3 RAZÕES QUE EXPLICAM O FIM DA ERA DO PETRÓLEO BARATO
Como o petróleo saiu de uma baixa histórica nos preços e
voltou a representar uma dor de cabeça para países consumidores? Os valores
voltaram a subir no ano passado e, em meados de maio deste ano, superou a barreira
dos US$ 80 por barril (cerca de R$ 300), o valor mais alto registrado desde
novembro de 2014. Com isso, os alarmes soaram e os especialistas começaram a
decretar que havia chegado "o início do fim" da era do petróleo
barato.
Nas últimas semanas, analistas e investidores, como o banco
Goldman Sachs, avaliaram que a demanda por petróleo no curto prazo será maior
que a oferta, o que deve aumentar ainda mais as pressões sobre o preço do
produto. Já o banco americano Morgan Stanley elevou suas projeções de aumento
no valor do barril para este ano e para os próximos.
Veja, a seguir, 3 causas que explicam por que operadores e
analistas pensam que estamos no fim da era de petróleo barato:
1 - Drásticos cortes de oferta de petróleo
Os países exportadores de petróleo estão há 17 meses
aplicando um plano de redução da oferta, com queda de cerca de 1,8 milhão de
barris por dia, considerado por analistas como a chave mais importante por trás
do aumento de preços.
Para o governo dos Estados Unidos, a agressividade dos
cortes na produção se transformou em uma manipulação do mercado, impulsionada
pela Arábia Saudita, com o objetivo de provocar uma alta artificial do preço.
Os produtores estão lançando sinais divergentes. No Fórum
Econômico Internacional de São Petersburgo, na Rússia, eles concordaram em
moderar os cortes na produção de petróleo neste ano. Porém, os mais céticos não
consideram que este anúncio vá alterar a tendência do mercado no longo prazo -
de alta.
Por outro lado, há uma demanda crescente. Nos últimos anos,
o excesso de estoque de petróleo chegou ao fim em vários países, segundo
especialistas que têm acompanhado de perto o movimento do mercado petrolífero.
"Se esgotaram os gigantescos estoques (de petróleo) que
mantinham os preços baixos", afirma Antoine Halff, pesquisador do Centro
de Política Global Energética da Universidade de Columbia e ex-analista-chefe
de petróleo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
"Os estoques não diminuíram somente nos Estados Unidos
e países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Também caíram os estoques chineses e de outros países."
Evolução do preço do petróleo
Cotação média mensal do barril de Brent, em US$
2 - Sanções dos EUA contra o Irã
O fator Irã desempenhou um papel importante na recente alta
de preços do petróleo, diz Ellen Wald, analista de política e energia, autora
do livro Saudi Inc e presidente de uma consultoria econômica, a Transversal
Consulting.
"Os preços subiram se antecipando à retomada das
sanções dos Estados Unidos contra o Irã. E subiram de novo quando as sanções
foram anunciadas. Mas não está claro que quantidade de petróleo iraniano será
removida do mercado. As estimativas vão desde 200 mil barris por dia até um
milhão", afirma Wald.
Com esse alto nível de incerteza, Wald não é a única a
questionar os potenciais efeitos da decisão de Trump. "Não há dúvida de
que o anúncio do governo Trump de impor novas sanções fez os preços subirem.
Mas, se as sanções serão efetivas e irão impactar a receita do Irã advinda das
vendas de petróleo, é algo que ainda não sabemos", falou Antoine Halff, do
Centro de Política Global Energética da Universidade de Columbia.
3 - A queda do fornecimento venezuelano
Em meio a uma grave crise política na Venezuela, a indústria
petrolífera do país sofreu uma forte queda. A produção de petróleo caiu seis
vezes mais do que o previsto pela OPEP, diz Francisco Monaldi, especialista
venezuelano em políticas energéticas latino-americanas da Universidade Rice, em
Houston, e pesquisador do Centro de Políticas Globais da Universidade de
Columbia.
"A velocidade da queda foi muito maior do que a
esperada pelo mercado. E há preocupação, porque (a produção) segue caindo
rapidamente".
"A Venezuela contribuiu para o aumento de preços porque
perdeu um milhão de barris diários em pouco mais de um ano", acrescenta
Amrita Sen, analista-chefe de petróleo da consultoria Energy Aspects.
Ainda assim, a Venezuela produz 1,4 milhão de barris por
dia, explica Sen. "Como existe pouca capacidade extra (de produção de
petróleo) em outras partes do mundo, qualquer perda (na Venezuela) pode
provocar uma alta dos preços".
Além da Venezuela, Angola, Nigéria e Equador também estão
produzindo menos petróleo.
Acabou a era de preços baixos?
De acordo com Sen, há ainda um outro elemento chave que
precisa ser considerado para o futuro. "A falta de investimento nos
mercados petrolíferos durante o período de baixos preços significa que teremos
uma ameaçadora escassez de oferta nos próximos anos".
Em geral, os especialistas concordam que haverá mais
aumentos de preço. Mas discordam sobre o longo prazo. "Cada vez mais o
mercado muda, os observadores então acreditam que começou uma nova era, um novo
paradigma, ou que houve uma mudança estrutural. Mas, mais cedo ou mais tarde, o
mercado muda outra vez", afirma Antoine Halff.
"No final, o petróleo, como todos os outros mercados de
matérias-primas desde os tempos bíblicos, é cíclico".