POR QUE NÃO CONSEGUIMOS CONVERSAR COM UM BOLSONARISTA?


A cada dia mais pessoas começam a sentir que parece impossível conversar com um bolsonarista.

Apesar de a esmagadora maioria dos infectologistas afirmarem que precisamos de isolamento social, os apoiadores de Bolsonaro insistem em ignorar esses fatos e apoiam o presidente. Toda a vez que um membro que apoiava o Bolsonaro pula fora do governo ele se transforma de herói em vilão. Não importam as denúncias, não importam as ações, não importa a apologia à violência ou à tortura. Quando fica nítido que ele mentiu, os bolsonaristas arranjam um jeito de dizer que não era bem isso que ele queria dizer. Quando ele é acusado de conclamar seus súditos para uma manifestação contra o congresso, ele apaga alguns vídeos, diz que nunca falou em fechamento de congresso e os súditos não enxergam nenhuma contradição. Quando o acusam de interferência na PF, ele faz um pronunciamento confirmando que interferia na PF, mas e daí? Quando ele tem falas preconceituosas e que propagam o ódio, os bolsonaristas dizem que ele é cristão e citam o velho testamento para justificar a violência. Quando fazem imagens que comparam Bolsonaro a Jesus, os súditos acham que não tem nenhum problema. Quando ele indica a família ou assassinos para cargos, eles esquecem das desconfianças que levantavam quanto ao filho do Lula e afirmam que não dá para provar que aqueles homens eram assassinos e que a tal da Marielle não devia ser santa. Quando um jornal denuncia o Bolsonaro, os bolsonaristas afirmam que aquele jornal não tem credibilidade, pois ele é de esquerda. E é de esquerda porque denunciou o Bolsonaro. Não interessa se a notícia é verdadeira.

Passei um bom tempo pensando no que estava acontecendo. Como as pessoas poderiam estar tão cegas? Existe uma explicação para isso? Sim, existe. E ela passa por dois conceitos: Seita e Alodoxia.

Bolsonaro criou em torno de si uma seita, um culto à sua personalidade. Conforme nos explica o professor Robert Jay Lifton, uma seita destrutiva possui três características: Um líder carismático, Persuasão coercitiva ou reforma de pensamento (lavagem cerebral) e exploração dos membros do grupo (sexual, monetária, psicológica etc.).

Começando com o líder carismático:

Um líder de seita demanda que ele seja o centro das atenções. Bolsonaro faz isso frequentemente. Ele mostra que ele é o líder, chegou a se autointitular “líder supremo”. Ele faz questão de se colocar como a figura que lidera, que é insubstituível.

Um líder de seita busca formas de estar sempre aparecendo. Bolsonaro ia constantemente a emissoras de televisão e rádio. Ele não via problema em argumentar sobre um assunto o qual ele não tinha nenhum conhecimento. E buscava sempre dizer absurdos para que estes fossem distribuídos nas redes sociais por pessoas que ficavam atônitas com as asneiras e agressões que ele proferia. Ele chamou um humorista para imitá-lo para que isso fosse divulgado em todo o Brasil. Ele nega a pandemia para que ele apareça para todo o mundo.

Um líder de seita busca justificar sua autoridade por uma conexão com o divino. Bolsonaro não vê problema em ser comparado a Jesus, ao “Messias”. Ele busca ser visto como o salvador, como o guerreiro puro contra o pecado. Como disse acima, ele afirma ser o líder supremo. Alguém que pode agir da mesma maneira que outros políticos agiam e se tornavam alvos do bolsonarismo, pois ele é diferente, é divino. Ele procura sempre colocar Deus em seus discursos como forma de dizer-se conectado. Procura líderes religiosos que o coloquem como o escolhido, o redentor, o sagrado. Bolsonaro é a hierofania. 

Um líder de seita coloca as suas próprias necessidades acima de tudo e todos. Bolsonaro queria ser presidente mesmo não tendo capacidade. Mesmo que isso levasse à morte de muitas pessoas, ao colapso econômico e à crise política. Não importa, desde que ele seja o líder. Ele precisa de pessoas que lhe devam adoração em setores estratégicos, mesmo que isso seja absurdo e coloque em suspeição tais órgãos.

Um líder de seita é inconstante e tem uma personalidade diferente. Como o líder precisa aparecer ele desenvolve uma personalidade diferente. Ele procura ser inconstante para que as pessoas não se apeguem à dogmas, mas à sua figura. Ele um dia promete que o ministro da justiça terá livre comando e no outro decide demitir um dos membros de um cargo que está subordinado ao tal ministro. Com isso, a verdade se torna o próprio Bolsonaro. E todo aquele que é contrário a ele é pecador, no caso, comunista.