PARA REDUZIR DIESEL, GOVERNO ONERA EXPORTADOR E CORTA ATÉ NO SUS E EDUCAÇÃO
As medidas foram publicadas nesta quarta-feira (30) em
edição extra do Diário Oficial da União.
O Reintegra devolvia 2% do valor exportado em produtos
manufaturados através de créditos de PIS/ Cofins. Esse percentual foi reduzido
para 0,1%, o que gerará recursos de R$ 2,27 bilhões até o final do ano.
A redução da alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) sobre concentrados de refrigerantes de 20% para 4% permitirá
um ganho de R$ 740 milhões até o final do ano. Isso porque os fabricantes
gerarão menos créditos para abaterem impostos.
A alteração da tributação de um programa para a indústria
química, o Regime Especial da Indústria Química, aumentará receitas em R$ 170
milhões.
Quando a empresa importava, pagava 5,6% de PIS/ Cofins e
recebia um crédito de 9,25%. Essa "sobra" de 3,65%, que era usada
para abatimento de outros impostos, foi extinta.
No caso da reoneração da folha de pagamento, que segundo o
secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, isentará um número menor de
setores do que o aprovado na Câmara, o ganho até o final do ano será de R$ 830
milhões.
O projeto de lei aprovado na Câmara previa que 28 setores
estariam isentos da reoneração da folha. Mas o presidente Michel Temer vetou 11
desses setores, o que deixou 17 com isenção.
Entre os que mantiveram o benefício estão calçados,
construção civil, fabricação de veículos, transporte rodoviário e indústria
têxtil, entre outras.
Caminhoneiro pede na Régis Bittencourt redução no preço dos
combustíveis; país ainda registrava pontos de manifestação nesta terça (29) Zanone
Fraissat/Folhapress
De acordo com o secretário da Receita, a escolha dos
benefícios a serem retirados foi feita com base na distorção que geram no
sistema tributário.
"Os gastos tributários no Brasil são elevados, fora do
padrão mundial", afirmou Rachid, se referindo aos benefícios que diversos
setores possuem no pagamento de tributos. "Escolhemos os incentivos que
geram alguma distorção", completou.
Segundo ele, no caso da taxação de concentrados usados
na fabricação de refrigerantes, por exemplo, há a geração de créditos em volume
superior ao imposto devido em si, devido aos benefícios vigentes na Zona Franca
de Manaus.
"Já foi identificado que algumas empresas usam esse
excesso de crédito em refrigerantes para compensar em cerveja, por
exemplo", disse Rachid. "Muitos contribuintes pagam para poucos serem
beneficiados".
Em 2019, o aumento de arrecadação com essas medidas será de
cerca de R$ 16 bilhões.
CORTE DE PROGRAMAS
O governo ainda anunciou um corte de despesas de R$ 3,4
bilhões para compensar o programa de subsídios ao diesel.
Os programas de transporte terrestre do Ministério dos
Transportes, por exemplo, que envolvem adequação e construção de 40 obras,
perderam R$ 368,9 milhões em recursos.
Ainda foram reduzidos recursos, por exemplo, para programas
como prevenção e repressão ao tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões), concessão de
bolsas de um programa de estímulo ao fortalecimento de instituições de ensino
superior (R$ 55,1 milhões), policiamento ostensivo e rodovias e estradas
federais (R$ 1,5 milhões) e fortalecimento do sistema único de saúde, com R$
135 milhões.
Ao mesmo tempo, foram criados recursos para o programa
"operações de garantia da lei e da ordem", com o objetivo de
desobstruir estradas, no valor de R$ 80 milhões.
ENTENDA
As mudanças tributárias e o corte das despesas anunciado
nesta quinta-feira (31) fazem parte das ações do governo para compensar as
perdas orçamentárias causadas pela redução no preço do óleo diesel.
Pelo acordo fechado com caminhoneiros grevistas, o governo
se comprometeu a baixar o preço do litro do diesel em R$ 0,46 na refinaria. O
valor ficará congelado por 60 dias. O impacto total da medida é estimado em R$
13,5 bilhões.
Do desconto total, R$ 0,16 serão alcançados com isenção da
Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) e uma redução de
PIS/Cofins sobre o diesel, o que deve provocar um impacto de R$ 4
bilhões.
Uma parte pequena desse valor será absorvida com recursos
provenientes da aprovação da reoneração da folha de pagamentos de diversos
setores da economia.
O restante será manejado com retirada de benefícios fiscais,
segundo afirmou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.
Os R$ 0,30 restantes serão cobertos por um programa de
subvenção, com custo de R$ 9,5 bilhões.
Para compensar esse subsídio, o governo já conta com R$ 5,7 bilhões em excesso de arrecadação do governo federal.
Para compensar esse subsídio, o governo já conta com R$ 5,7 bilhões em excesso de arrecadação do governo federal.
Para fechar a conta, o governo ainda precisou encontrar
meios para compensar o rombo restante. Essa é a parcela que levou o Ministério
da Fazenda a anunciar o cancelamento das despesas.
COMPETITIVIDADE
Associações empresariais ouvidas pela Folha dizem que as
alterações nos programas de incentivo às companhias brasileiras podem levar a
perda de competitividade internacional e aumento de custos.
Em nota, Júlio Talon, presidente do Fórum de Competitividade
das Exportações da CNI (Confederação Nacional da Indústria), disse que a
não renovação do Reintegra coloca em risco o crescimento das exportações
brasileiras e do Produto Interno Bruto.
A confederação afirma que o Reintegra não é uma desoneração.
Em vez disso, é uma restituição de impostos indiretos que são cobrados na
cadeia produtiva da indústria exportadora, que deveria ter imunidade
tributária.
"Na prática, o programa corrige uma anomalia do sistema
tributário nacional, que mantém impostos em cascata e eleva o custo dos bens
produzidos no Brasil. A Constituição garante a imunidade tributária das
exportações."
Na nota, Talon diz que Os exportadores brasileiros fizeram
seu planejamento tributário e de investimento com base na restituição desses
resíduos tributários.
Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (associação da
indústria química), diz que as alterações no Regime Especial da Indústria do
setor, que garantia menor tributação na compra de insumos, acarretará a perda
de competitividade da indústria nacional e aumento de preços para consumidores.
Figueiredo diz que, desde sua criação, em 2013, o regime
previa reduções graduais no benefício. Conforme a tributação sobre o setor
aumentava, companhias internacionais ganhavam mais espaço no mercado brasileiro,
diz.
"Durante certo tempo, ficou mais fácil competir com
importados e a indústria brasileira tinha mais de 70% do mercado. Hoje,
importados são 38%."