EX-DELEGADO IRONIZA MP E DIZ QUE POLÍCIA HOJE É CAÇADA POR MARGINAIS
O ex-delegado Paulo Liclarian, com 30 anos de serviços na Polícia Civil do Rio Grande do Norte, ironizou a recomendação do Ministério Público do Estado, que recomendou à 6ª Delegacia de Polícia de Natal, localizada no bairro Pajuçara, zona Norte, que transfira em cinco dias úteis, contados da última quinta-feira, 22, todos os inquéritos policiais em aberto junto à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
“É muito fácil você sentar numa cadeira e estar cobrando. O Ministério Público tem todas as condições, lá todo mundo ganha muito bem, salários de R$ 30 mil e de vez sem falar nos penduricalhos que chegam a R$ 100, R$ 200 mil. Já a Polícia não tem nada disso. Vá lá na 6ª DP (que já foi arrombada várias vezes) que você não vai encontrar uma cadeira para sentar”.
E acrescentou: “Podem mandar 500 ofícios; ali só tem um delegado e dois agentes para investigar. Como você vai sair da delegacia com um agente dirigindo…e o outro?”.
Liclarian ainda deu um conselho aos policiais: “Façam o seu feijão com arroz, façam o que a lei manda. Se você (delegado) tiver só dois policiais na delegacia, não saia. Tranque a delegacia”.
Segundo o documento assinado pelo promotor de Justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra, da 19ª Promotoria de Justiça de Natal, e publicado na última quinta-feira, 22, no Diário Oficial do Estado, cerca de 400 inquéritos antigos, alguns datados de janeiro de 2010 e que vão até setembro de 2018, estão parados e “sem perspectiva de conclusão”.
Desse total, acrescenta a recomendação do MP, 218 desses inquéritos correspondem a mortes violentas ou tentativa de homicídios.
Além de sugerir que os casos sejam repassados à DHPP, o promotor também orientou que a 6ª DP foque as investigações em crimes hediondos para “evitar a prescrição da pretensão punitiva…”
Em entrevista ao “Patrulha Agora” da 97,9 FM, Liclarian afirmou que há atualmente uma inversão de papeis. “Hoje, ao contrário de antigamente, a polícia não caça os marginais, é caçada por ela. Quem manda hoje são as facções, que aproveitaram o recuo do Estado para assumir a sua posição”, afirmou.