SERRA NEGRA DO NORTE: QUANDO O BOLSO DOS VEREADORES FALA MAIS ALTO QUE O DO POVO


Parece piada, mas não é. Em Serra Negra do Norte, os vereadores resolveram que merecem mais — mais conforto, mais viagens, mais dinheiro público no bolso. Na sessão de quarta-feira (15), eles aprovaram o Projeto de Lei nº 26/2025, uma verdadeira obra-prima da autoconveniência política. O texto, assinado pela Mesa Diretora tendo a frente a pessoa do seu presidente, vereador Jairo Flauzino (PV), e apresentado com o velho discurso de “modernização” e “dignidade funcional”, na prática, abre as portas para um novo festival de diárias pagas com o suor do contribuinte.

De acordo com o projeto, um vereador agora pode ganhar R$ 1.000 por dia para viagens a outros estados, R$ 700 para a Grande Natal, R$ 500 para o interior do RN e R$ 220 para um pulo em Caicó. Mas o grande prêmio vem quando o destino é internacional: a diária pode subir 150%, chegando a R$ 2.500. Isso mesmo — R$ 2.500 por dia. Enquanto boa parte da população mal vê esse valor no fim do mês, os “representantes do povo” podem faturar isso em 24 horas de “missão oficial”.

A justificativa beira o deboche: dizem que é para “corrigir valores defasados pela inflação”. Ora, se é por isso, talvez devêssemos também atualizar o salário do povo — esse mesmo povo que paga a conta das diárias, dos hotéis, das passagens e das justificativas burocráticas escritas no piloto automático. E o melhor (ou pior): as diárias serão pagas antecipadamente, com base em relatórios genéricos e promessas de “prestação de contas” que raramente se traduzem em transparência de verdade.

Enquanto o município enfrenta dificuldades para manter estradas, escolas e serviços básicos, os vereadores encontraram tempo e energia para votar com eficiência cirúrgica aquilo que lhes beneficia diretamente. É o tipo de eficiência que o cidadão gostaria de ver aplicada na saúde ou na segurança, mas que parece só funcionar quando o assunto envolve o próprio contracheque parlamentar.

A Câmara tenta vender o projeto como “um avanço administrativo”, mas a verdade é que isso é um retrocesso moral. É mais um capítulo da velha política, onde o interesse público vira pano de fundo para o conforto de poucos. No fim, o povo trabalha, paga impostos e ainda banca o “turismo legislativo” disfarçado de missão institucional. Serra Negra do Norte merecia mais — mas seus vereadores parecem achar que já fazem demais.