PREFEITA DE PARNAMIRIM É ACUSADA DE COBRAR PROPINA EM CONTRATO DA SAÚDE
O contrato nº 084/2025 foi firmado no dia 03 de julho, por dispensa de licitação emergencial. De acordo com o documento, pelo valor de R$ 576 mil, a empresa Afim Clinic Ltda firma com a Prefeitura de Parnamirim a prestação de serviço de fornecimento de psiquiatras para atender as unidades do Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS i), Centro de Atenção Psicossocial Adulto (CAPS II) e Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD III) pelo período de seis meses, entre 04 de julho e 31 de dezembro de 2025. Entretanto, dividido pelo período de vigência do contrato, o valor mensal de R$ 96 mil precisará ser repartido, não somente entre os Centros de Atenção Psicossocial, mas também com valores que podem variar de R$ 10 mil a R$ 20 mil que iriam direto para a prefeita Nilda Cruz.
A denúncia foi feita por uma ex-funcionária da Afim, que esteve na redação do Diário do RN e apresentou provas documentais do fato. Patrícia, nome fictício criado por ela temer represálias, foi demitida pelo dono da empresa, Franklin Ferreira, após questionar a forma obscura como a contratação foi firmada. Ela saiu sob ameaça de destruição da imagem dela e de fechar as portas para a profissional no mercado de trabalho.
“Tira o repasse dos médicos e a clínica fica com um pouco, sendo que do que a clínica fica, ainda tem que tirar uma parte para a prefeita. Desse dinheiro por mês ele tem que dar R$ 10 mil ou 20 mil”, relata Patrícia, sobre o valor mensal que seria repassado à prefeita Nilda por este contrato.
Pela denúncia, que já foi feita ao Ministério Público, Patrícia afirma que a prefeita pediu inicialmente R$ 20 mil, mas chegaram ao acordo de R$ 10 mil.
Patrícia conta que antes mesmo de qualquer fechamento contratual, envio de orçamento ou publicação do contrato emergencial no Diário Oficial, ela foi encaminhada para a busca de médicos psiquiatras e visitas aos CAPs para conhecer a estrutura. “Eu não tinha nem enviado o orçamento para lá, mas ele falou: ‘não se meta nessa parte, porque já está tudo ok. E não pode expor para ninguém, porque ninguém pode saber dessa tratativa”, conta Patrícia, sobre diálogo que teve com Franklin Ferreira, proprietário da Afim Clinic. Segundo ela, o seu patrão alegava tratativas “direto com Rogério Gurgel”, o então secretário Municipal de Saúde de Parnamirim.
Ela acrescenta na denúncia, a utilização, por parte de Rogério Gurgel, da estrutura do Município para fins particulares. “Aí começou a vir os pedidos estranhos: ‘Eu preciso que você consiga médico para filha do secretário da saúde, Rogério Gurgel’. Ele disse que eu teria que conseguir uma médica mastologista, porque a clínica lá não tinha essa especialidade, eu falei, mas a procura é baixa aqui na clínica para essa especialidade, mas eu tinha que conseguir uma médica para a filha dele. Um atendimento particular, mas ele falou que não era para cobrar”, conta.
Rogério Gurgel hoje é secretário Municipal de Políticas Públicas.
A prefeita Nilda também teria aproveitado a estrutura da secretaria de Saúde para promover evento da vereadora Rafaella Cruz, sua filha. De acordo com Patrícia, cerca de nove especialidades médicas foram disponibilizadas pela Prefeitura para realização do projeto “Gabinete nos bairros”, no dia 19 de julho.
Segundo Patrícia, a Prefeitura de Parnamirim teria prometido o contrato a uma outra empresa, mas somente para garantir uma documentação complementar que justificasse a concorrência do fictício processo licitatório. “O sr Franklin sempre pedindo que eu não falasse nada e sempre indo em reuniões com a prefeita”, explicou.
Entretanto, a Afim, de acordo com Patrícia, não tinha documentações regulares, como o Alvará de funcionamento da empresa, documento básico. Em meio às tratativas, a empresa teve que buscar regularização em paralelo para fechar o contrato que já estava informalmente acertado diretamente com a prefeita Nilda Cruz.
Os acertos, de acordo com ela, surgiram da amizade que existe entre a prefeita Nilda Cruz e Franklin Ferreira. “É uma amizade bem antiga. Em todas as inaugurações da clínica ela está presente. Ela é muito amiga dele. Já existia essa relação. Ela foi na posse dele na CDL porque ele tomou posse recentemente como diretor de eventos. Já ouvi falar que ele chegou a investir na campanha dela”, disse.
Ameaçada, Patrícia resolveu levar os documentos com provas ao Ministério Público, onde registrou denúncia, inclusive relacionadas a outros envolvimentos supostamente ilícitos de Franklin Ferreira.
“Eu tenho todas as provas, provas concretas, prints de falsificação de assinatura, coisas pesadas.
Ele deveria ser investigado. Um paciente morreu por negligência dele, que impedia atendimento, porque o home care passa pelo SESAP, para aprovação. E eu tenho muita coisa. Então ele já tem esse histórico de ser pagador de propina. E agora ele tem essa facilidade da prefeita”, dispara.
Diário do RN