GUEDES DESISTE DE IR A AUDIÊNCIA NA CÂMARA SOBRE REFORMA DA PREVIDÊNCIA


O ministro Paulo Guedes (Economia) desistiu de ir ao Congresso nesta terça-feira (26) para defender a reforma da Previdência.

Ele foi convidado a participar de uma reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, primeira etapa para aprovar a proposta.

Descontentes com o governo, líderes de partidos independentes ao presidente Jair Bolsonaro articulavam um boicote ao debate com o ministro.

“É melhor nem vir mesmo. Já tínhamos sugerido isso na semana passada”, disse à Folha o líder do PP, Arthur Lira (AL).

Outras lideranças, como o PSDB e PR, também comemoraram, nos bastidores, o cancelamento da participação de Guedes.

Essas siglas, que não fazem parte da base de apoio ao governo, reclamam da falta de articulação política e diálogo entre o Congresso e o Palácio do Planalto.

O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, deve substituir o ministro na reunião da CCJ.

Sem Guedes, o encontro poderá até mesmo ser cancelado.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que o objetivo era escutar do ministro os argumentos para se aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que endurece as regras de aposentadoria (veja o que muda para quem já está aposentado).

Molon havia apresentado um requerimento para convocar Guedes. Aliados do governo conseguiram que fosse aprovado apenas um convite ao ministro da Economia, ou seja, ele não é obrigado a participar da audiência.

Mas Molon agora quer cancelar a reunião da CCJ prevista para a tarde desta terça. “Se ele não vem, não tem sessão.”

Após a desistência, o PSOL também protocolou um requerimento de convocação do ministro, que, se aprovado, o obriga a comparecer à CCJ. 

Porém, o centrão deve derrubar a votação. A ideia é preservar o ministro da Economia, e deixar que o desgaste pela falta de articulação da reforma recaia todo sobre o Planalto.
Guedes foi orientado pela equipe política do governo a esperar pela indicação do relator na CCJ.

Em nota, a assessoria do Ministério da Economia afirmou que a equipe técnica e jurídica da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho pretende representar a pasta na comissão da Câmara nesta terça. "A ida do ministro da Economia à CCJ será mais produtiva a partir da definição do relator", diz a assessoria.

 Em 2018, Paulo Guedes tornou-se guru econômico do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Por ter todas as respostas para a economia em um eventual governo do presidenciável, Guedes ganhou o apelido de 'Posto Ipiranga' Sergio Moraes/Reuters

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Os auxiliares do presidente acreditam que, sem isso, não há clima para as explicações do ministro.

Diante da insurreição de líderes contra o Palácio do Planalto, a reforma da Previdência –e o próprio ministro– poderiam ser alvo de muitas críticas.

Por isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu, a aliados, que Guedes não participasse do debate na Comissão de Constituição e Justiça.

A ideia é adiar a participação de Guedes para a semana que vem, quando acreditam que haverá um relator indicado.

O presidente da CCJ está em deslocamento para Brasília e Guedes em encontro com governadores.

Deputados aguardam a ida de Guedes à CCJ para que o relator seja indicado.

Líderes de partidos irritados com o governo devem realizar nesta terça um ato público na Câmara para declarar posição contrária a pontos da PEC, como as mudanças no BPC (benefício pago a idosos carentes) e na aposentadoria rural.