NÚMEROS SÃO EXPLÍCITOS: REJEIÇÃO A BOLSONARO E GOVERNO DISPARA ENTRE POBRES

O presidente Jair Bolsonaro decidiu, tudo indica, reiterar em iniciativas que têm sido malvistas dentro e fora do país. E vai colhendo índices recordes de rejeição para um governante nessa fase de mandato. Pesquisa CNT/MDA divulgada nesta segunda feira, com dados colhidos entre os dias 22 e 25, com margem de erro de 2,2 pontos para mais ou para menos, traz números péssimos para ele. Mandatários com um perfil, vamos dizer, mais convencional se preocupariam. Ele está como uma personagem de uma música de Tião Carreiro e Pardinho: "Dobra e aposta qualquer parada". É um jogo arriscado porque a sua impopularidade dispara especialmente entre os pobres, que formam a maioria do país. Mesmo entre os mais endinheirados, com ensino universitário, a rejeição cresce.

Em fevereiro, 38,9% dos ouvidos achavam o governo ótimo ou bom; agora, apenas 29,4%; antes, só 19% diziam ser ele ruim ou péssimo, agora, 39,5%. Vale dizer: a aprovação caiu 9,5 pontos, e a reprovação cresceu 20,5. O saldo positivo de 19,9 se transformou num negativo de 10,1. O regular se manteve estável: 29% conta 29,1%. Caiu de 13% para apenas 2% os que dizem não saber. O que isso significa? O ruim/péssimo não só atraiu quem antes achava ótimo/bom como quem ainda não tinha opinião formada. Dito de outro modo: a estarem certos os números, o governo Bolsonaro não ganhou ninguém, viu migrar os indecisos para a rejeição e ainda perdeu parte considerável do que tinha.

Quando se avaliam os cortes de escolaridade e renda, acende-se o sinal vermelho. O amarelo já havia acendido em fevereiro. Na comparação com antecessores em primeiro mandato, os números já eram os piores.

Entre os que estudaram até o quinto ano, 47,3% acham a gestão ruim ou péssima, contra apenas 22,1% que dizem ser ótima ou boa. Esse placar é de 42% a 23,5% entre os que cumpriram da 6ª à 9ª serie e de 35,7% a 33,4% entre os que fizeram o segundo grau. Ainda que na margem de erro, o número da reprovação é também maior entre os universitários, um bolsão de resistência do governo: 37,4% a 34,3%. Segundo dados do TSE de 2018, São 38.063.892 os eleitores que declararam ter ensino fundamental incompleto. Outros 33.676.853 afirmaram ter concluído o ensino médio. Só 13.576.117 disseram ter curso superior.

Quando se leva em conta a renda, os números também fazem uma advertência severa ao governo. 46,9% dos que ganham até dois mínimos consideram-no ruim ou péssimo; só 21,9% nessa faixa dizem ser ótimo ou bom. De dois a cinco salários mínimos, há empate técnico: 33,3% reprovam contra 33,1% que aprovam. A inversão se dá entre os que recebem acima de cinco mínimos: 43,8% de ótimo/bom contra 32,6% de ruim/péssimo.

Pois é… O rendimento real médio dos salários em 2017, segundo o IBGE, foi de R$ 2.039. O dos homens vai a R$ 2.261; o das mulheres, fica em R$ 1.743. O dos brancos era de R$ 2.615; o dos negros, de R$ 1.516.

REPROVAÇÃO PESSOAL
A reprovação ao desempenho pessoal do presidente também disparou de forma alarmante. Ele era aprovado por 57,5% dos entrevistados em fevereiro; agora, por apenas 41%; a reprovação quase dobrou no período: de 28,2% para 53,7%; caiu de 14,3% para 5,3% os que dizem não saber. Também nesse caso, Bolsonaro não ganhou ninguém, viu a maioria dos neutros migar para a rejeição e perdeu parte considerável do que havia conquistado no começo do mandato.

Também aqui os mais pobres e menos escolarizados, que acabam constituindo a maior faixa do eleitorado, são os mais duros. Entre os que estudaram até o 5º ano, a reprovação ganha por 57,3% a 33,1%; do 6º ao 9º ano, por 59,4% a 35,4%; entre os que fizeram o segundo grau, 50% a 46%. Só na minoria universitária a aprovação ainda supera a reprovação: 52,8% a 43,3%¨. Na faixa que recebe até dois mínimos, a rejeição ao desempenho pessoal de Bolsonaro vai às alturas: 61,3% a 33,2%, ficando em 48% a 46,3% entre os que recebem de 2 a 5. Acima de 5, a aprovação ainda supere a desaprovação: 50,7% a 45,1%.

De fato, as medidas do governo ainda não tiveram impacto na vida dos mais pobres. Mas se nota também que esse é um governo que tem dificuldade de falar com eles. Bolsonaro deveria estar preocupado. Em vez disso, está vituperando contra o mundo por causa da Amazônia e contra a imprensa simplesmente porque esta existe. É um mau caminho.