POR QUE LULA NÃO DESISTE AGORA. POR HELENA CHAGAS
Ninguém sabe melhor do que Lula que ele não estará subindo a
rampa do Planalto em 1 de janeiro de 2019 – pelo menos para ocupar o maior
gabinete do terceiro andar. Ninguém melhor do que o ex-presidente sabe, também,
que um indulto presidencial seria sua melhor chance de escapar à atual e a
futuras condenações dadas como certas. Para isso, porém, Lula terá que eleger
ou ter participação decisiva na eleição do futuro presidente da República. É
nesse raciocínio que se baseia hoje a estratégia política da cúpula do PT.
Por mais que esperneiem governadores e setores do PT que,
diante da impossibilidade da candidatura Lula, pressionam para que o partido
tome logo outro rumo na eleição, isso não deve acontecer tão cedo. Ao menos
enquanto as pesquisas mostrarem que, lá daquela cela de Curitiba, o
ex-presidente mantém seu património eleitoral. Quarenta dias depois da prisão,
sem qualquer imagem divulgada ou declaração de viva voz ao eleitorado, Lula
mantém praticamente intocada a fatia de cerca de 30% dos votos que tinha antes.
É natural que esse patrimônio de votos comece a se
deteriorar nos próximos meses, e a velocidade com que isso ocorrer ditará o
“timing” da decisão petista de lançar o seu poste ou, menos provável, anunciar
uma aliança com Ciro Gomes já no primeiro turno. Mas a permanência de
Lula na cadeia, incapacitado de fazer campanha, a proximidade da Copa do Mundo
– que deixará a eleição em suspenso até o fim de julho – e o bate-cabeças no
campo adversário da centro-direita são fatores que reforçam a calma nessa estratégia.
Afinal, de que adiantaria agora Lula jogar a toalha e
lançar, por exemplo, Fernando Haddad, expondo-o ao sol e à chuva inevitáveis da
campanha? Ou queimar seu cacife declarando agora um apoio precoce a Ciro Gomes,
provocando uma conflagração em setores contrários do partido? Ou, pior,
apostando num cavalo que não se sabe ainda se chegará lá?
Não é hora para isso, dizem os petistas mais próximos ao
ex-presidente. Manter o discurso da candidatura ainda é a melhor forma de
evitar a dispersão de seu principal ativo político – que ao fim e ao cabo, é
também um importante elemento de barganha para trabalhar pela soltura do
ex-presidente, seja para negociar um indulto futuro, seja para trabalhar por
uma decisão favorável num tribunal.
O que não quer dizer que não estejam correndo soltas, com
autorização do próprio Lula, as conversas em torno de uma composição com Ciro.
Agosto será o mês decisivo.