MELHORAMENTO GENÉTICO IMPULSIONA PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE NO AGRONEGÓCIO
O programa permite ao produtor o acesso a sêmen de touros de genética muito superior para melhoria da qualidade do rebanho leiteiro e aumento da produtividade nas propriedades rurais. “Nosso objetivo é melhorar a genética de forma acessível, trazendo tecnologia reprodutiva e boas práticas no manejo e nutrição de forma aplicável à realidade desse pequeno produtor”, afirma o analista técnico do Sebrae-RN e coordenador do projeto, Luís Felipe dos Santos.
Um dos beneficiados é o produtor Luiz Eduardo Azevedo Dantas, 40 anos, criador da raça Sindi Seridó, em Parelhas. “Criamos desde 2019, e a partir de 2020 decidimos buscar melhorias para nosso rebanho, e logo iniciamos com inseminações. Percebemos um salto genético nos nossos animais, usando somente touros destacados e com índices positivos para leite”, conta.
Ele explica que, na inseminação, usa apenas touros A2A2, para gerar vacas leiteiras A2, que produz um leite de melhor digestão para o ser humano. “Com o melhoramento genético, elevamos o nível de nosso rebanho. Os animais evoluíram na fertilidade e na produção de leite de melhor qualidade. Nossas vendas aumentaram bastante. Antes, os clientes eram regionais, agora, nossos clientes são de todo o Brasil e até do exterior”, afirma.
O melhoramento genético, diz Luiz Eduardo, traz desafios desde o manejo à adaptação dos animais, estrutura mínima para realizar a inseminação e acompanhamento nutricional do rebanho. “Se adotamos a tecnologia sem suporte alimentar não temos resultado positivo”, constata Luiz Eduardo, citando que o projeto permitiu grandes aprendizados. O principal deles foi em relação ao planejamento do rebanho. “Depois do programa conseguimos organizar individualmente nossas matrizes, escolher acasalamentos e aprimorar a preparação para o pré-parto”, explica o criador.
Analista técnico do Sebrae-RN e coordenador do projeto, Luís Felipe comenta que, para resultados positivos, o produtor rural precisa estar comprometido com boas práticas na propriedade. “Quanto mais ele implementa um calendário de vacinação, de sanidade, investe na nutrição e no manejo, ele potencializa os resultados”, diz. O programa também inclui análise de solo para basear o criador na plantação das culturas, seja do sorgo ou da palma em suas fazendas, e a faz a análise da qualidade do leite.
Em 2025, o programa já atende 294 produtores, com mais de 1.500 atendimentos realizados. “Já são quase 6 mil animais com contratação para receber o protocolo de inseminação, e a maioria desses pacotes que a gente fecha, pelo menos 75% deles, são pacotes para trabalhar a bovinocultura de leite”, diz o analista do Sebrae. Segundo ele, a bovinocultura leiteira movimenta cerca de R$ 900 milhões por ano no Rio Grande do Norte.
O programa evita que o produtor tenha que mobilizar altos valores, em torno de R$ 20 mil, R$ 30 mil em um touro de alta linhagem. “Eles podem adquirir a nossa consultoria e a compra de um sêmen de um touro puro de origem e fazer com que a partir de 4, 5 vacas, nasça dali um rebanho de qualidade. Isso tem mudado o cenário do Rio Grande do Norte”, afirma Mona Nóbrega, gerente de Desenvolvimento Rural do Sebrae-RN.
“Atualmente, na região da Serra, além de Lagoa Nova, na Serra de Santana, a maior parte da produção de leite é de leite A2, em virtude dessas melhorias genéticas que foram feitas ao longo desses últimos 15 anos. E os nossos touros, quase praticamente todos, são frutos dessa mesma melhoria genética”, afirma Mona Nóbrega.
Pecuária de corte
O programa Leite & Genética vai além da pecuária de leite. Hoje, abrange também o corte. O analista do Sebrae-RN, Luis Felipe, explica que a inseminação dos animais tem protocolo específico que leva em consideração a atividade e o foco central da propriedade.
“Se é o leite, a gente insemina um animal nessa perspectiva para que o rebanho produza mais leite com uma qualidade superior, e quando se trata de animais de corte, trabalhamos com sêmen para gerar futuras gerações mais encorpadas, com uma composição corpórea mais robusta”, diz.
Após o diagnóstico dos animais e avaliação, os técnicos determinam quais estão aptos para receber o protocolo. “Preparamos o calendário de vacinação, fazemos a inserção dos hormônios, observando a sincronização do período de cio desses animais, para que quando eles estiverem aptos, a gente faça essa inseminação”, explica o analista. Em média, iniciado o protocolo, o produtor leva três meses para receber o atendimento completo dos animais selecionados.
O RN é referência quando a gente fala do programa Leite & Genética, segundo ele, por ter um ecossistema com governança e consultoria estruturadas, o que os demais estados ainda não têm. “Desenvolvemos toda uma metodologia de trabalho, de triagem desses técnicos que vão a campo e conseguimos implementar essa questão dos pacotes, parametrizar isso de forma padrão para todos os produtores. Hoje, a nós conseguimos atender em grande escala com uma tecnologia que realmente é efetiva”, afirma o analista técnico do Sebrae/RN.
Ele ressalta que o programa consegue entregar bem a biotecnologia, que é a inseminação artificial por tempo fixo, o chamado IATF (IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). “Entregamos com bons resultados e fomos pioneiros nisso ao longo desses 15 anos”, diz Luís Felipe.
Análise da carcaça
Uma outra inovação trazida do Mato Grosso para o Rio Grande do Norte ajuda a pecuária de corte: a metrologia da carcaça bovina. O método utiliza ultrassom para avaliar animais ainda jovens, medindo o potencial de desempenho em carcaça e marmoreio da carne. Com essa análise precoce, o produtor consegue identificar se é necessário realizar um melhoramento genético e quais animais devem ser destinados ao confinamento para alcançar maior valor de mercado. A tecnologia permite agregar qualidade e diferenciação ao produto final.
“Hoje, nossos produtores conseguem, através de ultrassom dessa metrologia, entender se aquele animal é realmente bom para corte ou não. Se, de repente, você precisa fazer um melhoramento genético agora para que esse corte, de fato, tenha um bom desempenho lá na frente. Então, com esse serviço, ele consegue agregar esse valor dentro da cadeia dele. Então, olhando para o leite, temos tecnologia. Olhando para a carne, também temos. E esse produtor, ele precisa estar sempre antenado com essas provocações, para entender o que é que tem no mercado e o que é que tem no Rio Grande do Norte”, afirma Mona Nóbrega. Ela ressalta que a tecnologia, que só existia fora do estado, está disponível para qualquer produtor do Rio Grande do Norte, subsidiada pelo Sebrae.
RN precisa melhorar índices reprodutivos
No primeiro semestre deste ano, a pecuária de leite atingiu entre 550 e 600 mil litros de leite dia nas indústrias inspecionadas, com um crescimento de 17,6% no Rio Grande do Norte, segundo dados do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Norte (Sindleite/RN), que integra a base da Federação da Indústria do RN. No país, a cadeia do leite cresceu 9,2%, chegando a quase 37 bilhões de litros por ano o que faz do Brasil o 3º maior produtor de leite no mundo.
Em parte, esse aumento de produtividade foi impulsionado pelo programa Leite & Genética, associado a outras ações implementadas no setor leiteiro potiguar. “É um projeto que soma e já comprova bons resultados em algumas regiões, está palpável. Isso é o melhor, porque mostra que a semente plantada deu certo, são animais mais produtivos”, analisa o presidente do Sindleite/RN, Túlio Veras.
Ele comenta que o Sindleite tem incentivado o ingresso das empresas associadas no programa Leite & Genética. “É importante que outras empresas possam aderir a esse projeto de inovação tecnológica, que transfere genética para produzir leite. Com a inseminação artificial, quando você acerta a raça de produção de leite você planta uma semente que vai gerar animais mais produtivos no futuro”, afirma o produtor.
Túlio Veras acrescenta que, no ano passado, na região Médio Oeste, onde mantém a indústria Queijos Matuto, contratou 500 inseminações, distribuídas junto aos produtores do queijo matuto, que já têm bezerras nascidas. Este ano, já foi feita uma nova contratação em julho, para resultados no ano que vem.
Essas aquisições contínuas, diz o produtor, são importantes para manter esse plano de melhoramento genético do rebanho e ter um produtor enquadrado no leite do futuro, ou seja, produzindo mais com menos animais, mas aponta desafios. “O Leite & Genética é um projeto que cabe uma atualização. É um projeto que podia estar contribuindo mais no estado do Rio Grande do Norte”, afirma.
O estado já poderia estar inseminando com o sêmen sexado, usando touros com produções acima de 10.000 litros/lactação, diz o presidente do Sindleite, ressaltando a necessidade do rebanho do estado melhorar cada vez mais, para tornar o leite potiguar mais competitivo.
Segundo ele, até seis anos atrás, o Rio Grande do Norte, tinha uma baixa produtividade por animal e raças indefinidas na pecuária. “Abrimos diálogo com instituições, com as federações da agricultura, da indústria, com a Secretaria da Agricultura, a Emater, Sethas, Sedec, Sefaz, Sedraf, com o governo como um todo, e buscamos parcerias junto ao Sebrae, Senar para qualificar a bovinocultura leiteira”, comenta o presidente do sindicato.
Produtores já adotam confinamento em ‘compost barn’
No Rio Grande do Norte, produtores estão investindo no sistema ‘compost barn’, um modelo tecnológico de confinamento, em um ambiente arrojado e altamente tecnológico, que garante conforto e alta produtividade. O primeiro foi inaugurado, este ano, em Jucurutu e um segundo está em construção no Agreste. Outros dois projetos deverão entrar em execução nos próximos 12 meses.
As estruturas comportam cerca de 300 animais de alta produtividade, em galpões com camas de compostagem, ventilação, banhos de resfriamento e nutrição balanceada. “Cada animal tem de 10 a 12 metros quadrados, numa cama de compostagem, muito confortável, com uma refrigeração através de banhos e ventilação para o resfriamento das vacas, ou seja, você consegue reduzir a temperatura ambiental e dar conforto, tanto térmico como da cama, onde ela se deita e passa o dia produzindo leite”, explica Túlio Veras.
Segundo o presidente do Sindleite/RN, Túlio Veras, “esses sistemas, quando estão funcionando de forma redonda, com conforto do ambiente, apoio nutricional, oferecendo um dieta balanceado, saúde e genética de alta produtividade, têm alta rentabilidade, deixando de R$ 0,50 a R$ 1,00 por litro produzido”. Ele relembra que, em visita recente a um compost barn, que instalou a primeira ordenha robotizada do Nordeste, em Sergipe, um produtor afirmou que o sistema está renumerando 0,64 por litro produzido.
O sistema ainda proporciona biogás, bio fertilizantes, e a cama de compostagem que serve de adubo para integrar na agricultura, rendendo de R$ 400,00 a R$ 500,00 por tonelada.
“É um sistema que tem dado muito resultado. É um investimento que está orçado hoje R$ 8 mil por animal, mas tem um payback curto, de três anos para pagamento, e isso proporciona altas produtividades dos rebanhos que têm genética, nutrição, gestão e ambiência no contexto do leite do futuro, um leite mais competitivo”, diz.
Apesar dos avanços já conquistados, o presidente do Sindleite/RN, Túlio Veras, aponta desafios. “Mesmo em um estado que tem leite desde a colonização, nós que fazemos a cadeia produtiva e os líderes, temos que estar conscientes de que a tendência do leite do futuro é um leite com menos vacas, produzindo mais. Temos excelentes produtos, com aptidão à pecuária leiteira, mas precisamos capacitá-los”, afirma.
Segundo ele, é preciso seguir as tendência do mercado, que estados do sul e sudeste do país já praticam, envolvendo a atualização das boas práticas em fazendas leiteiras, tecnificação e profissionalismo, extraindo o conhecimento que já existe dentro das universidades, dentro dos centros de pesquisa, para levar ao produtor. “Precisamos buscar isso numa velocidade maior, para não ficarmos muito distante do leite do futuro, do leite mais eficiente”, afirma Túlio Veras.
A tendência na cadeia do leite, explica Túlio Veras, é o foco no investimento maciço em tecnologia, incluindo o melhoramento genético, a produção de biomassa com qualidade e a qualificação das pessoas. Tudo está numa velocidade muito rápida, nos últimos três, quatro anos, seja no Brasil e fora do país. “Hoje não se fala só em famílias das vacas, dos rebanhos, já se tem a tecnologia do genoma. Eles fazem um exame no animal, mesmo muito novo e com 90 dias de vida já se sabe o que esse animal vai ser no futuro, se ele vai ser produtivo ou não”, comenta.
Atualmente, já é possível direcionar a inseminação artificial. “Para produzir leite precisamos de matrizes, ou seja, precisa de fêmeas, então já se insere no animal um sêmen sexado, o que é um avanço muito grande”, diz ele, acrescentando que, seja através de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) ou do sêmen sexado, os ciclos de produção ganharam uma velocidade muito maior.
Programa já prioriza linhagens de abelhas adaptadas ao clima semiárido
Criado em março de 2024, o ELI do Agronegócio (ELI Agro) surgiu como o primeiro ecossistema local de inovação voltado a um segmento específico no Rio Grande do Norte, consolidando-se como referência de inovação e integração. Dentro do ELI Agro, a experiência do melhoramento genético na bovinocultura leiteira levou ao desenvolvimento da melhoria genética para a apicultura e a aquicultura.
Na apicultura, o ecossistema promoveu pesquisas e testes de melhoramento genético de abelhas, priorizando linhagens adaptadas ao clima semiárido. A iniciativa busca aumentar a produção de mel e própolis, reduzir perdas por doenças e ampliar a resistência das colmeias às variações climáticas. O trabalho integra laboratórios de genética, apicultores e startups, resultando em colônias mais produtivas e com potencial de gerar novos mercados para derivados da apicultura.
Inseridos no programa, os apicultores recebem consultoria de manejo e boas práticas para aumento de produtividade de colmeias. Além disso, explica Mona Nóbrega, gerente de Desenvolvimento Rural do Sebrae-RN, junto com essa tecnologia, o apicultor recebe a abelha melhorada geneticamente. “Então, junto com essa assessoria, entregamos esse animal geneticamente melhorado para aumentar a produtividade das colmeias, ele consegue produzir mais mel”, explica Mona Nóbrega.
Gerlânia Bezerra, proprietária e administradora da Boutique da Abelha, diz que a inovação sempre foi um ponto forte na empresa, desde a escolha das embalagens, rótulos, tampas, e principalmente em explorar e evidenciar a diversidade do mel que o bioma potiguar oferece. “Buscamos produzir méis com origem de várias floradas, não apenas a silvestre, que é a mais conhecida e comercializada, como Juazeiro, Jurema Preta, Oiticica, Aroeira e Espinheiro, valorizando o terroir da caatinga”, acrescenta.
Segundo ela, a empresa prepara os enxames para iniciar o melhoramento genético, colocando rainhas selecionadas com características de abelhas mais produtivas e mais resistentes.
“Nossa meta é aumentar a produção. Este ano, estamos programando expandir nossas vendas para outros estados, e nos prepararmos também para exportação a partir de 2026”, comenta a produtora. A indústria faz parte da Cooperativa Potiguar de Produção Agropecuária (COOPA), que tem certificação do MAPA, o selo de inspeção federal, para expandir a comercialização para todo Brasil e exterior.
Até o final de agosto, a Boutique da Abelha fechou uma produção de mais de 1,2 toneladas de mel, com maior parte da comercialização para supermercados, mercados, empórios, restaurantes, hotéis e pousadas, dentro do RN. “Nós enxergamos a inovação como a porta de entrada para o crescimento de qualquer empresa, o diferencial que os produtos oferecem novas experiências, e isso é essencial para fidelizar o cliente”, afirma.
Aquicultura: material genético produzido em laboratório
Na aquicultura, o ELI Agro trabalha forte com a ostra produzindo material genético em laboratório. “A gente entrega esse material produzido em laboratório para que o produtor termine a produção dentro da Lagoa de Guaraíras, Tibau do Sul, e ele deixa de retirar ostras do mangue, trabalhando, ao mesmo tempo, a conservação da espécie, ou seja, a sustentabilidade, e a produtividade”, afirma Mona Nóbrega, acrescentando que os produtores trabalham, atualmente, 100% de maneira sustentável.
O resultado quando se fala em melhoramento genético, diz ela, depende muito da maturidade do segmento. “Quando a gente olha para o agronegócio, tem segmentos extremamente maduros no Rio Grande do Norte, como a fruticultura, a aquicultura, a própria bovinocultura e a carcinicultura, que têm muita tecnologia embarcada porque essas cadeias têm grandes produtores. Hoje, por exemplo, a gente tem fazendas automatizadas de carcinicultura, com melhoria genética desde a larva até o camarão final”, comenta.