FRITURA DE MORO PODE LEVAR BOLSONARO À INDIGESTÃO

Pesquisa MDA/CNT revela:  51% dos brasileiros avaliam que a Lava Jato está beneficiando o Brasil. Para 68,3%, as revelações contidas nas mensagens trocadas por Sergio Moro e procuradores da força-tarefa de Curitiba no escurinho do Telegram não podem resultar na soltura de condenados. Na opinião de 52%, o ex-juiz não deve deixar o posto de ministro da Justiça. É contra esse pano de fundo que Jair Bolsonaro submete Moro a um processo de fritura.
A mesma pesquisa informa que o desempenho pessoal de Bolsonaro na Presidência é reprovado por 53,7% do eleitorado. A seis meses, o índice de reprovação era de 28,2%. O presidente consegue cultivar imagem pior que a de sua administração. O governo é reprovado por 39,5% dos brasileiros. Para complicar, Bolsonaro começa a ser visto como parte de um cerco à Lava Jato.
A investida contra a operação envolve um pedaço do Congresso e uma ala do Supremo. A novidade é que esses dois grupos passaram a enxergar Bolsonaro como aliado no esforço para acender o forno e assar a grande pizza. Essa sensação é reforçada pela presença de Moro na frigideira.
O esforço anticorrupção recebeu várias pauladas nas últimas semanas. No Supremo, Dias Toffoli suspendeu os processos com dados do Coaf, incluindo o inquérito contra Flavio Bolsonaro. Alexandre de Moraes suspendeu investigação da receita contra 133 contribuintes, entre eles as mulheres de Toffoli, Roberta, e de Gilmar Mendes, Guimar.
No Congresso, os deputados concluíram a aprovação da Lei de Abuso de Autoridade, votada no Senado em 2017. No Executivo, afora o esvaziamento de Moro, houve o desmonte do Coaf e as incursões de Bolsonaro na Receita e na Polícia Federal. Tudo isso sob aplausos da oligarquia política e empresarial que sonhava com o dia em que a Lava Jato se tornaria um assunto chato, momento ideal para dar o troco.
Após trocar 22 anos de magistratura por uma poltrona na Esplanada, Moro descobre da pior maneira que ser político sob Bolsonaro é respirar o ar do Executivo e não sentir o aroma de óleo quente; é acreditar no diálogo em que o poderoso fala e ele escuta; é suportar humilhações diárias; é flexionar a espinha em longas prostrações, à espera de um improvável minuto de atenção; é engolir sapos sem ter indigestão.
Avalia-se ao redor de Moro que a decisão de Bolsonaro sobre o projeto de lei que pune abuso de autoridade será o derradeiro teste para a capacidade do ex-juiz de, no meio das mais inaceitáveis desonras, encontrar sempre inacreditáveis saídas honrosas. Se Bolsonaro não aceitar suas sugestões de veto, Moro finalmente daria no pé, tornando-se um adversário instantâneo do ex-chefe. Nessa hipótese, se os dados da pesquisa estiverem corretos, a fritura de Moro pode resultar numa indigestão do mestre-cuca.
JOSIAS DE SOUZA