MEDICAMENTO TRAZ ESPERANÇA PARA PESSOAS COM TETRAPLEGIA



Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram um medicamento experimental chamado polilaminina, derivado da laminina presente na placenta, que mostra potencial em devolver parte da mobilidade a pacientes com lesão na medula espinhal. O estudo, ainda em fase inicial, registrou avanços em seis pessoas que sofreram acidentes com perda total de movimentos, incluindo casos de recuperação parcial significativa. Para que chegue ao mercado, no entanto, será necessário superar fases regulatórias da Anvisa.


A substância, fruto de mais de duas décadas de pesquisas pela professora Tatiana Coelho, da UFRJ, foi aplicada diretamente na medula de pacientes em até seis dias após o trauma, com resultados que surpreenderam os pesquisadores. A expectativa é que a molécula, que já mostrou efeitos positivos em testes com animais, possa atuar como alternativa mais simples e acessível em relação a terapias com células-tronco, amplamente investigadas em outros países. Apesar do entusiasmo, a substância precisa passar por todas as etapas de validação científica antes de se tornar uma opção real de tratamento.

O neurocirurgião do Hospital Universitário Onofre Lopes e professor da UFRN, Angelo Raimundo, avalia que os resultados apresentados até agora despertam interesse, mas ainda não permitem conclusões definitivas. “Como toda nova terapia, estamos sim observando a validação científica do tratamento através de pesquisas com maior número de pacientes e com a possibilidade de ensaios mais controlados comprovando que a melhora observada vem realmente da aplicação da polilaminina. Há sim estudos em animais que podem trazer esperança com o uso dessa substância em humanos”, afirma.

De acordo com o médico, o tratamento atual de maior eficácia para tetraplegia está centrado em terapias intensivas de reabilitação. “A depender do grau de lesão medular, que pode ser completo ou incompleto, o tratamento atual mais efetivo envolve a reabilitação motora intensiva com uso de marcha assistida, Lokomat (marcha robótica auxiliada), realidade virtual e técnicas de imagética motora. Se olharmos as informações divulgadas sobre a polilaminina vemos que o paciente com melhor resultado utilizou todas essas ferramentas, o que pode ser um confundidor na análise e interpretação dos resultados. Ele melhorou realmente pelo uso da substância ou pela terapia especial de reabilitação intensiva utilizada?”, questiona.

Na avaliação do especialista, a polilaminina pode oferecer vantagens diante de outras terapias em investigação, como as células-tronco. Segundo o médico, a nova substância parece apresentar maior controle da inflamação pós-lesão e custos mais baixos, embora ainda sem definição concreta. Além disso, a aplicação precoce após o trauma desponta como fator determinante para melhores resultados.

“Como em todo o ambiente científico, há que se ter cuidado com exposições midiáticas, interesses comerciais exagerados e pesquisas que não seguem o rigor necessário. As pesquisas sérias devem ser valorizadas mesmo que os resultados venham a não confirmar o benefício de uma terapia”, destaca Angelo Raimundo.

Enquanto isso, a UFRJ e o laboratório aguardam a validação sanitária. O próximo passo será a fase 1 dos ensaios clínicos, que depende de uma autorização da Anvisa.