MORO E LAVA JATO TERIAM COMBINADO DENÚNCIA CONTRA EX-PRESIDENTE LULA


A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aponta que ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato acertaram atos processuais e, em conversas secretas pelo Telegram, estabeleceram acordos sobre como proceder denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), meses antes da apresentação formal do caso. Os advogados do ex-presidente fizeram essas afirmações em uma reclamação ao qual solicitar que o restante da informação de operações da Polícia Federal fosse liberado.

Os advogados de Lula chegaram a essas conclusões com base em parte do material apreendido na Operação Spoofing — investigação contra hackers que invadiram celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato —, cujo acesso foi autorizado pelo STF no final de 2020. O advogado Cristiano Zanin Martins diz que a análise do material —submetido a perícia quanto à sua autenticidade, um dos pontos questionados pela Lava Jato— revela novas conversas entre o ex-juiz federal e o ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba que não constavam no material encaminhado inicialmente por fonte anônima ao site The Intercept Brasil. Em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski mandou a Justiça do Distrito Federal compartilhar com Lula as mensagens da Spoofing. 

O petista pretende usá-las para reforçar a tese de que Moro foi parcial ao condená-lo a nove anos e meio de prisão na ação do tríplex do Guarujá. Em uma das conversas, em 16 de fevereiro de 2016, o então juiz Moro pergunta se os procuradores têm uma "denúncia sólida o suficiente". Ex-coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol responde que acredita que o material está "suficientemente forte". "Na parte do crime antecedente, colocaremos que o esquema Petrobrás era um esquema partidário de compra de apoio parlamentar, como no mensalão, mas mediante indicações políticas para arrecadar propina para enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas", diz. Em outra mensagem, de 6 de setembro de 2016, Deltan pede que, ao tomar o depoimento do empreiteiro Leo Pinheiro, ex-executivo da OAS, Moro "impeça" relatos sobre "fatos alheios" ao objeto do processo. "Talvez seja o caso de impedir Leo Pinheiro de depor sobre fatos alheios ao seu caso. 

Estamos suspeitando de que ele poderá querer forçar uma colaboração sem acordo, ainda que fajuta, e buscar diminuição da pena na cadeia recursal", escreve Moro responde: "Ah sim, só sobre o objeto da acusação". Em 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), Deltan procura Moro para combinar uma conversa sobre "apreensão dos celulares". Na mesma conversa, passa informações sobre uma reunião com suíços e americanos para "negociar percentuais da divisão do dinheiro". "Estamos em prévia com os suíços que nos ajudarão a dar menos para os americanos", afirma. Julgamento A defesa de Lula pediu ao ministro do STF Gilmar Mendes, presidente da Segunda Turma, "prioridade" no julgamento sobre a suspeição de Moro. 

Em dezembro de 2018, Gilmar pediu vista, depois que dois ministros já tinham votado contra as pretensões do petista. O relator da Lava Jato, Edson Fachin, e Cármen Lúcia rejeitaram o habeas corpus. Faltam os votos de Gilmar, Lewandowski e Nunes

Marques. As mensagens obtidas pelos hackers foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil meses após o início do julgamento na Corte. Procurado, Moro não quis se manifestar. Os advogados que representam os procuradores no Paraná não comentaram