À ESPERA DE BOLSONARO, GOVERNO PROTELA DECISÕES
A hospitalização duradoura de Jair Bolsonaro deixa inquietos
alguns dos seus ministros e auxiliares. Decisões governamentais estratégicas
vêm sendo postergadas à espera da recuperação clínica do presidente.
Estimava-se que o paciente receberia alta nesta semana, entre quarta e
quinta-feira. Mas os imprevistos aviltaram as previsões. Depois do
diagnóstico de pneumonia, os médicos evitaram fixar uma nova data para a
liberação de Bolsonaro.
Há no Planalto uma pilha de interrogações. Por exemplo: qual
será a prioridade legislativa do governo no Congresso, o pacote anticrime de
Sergio Moro ou a reforma da Previdência de Paulo Guedes? Em fase final de
retoques, o embrulho do Ministério da Justiça deve ser remetido imediatamente
ao Congresso ou será necessário esperar por Bolsonaro? Na mexida
previdenciária, haverá uma única idade mínima para a aposentadoria ou a regra
deve ser menos draconiana para as mulheres?
Do ponto de vista formal, Bolsonaro reassumiu a Presidência
da República em 30 de janeiro, apenas 48 horas depois de se submeter à cirurgia
para retirada de uma bolsa de colostomia. Na prática, o paciente não recebeu
nenhum ministro no gabinete improvisado para ele no hospital Albert Einstein. Nem
receberá, pois os médicos restringiram as visitas.
Enquanto a palavra final de Bolsonaro não chega, ministros e
aliados vão batendo cabeça. No momento, a questão mais candente está
relacionada à ordem dos projetos na fila de tramitação do Congresso.
Uma ala defende que o pacote de Moro seja votado em primeiro
lugar, como uma espécie de teste. As medidas propostas pelo ex-juiz da Lava
Jato constam de projeto de lei, cuja aprovação seria, em tese, mais fácil do
que a mexida na Previdência. Outro grupo avalia que não se deve gastar energias
com outros temas enquanto a Previdência não for reformada.
No fundo, o debate esconde uma debilidade maior do que a
incapacidade do governo de decidir: a falta de votos. Num governo que dispõe de
maioria inquestionável nos plenários da Câmara e do Senado, a ordem de
prioridades não altera o produto das votações.