O PITBULL DA FAMÍLIA BOLSONARO



Na liderança até o momento da corrida presidencial, o clã Bolsonaro ensaia uma dobradinha no discurso e nas redes sociais. Enquanto o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, trabalha para amenizar seu discurso, procurando ampliar seu eleitorado, seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, faz o caminho contrário: radicaliza as suas palavras como forma de manter a parcela cativa de extrema direita que os garantiu no jogo da sucessão, pelo menos até aqui. Seguindo as orientações de seus conselheiros, Jair Bolsonaro tem procurado fugir de temas polêmicos. E reserva cada vez mais espaço para seu filho atacar os opositores sem dó e papas na língua.
Parece haver um jogo combinado entre pai e filho, ambos deputados. Ditado pela conveniência de cada um no próximo pleito. Com uma pretensão menor, Eduardo (PSL-SP) se apresenta como herdeiro encarregado de manter o eleitorado cativo de extrema-direta dos Bolsonaro atraído pela promessa de tolerância zero oferecida. Por isso, a postura dele vai se mostrando mais radical à medida que se desenrola a campanha. De acordo com um assessor de um deputado que trabalha vizinho ao seu gabinete, no Anexo 3 da Câmara, Eduardo já entendeu que quem precisa “amadurecer”, leia-se pegar mais leve, é o pai. Não ele, que tentará apenas a reeleição, cuja quantidade de votos necessários é menor que a do pai. “O Jair tem conversado muito com representantes do Exército, que o aconselham a ser menos radical”, revelou esse assessor.
Estratégia de guerra
Ciente da sua missão, Eduardo não nega fogo. Na quarta-feira 6 de junho, enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), destacava o bicentenário de Karl Marx e sua influência no mundo, Eduardo Bolsonaro tentou desqualificar o filósofo. Com um livro de Olavo de Carvalho na mão, ele fez referência a um trecho da obra, dizendo que “o socialismo matou mais de 100 milhões de dissidentes”. Em seguida, alfinetou o próprio Rodrigo Maia, conterrâneo do seu pai: “Estamos em uma sessão que homenageia o maior genocida do planeta Terra”. Karl Marx foi o ideólogo do comunismo, mas não foi responsável por nenhum governo socialista. Ele morreu em 1883, 34 anos antes da revolução comunista na Rússia.
Eduardo Bolsonaro (PSC) não é só um político que fala para as galerias. Adepto da liberação de porte de armas para todos os brasileiros, ele apareceu armado numa manifestação na Avenida Paulista de apoio ao impeachment de Dilma Rousseff. Depois justificou o porte por ser da Polícia Federal. O filho de Jair Bolsonaro é escrivão da PF.
O principal exemplo da dobradinha Jair/Eduardo Bolsonaro deu-se após o assassinato no Rio de Janeiro da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Jair Bolsonaro evitou tecer comentários. Refugiou-se no silêncio não só no calor dos acontecimentos, como, até agora, não se posicionou. Já Eduardo Bolsonaro não teve qualquer pudor. Atacou Marielle e seu partido: “Se você morrer, seus assassinos serão tratados por suspeitos, salvo se você for do PSOL: aí você coloca a culpa em quem você quiser, inclusive na PM”.
Na verdade, no momento em que Jair Bolsonaro se recolhe, Eduardo Bolsonaro segue a estratégia que ao longo da carreira de deputado botou seu pai em evidência: apostar na polêmica. No meio policial, é conhecida em interrogatórios a estratégia do “tira bom e tira mau”. Jair e Eduardo Bolsonaro parecem ter levado o lema para o campo da política: inventaram o “político bom e o político mau”.

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