A VITÓRIA DE UM CAMPEÃO INVISIBILIZADO


Não acompanho surfe. Não entendo nada do esporte, mas sei que Baía Formosa é uma cidade praiana do RN boa para a prática do esporte e que de lá o potiguar Ítalo Ferreira ganhou o mundo literalmente em 2019.

Como a maioria dos desportistas brasileiros, passo quatro anos fazendo contas sobre o meu time no Campeonato Brasileiro. No meu caso, os meus times, Vasco e ABC. Os outros esportes, exceto Vôlei de seleção, a gente mal sabe dos resultados.

Mas nestes primeiros dias de Olimpíada me chamou atenção a cobertura da mídia nas baterias do surfe. Tínhamos dois brasileiros candidatíssimos a ser o primeiro campeão olímpico da modalidade. Em vez de curtir isso, tudo girava em torno de Gabriel Medina.

Antes da Olimpíada, tive que pesquisar no Google para saber se Ítalo Ferreira estaria nos jogos porque só via manchetes sobre a crise do surfista com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pelo prosaico motivo dele querer levar a esposa para o Japão.

A cada bateria Ítalo mostrava um desempenho melhor, mas sempre era tratado como coadjuvante de Medina. Nem parecia que um era tão campeão mundial quanto o outro.Cobertura do ouro de Ítalo foi equivalente à da derrota de Medina. Se o resultado fosse diferente a cobertura não teria a mesma proporção (Fotomontagem: Blog do Barreto)

A diferença de tratamento na mídia entre Ítalo e Medina era como se a distância esportiva entre eles fosse equivalente a que tínhamos entre Fernando Meligeni de Medina Gustavo Kuerten no tênis durante a virada no milênio.

Era como o potiguar não fosse tão brasileiro quanto o paulista. Era como se os dois não estivessem no mesmo patamar.

Confesso que me emocionei ao mesmo tempo em que me irritei com uma cobertura que se preocupou em dar ao fracasso de Medina a mesma proporção do triunfo de Ferreira. Não me incomodei somente por ser potiguar, mas por ser jornalista e com a certeza de que se fosse o inverso os critérios de noticiabilidade seriam diferentes.

Isso torna a vitória dele cinematográfica. Diria até um clichê da história do patinho feio que vence o cisne branco contra tudo e todos.

Eu me identifiquei ainda mais com Ítalo quando ele falou sobre a avó, que queria que ela estivesse viva para vê-lo campeão olímpico. Como ele eu também tenho uma vó como referência maior na vida e sei bem o que ele sentiu.

Por Bruno Barreto