REFORMA DA PREVIDÊNCIA É APROVADA NA CCJ POR 48 VOTOS A FAVOR E 18 CONTRA
Depois de 62 dias do envio da reforma da Previdência, a
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deu o sinal verde para a
proposta do governo, que segue agora para análise de mérito na comissão
especial. A admissibilidade foi aprovada por 48 votos a 18. A aprovação foi
sucedida de comemoração dos governistas e vaias da oposição.
A tramitação na CCJ, que analisa a constitucionalidade do
texto, durou mais tempo do que o governo esperava, o que obrigou a equipe
econômica a ceder pontos já na largada.
Apesar das negociações, a proposta aprovada ainda preserva a
economia de R$ 1,1 trilhão estimada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes,
com a aprovação do texto que foi enviado ao Congresso no dia 20 de fevereiro.
O governo Michel Temer levou apenas 10 dias para passar a
sua proposta de reforma na CCJ. A reforma do presidente Jair Bolsonaro chega
agora na comissão especial sob pressão dos partidos do Centrão para novas
mudanças. Foram as lideranças do Centrão que conseguiram negociar as quatro
alterações no texto, ameaçando barrar a votação.
A batalha da votação durou mais de oito horas com uma
sequência de pedidos de requerimento dos deputados da oposição para protelar a
discussão. A líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), chegou a apresentar
requerimento ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com assinaturas
para suspender por 20 dias a tramitação alegando a necessidade de o governo
enviar os números do impacto da proposta.
CAMINHO DA REFORMA NO CONGRESSO
Discussão e aval na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ), que verifica se o texto respeita princípios constitucionais (cumprida)
Discussão por no mínimo 11 sessões em comissão especial, que
analisa o teor do texto e pode fazer alterações
Votação na comissão especial
Discussão e votação no plenário na Câmara: são necessários
308 votos (dos 513 deputados) em dois turnos
Discussão e aval na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado
Discussão e votação no plenário Senado: são necessários 49
votos (dos 81 senadores) em dois turnos
Promulgação
Com o resultado, a oposição disse que buscará anular a
votação, classificada de “fraudulenta” pelo líder do PSOL na Câmara, Ivan
Valente (SP). Mesmo com a derrota, a líder da minoria na Casa, Jandira Feghali
(PCdoB-RJ), disse que essa foi apenas a primeira batalha. “Ri melhor quem ri
por último”, disse Jandira. “O povo vai para a rua, essa proposta está sendo
votada ao arrepio da Constituição”, afirmou a líder.
A estratégia dos oposicionistas foi a mesma usada nas outras
sessões, marcadas por tumulto e gritarias. Dessa vez, porém, o presidente da
CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), foi bem mais duro na condução dos trabalhos
e impediu que a votação fosse suspensa. Apesar dos apelos da oposição,
Francischini continuou a votação sem levar em conta o pedido.
“Não apontem o dedo para mim que não sou moleque!”, reagiu
Francischini, no momento mais tenso, à ação das deputadas Maria do Rosário
(PT-RS), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Erika Kokay (PT-DF) e Taliria Petrone
(PSOL-RJ), que o cercaram o na mesa da CCJ. Um novo tumulto se formou, mas
Francischini conseguiu segurar a pressão com uma posição combativa.
No plenário, governistas gritavam: “Não se deixe intimidar,
senhor presidente. Reaja com o regimento”. A líder do governo no Congresso,
Joice Hasselmann (PSL-SP), aos gritos, dizia para o presidente da CCJ: “Chame a
polícia”.
Joice quase provocou a retirada do DEM da votação depois de
um discurso inflamado. “Mais uma fala do governo e o DEM se retira da votação”,
avisou o deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA). Ele e outros parlamentares da
base ficaram irritados porque não é primeira vez que Joice quebra acordo da
base para que os deputados não usassem tempo de fala na sessão, com o objetivo
de agilizar os trabalhos. A líder do governo acusou os oposicionistas de fazer
conversa fiada e de serem “paladinos da calculadora previdenciária”.
O líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB),
avisou que os parlamentares se articularão para retirar, na comissão especial,
as regras de aposentadoria rural e mexer na proposta do BPC, benefício
assistencial para baixa renda.
Para garantir a aprovação da reforma, alguns titulares
contrários ao texto do governo Jair Bolsonaro foram substituídos por outros
correligionários a favor da proposta. Um deles foi o deputado Reinhold Stephanes
(PSD-PR) que estava como suplente e foi colocado como titular.
Num ato falho, o vice-líder do governo na Câmara Darcísio
Perondi (MDB-RS) disse que a maior parte do impacto de R$ 1,1 trilhão afetaria
os mais pobres – contrariando o discurso do governo que a maior contribuição
virá dos mais ricos e privilegiados. A reação da oposição foi imediata, que se
levantou para aplaudir o deputado governista. Eles também bradaram “Perondi,
Perondi!” em coro.
Em meio à votação na CCJ, o presidente Jair Bolsonaro foi
cobrado a renunciar à aposentadoria especial da Câmara a que tem direito.
Bolsonaro, que foi deputado por 28 anos, tem direito à aposentadoria, mas ainda
não fez o pedido. Ele poderia acumular o benefício com o salário de presidente
da República. A cobrança foi feita pela deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ).
O QUE SAIU DO PROJETO INICIAL
FGTS DE APOSENTADOS. A proposta retirava a obrigatoriedade
de recolhimento de FGTS do trabalhador que já for aposentado e do pagamento da
multa de 40% na rescisão contratual em caso de demissão desses trabalhadores.
IDADE PARA APOSENTADROIA COMPULSÓRIA. A retirada da
definição de aposentadoria compulsória da Constituição, transferindo mudanças
para lei complementar. O dispositivo permitiria definir a idade máxima para
aposentadoria compulsória dos servidores públicos por meio de lei complementar,
que exige quórum mais baixo do que uma proposta de emenda constitucional.
Recentemente, a idade máxima foi elevada de 70 para 75 anos, o que permitiu que
os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outros tribunais ficassem
mais tempo no cargo. A brecha facilitaria uma mudança na composição dos
tribunais superiores pretendida por aliados do governo para aumentar a
influência sobre o Judiciário.
JUSTIÇA CONTRA A REFORMA. Pela proposta, as ações contra a
reforma da Previdência poderiam ser feitas apenas nas seções judiciárias em que
o autor tivesse domicílio ou que houvesse ocorrido “ato ou fato” que tivesse
dado origem à tal demanda. Com a retirada desse item, as ações contra a União
continuam podendo ser feitas na Justiça Federal.
EXCLUSIVIDADE DO EXECUTIVO. Dispositivo que deixaria apenas
nas mãos do Executivo federal a possibilidade de apresentar projeto de lei
complementar para alterar as regras da Previdência. Com isso, o Legislativo
também fazer proposições.