM CLIMA E CUSTOS DE PRODUÇÃO; ENTENDA


De janeiro de 2024 até o momento atual, o preço médio do café de 250g aumentou R$ 9,80. No primeiro mês de 2024, a média do produto era R$ 7,73. Um ano depois, essa média subiu para R$ 17,53, um aumento de 126.78%. Essa alta do café tem relação com fatores climáticos, alta demanda internacional, custos de produção e economia brasileira, especialmente pela desvalorização do real, além dos impostos sobre os produtos.


De acordo com Elton Alves, gestor de cafeicultura do Sebrae/RN, o clima tem sido um dos principais fatores que afetam a produção do grão e, consequentemente, o preço ao consumidor. “O Brasil, maior produtor mundial, sofreu com secas intensas e altas temperaturas nas fases de floração, reduzindo a produtividade”, explica.

Desde 2021, as safras vem sendo afetadas por condições climáticas adversas, resultando em colheitas menores. Isso impacta diretamente o preço, já que a menor oferta, aliada a uma demanda elevada, eleva o valor do café. “Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) indicam que a indústria teve uma alta maior do que a registrada nos supermercados e ainda deve repassar parte desse aumento neste primeiro trimestre. Entre 2021 e 2024, o custo da matéria-prima subiu 224%”, pontua Alves.

Segundo a Embrapa, a produção nacional estimada para 2025 é de 51,81 milhões de sacas de 60 kg, uma queda de 4,4% em relação a 2024. Alves explica que esse declínio é decorrente da bienalidade negativa da cultura do café, além das altas temperaturas e da seca registrada no período de floração. “As previsões para fevereiro apontam chuvas abaixo da média e temperaturas acima do esperado, o que preocupa os cafeicultores. Apesar de alguma esperança trazida pelas chuvas recentes, as temperaturas nos próximos meses serão decisivas para garantir um produto de qualidade. O calor excessivo pode secar os grãos antes da colheita, comprometendo a safra 2025/26”, alerta.

Outro fator determinante para o preço do café é a cotação internacional do produto, que reflete na taxa de câmbio. “O Brasil exportou 3,97 milhões de sacas de café em janeiro de 2025, uma leve queda de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, a receita subiu quase 60%, atingindo US$ 1,3 bilhão. Ou seja, menos café foi exportado, mas por um valor muito maior”, destaca Alves.

Isso tem relação com o que o especialista já explicou: oferta menor somada a alta demanda, resulta na elevação do preço. Assim como Elton Alves, o economista Helder Cavalcanti também menciona esse fator. De acordo com Helder, essa é a lei da oferta e da procura. “Evidentemente, o preço, à medida que alguém oferece um valor maior, vai sempre levar o produto”, finalizou Helder.

Além disso, o custo da produção também aumentou devido a fatores como mão de obra, energia elétrica, combustíveis e embalagens, impactando diretamente o preço final. “O café arábica segue liderando as exportações, com 82,4% do total embarcado. No entanto, a exportação de café canéfora (robusta + conilon) caiu quase 29%, pois os grãos vietnamitas e indonésios estão mais competitivos em preço. Isso gerou um efeito cascata: menos café disponível, preços mais altos e mercado volátil”, explica.

A tendência é de preços elevados até pelo menos maio, quando a nova safra de conilon e robusta começa a ser colhida no Brasil. Alves ressalta que o estoque global de café atingiu o menor nível em 25 anos. “Na safra 2024/25, a produção aumentou 4,1% em relação ao ciclo anterior, mas o estoque final caiu 6,6%. Isso impacta diretamente as cotações internacionais, pressionando os preços”, esclarece.

Com o aumento da demanda global, especialmente nos Estados Unidos e na China, a pressão sobre o mercado se intensifica. “Nos últimos anos, o consumo chinês cresceu quase 150%. Em 2024/25, estima-se que alcance 6,3 milhões de sacas. Nos EUA, o setor movimentou mais de US$ 28 bilhões em 2024 e deve chegar a US$ 33,64 bilhões até 2029. Essa demanda crescente, aliada às condições climáticas adversas, reduz a oferta e impulsiona os preços”, explica Alves.

O gestor do Sebrae/RN também destaca o peso dos fertilizantes e combustíveis nos custos de produção. “A volatilidade no mercado de fertilizantes, impactada por tensões geopolíticas e flutuações cambiais, aumentou significativamente os custos para os produtores. O preço dos combustíveis também subiu, encarecendo o transporte e a logística”, afirma.

Apesar do alto volume de exportação, o consumo interno de café segue em crescimento. “Entre 2023 e 2024, o consumo de café torrado e moído no Brasil cresceu 1,1%, totalizando 21,9 milhões de sacas. O faturamento da indústria chegou a R$ 36,82 bilhões, um aumento de 60,85% em relação a 2023”, pontua Alves.

A previsão para os próximos meses é de estabilidade nos altos preços, podendo haver leves reduções dependendo das cotações internacionais e da safra global 2025/26. “Se tivermos uma safra muito superior à demanda, os estoques podem se recompor e os preços baixarem. Mas essa é uma perspectiva de longo prazo”, finaliza Alves.

Preço do café (250g)

Janeiro de 2024: R$ 7,73
Janeiro de 2025: R$ 17,53
Aumento: R$ 9,80
Variação percentual: 126,78%

Exportações brasileiras de café (janeiro de 2025):

Volume: 3,97 milhões de sacas
Queda em relação a janeiro de 2024: 1,6%
Receita: US$ 1,3 bilhão
Aumento da receita: 60%

Consumo interno de café no Brasil (2023-2024):

Crescimento: 1,1%
Total consumido: 21,9 milhões de sacas
Faturamento da indústria: R$ 36,82 bilhões
Aumento do faturamento: 60,85%