GREVE DE CAMINHONEIROS CHEGA AO 7º DIA
Pelo sétimo dia seguido, caminhoneiros fazem manifestações
pelo país. Os atos deste domingo (27) dão continuidade à mobilização contra a
disparada do preço do diesel, que faz parte da política de preços da Petrobras
em vigor desde julho de 2017.
O gabinete do governo que monitora a crise já está em
reunião, em Brasília, sem a presença do presidente Michel Temer. Está prevista
uma segunda reunião, às 17h, também na capital federal.
Em ao menos oito estados (Alagoas, Amazonas, Bahia, Mato
Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rondônia e São Paulo), há relatos de postos que
foram reabastecidos. Em diversas cidades, motoristas tiveram de esperar em
filas de veículos para colocar combustível.
Em entrevista coletiva na noite deste sábado (26), o
ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a
Polícia Federal instaurou 37 inquéritos em 25 estados para apurar prática de
locaute durante a greve dos caminhoneiros.
Locaute
(termo originado a partir da palavra em inglês lock out) é o que acontece
quando os patrões de um determinado setor impedem os trabalhadores de exercer a
atividade. A prática é proibida por lei.
Na entrevista – da qual participou o ministro da Segurança
Institucional, Sérgio Etchegoyen –, Jungmann disse que houve "apoio
criminoso" de empresas ao movimento, que, segundo ele, "irão pagar
por isso". O ministro declarou que os responsáveis estão sendo convocados
para prestar depoimento.
PF abre 37 inquéritos para investigar locaute na greve dos
caminhoneiros
"Temos comprovado, seguramente, que essa paralisação
por caminhoneiros autônomos, em parte, teve desde seu início a promoção e o
apoio criminoso de proprietários, patrões de empresas transportadoras e
distribuidoras. E podem ter certeza que irão pagar por isso", declarou.
De acordo com o ministro, mandados de prisão já foram
expedidos, mas ele não soube informar se eles já tinham sido cumpridos.
Jungmann afirmou que a Polícia Rodoviária Federal emitiu 400
autos de infração no valor total de R$ 2,03 milhões, sem incluir as multas de
R$ 100 mil por hora determinadas em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro da Segurança Nacional disse ainda que, até a
noite deste sábado, havia 566 interdições parciais de rodovias no país. Segundo
ele, 524 bloqueios tinham sido dissolvidos. "Isso significa que temos
número, praticamente meio a meio, entre aquelas que se encontram interditadas e
liberadas", declarou.
Na entrevista, Jungmann divulgou percentuais de liberação
das vias em alguns estados:
São Paulo: 97%
Pernambuco: 75%
Distrito Federal: 70%
Rondônia: 69%
Bahia: 64%
Ceará: 62%
Viatura escolta caminhão-tanque que deixa distribuidora na
Zona Oeste de São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)
Ministro vai levar propostas a Temer
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse na
noite deste sábado que vai
levar para o presidente Michel Temer novas propostas para tentar encerrar o
movimento dos caminhoneiros.
Marun se reuniu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo
paulista, com o governador Márcio França (PSB) e lideranças do movimento dos
caminhoneiros de São Paulo.
Entre as propostas que serão levadas para Brasília, Marun
destacou:
garantia de que o desconto de 10% no valor do diesel vai
chegar na bomba de forma efetiva;
possibilidade de que a manutenção do preço seja ampliada de
30 para 60 dias;
e o fim da suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para
eixo elevado dos caminhões para todo o país. Este último ponto já foi acertado
pelo governo de São Paulo com os caminhoneiros.
Desobstruções
Em São Paulo, às 17h10 do sábado dois caminhões da Tropa de
Choque e diversas viaturas da Polícia Militar bloquearam as faixas do Rodoanel
próximo de onde centenas de caminhões bloqueiam os acessos nos dois sentidos.
Com isso, depois de quase uma semana de bloqueio, os
caminhoneiros começaram a deixar o local, o que começou por volta das 19h.
Alguns caminhões ainda permanecem no acostamento.
O governador paulista, Márcio França (PSB), anunciou
a suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para eixo elevado dos
caminhões nas rodovias paulistas a partir de terça-feira (29), e a retirada das
multas que foram lavradas com as interdições nesta semana.
Em Alagoas, uma ação conjunta da Polícia Militar e da
Polícia Federal, na tarde deste sábado, deu cumprimento à ordem judicial para
que os manifestantes que bloqueavam a entrada do Porto de Maceió desde a noite
de quinta-feira (24) liberassem o local. Não
houve resistência.
Aeroportos
De acordo com a Infraero, 14 aeroportos que sob a
responsabilidade da empresa estão sem combustível.
Neste sábado, as empresas de distribuição de combustível,
por meio da Plural, associação que representa o setor, cobraram
uma ação das forças de segurança para liberar as rodovias.
A entidade informou ter planejamento e estoque de produtos
para abastecimento imediato em todo o território nacional. "Contudo, em
muitos locais não há um ambiente seguro o suficiente para que seja colocado em
prática esse planejamento."
São eles:
Aracaju (SE)
Brasília (DF)
Campina Grande (PB)
Carajás (PA)
Cuiabá (MT)
Goiânia (GO)
Ilhéus (BA)
Juazeiro do Norte (CE)
Maceió (AL)
Palmas (TO)
Recife (PE)
São José dos Campos (SP)
Uberlândia (MG)
Vitória (ES)
Nos aeroportos com falta de combustível, as companhias devem
prever querosene para cumprir toda viagem, pois não haverá condições de
abastecimento em solo.
A Infraero recomenda às empresas aéreas que verifiquem a
disponibilidade de combustível nos aeroportos antes de fazer a viagem. Também
recomenda aos passageiros que procurem suas companhias para consultar a
situação de seus voos.
Alguns aeroportos pelo Brasil receberam caminhões
sob escolta com combustível:
Distrito Federal: seis caminhões-tanque com querosene
foram levados até o local sob a escolta da Força Nacional. Isso permitiu que o
aeroporto saísse do combustível zero.
Recife: Exército Brasileiro chegou ao Complexo
Portuário de Suape na tarde deste sábado para viabilizar a liberação de
caminhões-tanque com combustível para o Aeroporto do Recife.
São Paulo: sete caminhões-tanque de Viracopos foram
escoltados pelos militares do aeroporto até a refinaria. Na cidade de São
Paulo, a escolta de caminhões pelas forças de segurança também está ocorrendo
com frequência durante todo o sábado.
Tocantins: Um caminhão com 44 mil litros de combustível
para aeronaves foi escoltado pela Polícia Rodoviária Federal de Gurupi até o
aeroporto de Palmas.
A Infraero aguarda a chegada de carretas de combustível para
todos os aeroportos. A empresa ressalta que os aeroportos não estão fechados e
podem receber pousos e decolagem, mas a aeronave que pousar pode não conseguir
abastecer.
Temer assinou decreto
Na noite desta quinta-feira (24), o
governo federal e respresentantes de caminhoneiros haviam anunciado proposta
para suspender a greve por 15 dias. Ainda assim, a paralisação continou.
Já na tarde deste sábado (26), o presidente Michel Temer
assinou um decreto
que permite ao governo assumir o controle de caminhões para desobstruir as
rodovias, uma medida chamada de "requisição de bens", anunciada
já na sexta-feira (25).
Em pronunciamento também na sexta, Temer havia dito
que o
governo acionou forças federais para desbloquear as estradas.
No mesmo dia, o governo publicou um Decreto de Garantia da
Lei e da Ordem que autoriza uso das Forças Armadas para liberar rodovias.
Válido até 4 de junho, o decreto inclui:
remoção ou a condução de veículos que estiverem obstruindo a
via pública;
escolta de veículos que prestem serviços essenciais ou
transportem produtos considerados essenciais;
garantia de acesso a locais de produção ou distribuição de
produtos considerados essenciais;
e medidas de proteção para infraestrutura considerada
crítica.
Veja os principais reflexos da paralisação pelo país:
Transporte
A Infraero informou, em balanço divulgado às 9h10 deste
domingo, que há 11 aeroportos sem combustível. Eles estão abertos e têm
condições de receber pousos e decolagens. Mas, nos terminais em que o
abastecimento está indisponível no momento, as aeronaves que chegarem só
poderão decolar se tiverem combustível suficiente para a próxima etapa do voo.
Em São Paulo, há
pontos de manifestação na Régis Bittencourt, na Anchieta, na Dutra e na
Anhanguera, mas não há bloqueios. Neste domingo, dia de menor demanda, a
frota do metrô e da CPTM opera normalmente, dentro dos padrões do final de
semana. No aeroporto de Guarulhos, nenhum voo foi cancelado pela manhã deste
domingo – entre as 6h e 7h, nenhum voo com mais de 30 minutos registrou atraso.
Em Congonhas, até as 8h, dois voos haviam sido cancelados.
O estado do Rio de Janeiro possui ainda 24 pontos de
bloqueio nas estradas no começo da manhã deste domingo. A cidade do Rio segue
em estado de atenção desde às 16h30 de sexta. O BRT, que havia voltado a funcionar
às 17h de sábado após interromper os serviços por causa da falta de
combustíveis, opera
com 56 ônibus articulados (menos de 20% da frota).
Em Florianópolis, o transporte coletivo no semana funciona
com horário de domingo. Caminhoneiros liberaram a passagem de combustíveis para
abastecer a frota da capital e das linhas intermunicipais da Grande
Florianópolis. Nesta segunda-feira (28), a operação será com horários de sábado
para o convencional, enquanto os executivos [amarelinhos] estarão suspensos.
No Paraná, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) informou que
ainda há 50 pontos de bloqueio na região de Maringá, no norte do estado. Os
bloqueios também continuam na BR-376 em Mandaguari, Mandaguaçu e Marialva,
segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A Infraero informou que as
operações no Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu estão normais neste
domingo. Já foram realizadas três decolagens. Até a meia-noite, estão previstos
22 pousos e 21 decolagens na fronteira.
Segundo a Infraero, não teve problema de abastecimento de
aeronaves no Aeroporto de Foz até este momento.
Em
Goiás, havia 50 trechos bloqueados às 8h30 deste domingo (três a menos que
o no dia anterior), informou a Polícia Rodoviária Estadual. Já a última
atualização da Polícia Rodoviária Federal, apontou 22 pontos.
No
Agreste e Sertão de Pernambuco, continuam interditados trechos das BRs 423,
em Garanhuns e Iati; 424, em Caetés e Pedra; 316, em Floresta; 104 em Caruaru;
e 232, em Caruaru, Sertânia, Belo Jardim e Pesqueira. Carros de passeio,
veículos de emergência, motos e ônibus passam pelos locais, segundo a PRF.
No Pará, a PRF informou que há
11 pontos de interdições parciais na manhã deste domingo.
Na Paraíba, até a noite do sábado havia
aproximadamente 25 pontos de interdições em rodovias, segundo a (PRF). O
órgão não informou o número de rodovias interditadas neste domingo até as 9h.
Em Rondônia, o
último ponto de bloqueio na BR-364 foi desfeito na noite de sábado. Os
manifestantes que estavam concentrados na rodovia próximo a Candeias do Jamari
retiraram os caminhões da estrada, permanecendo nas margens da BR.
Combustível
Em ao menos oito estados (Alagoas, Amazonas, Bahia, Mato
Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rondônia e São Paulo), há relatos de postos que
foram reabastecidos. Em diversas cidades, motoristas tiveram de esperar em
filas de veículos para colocar combustível.
Em Santa Catarina, 254 dos 295 municípios relataram
problemas de abastecimento de combustíveis, conforme dados do governo estadual
divulgados na sexta. Em Florianópolis, não há mais combustíveis nos postos,
assim como em Blumenau.
Ao menos cinco postos de Salvador receberam
gasolina e amanheceram com filas gigantes neste domingo. Apesar da chegada
da gasolina, os postos não têm etanol, nem diesel. Os donos dos
estabelecimentos não tem previsão de quanto a gasolina pode durar, porque isso
depende da demanda. Eles também não têm detalhes de quando receberão a próxima
carga, que desta vez foi escoltada pela polícia.
O estoque de combustíveis nos postos de Alagoas deve
ser normalizado em uma semana, de acordo com o Sindicato do Comércio
Varejista de Derivados de Petróleo do Estado (Sidicombustíveis-AL). Alguns
começaram a ser abastecidos na noite de sábado (26), mas neste domingo (27) já
havia relatos de baixo estoque novamente.
No Pará, postos da região metropolitana estão sendo
reabastecidos. Mas as regiões nordeste e sudeste do Estado ainda têm postos com
estoque zerado.
Com a liberação das estradas em Rondônia, os caminhões de
combustível puderam abastecer os postos em diversas cidades, gerando filas
ainda na noite do sábado.
Desde sábado, o governador do Mato Grosso, Petro Taques
(PSDB), decretou
situação de emergência por causa do desabastecimento de combustível.
Alimentos
As Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina
(Ceasa-SC) dizem que há desabastecimento de aproximadamente 85%. A Associação
Catarinense de Supermercados (Acats) informou que já há falta de vários
produtos nos estabelecimentos. Sem produtos, a Ceasa de Joinville foi fechada.
Saúde
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informa que
todas as unidades estão funcionando normalmente, com possibilidade de falhas
pontuais por ausência de um ou outro funcionário. As ambulâncias do Samu têm
combustível para o atendimento até o fim de segunda-feira. Há ações no fim de
semana para a recomposição dos estoques.
As cirurgias eletivas (agendadas) estão suspensas na rede
estadual de Santa Catarina, que tem 13 hospitais próprios. Os procedimentos
cirúrgicos serão reagendados.
Coleta de lixo e serviços públicos
Em São Paulo, não há coleta aos domingos. Prefeitura diz ter
obtido combustível para seguir com o serviço nesta segunda. Já o serviço
funerário funciona normalmente. Segundo a Prefeitura, o estoque de combustível
para o serviço de remoção de corpos é suficiente para garantir o serviço até a
manhã deste domingo.
Em Florianópolis, a coleta de lixo, que havia sido alterada,
voltou a operar na noite de sexta, após negociação da prefeitura com
caminhoneiros para liberação de combustíveis.
Educação
Em São Paulo, as aulas estão mantidas para esta segunda nas
escolas estaduais e municipais. As escolas estão abastecidas de mantimentos
para o preparo das merendas e outros insumos. O Centro Paula Souza orientou
suas unidades a se adequarem à realidade dos municípios e compensarem as
ausências dos alunos e professores, se necessário.
Universidades e escolas estão com aulas interrompidas em
Santa Catarina. A Universidade do Vale do Itajaí (Univali) suspendeu as
atividades até esta segunda-feira (28). No Sul do estado, 24 mil alunos foram
impactados pela falta de aulas na rede municipal e estadual.
Energia e abastecimento (água e luz)
A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) emitiu
comunicado na tarde de quinta para que a população que diminua o consumo de
água tratada, porque o abastecimento dos produtos necessários para tratamento
está comprometido. O estoque atual é suficiente para mais alguns dias.
Indústria
A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) calcula
que os prejuízos já passam dos R$ 200 milhões. Ainda não há estimativa total
das perdas como um todo do setor produtivo.
Veja a situação nos estados: