CRISE TEM ROSTO DO PRESIDENTE, NÃO DOS MINISTROS
É preciso chamar as coisas pelo nome. Jair Bolsonaro fez uma
reforma ministerial. Em menos de seis meses de mandato, o capitão trocou quatro
dos seus 22 ministros. Repetindo: antes de atingir a metade do primeiro ano de
mandato, o presidente da República já substituiu 18% do seu time ministerial.
Mexeu inclusive no pedaço fardado da equipe, que se imaginava mais estável.
Num primeiro momento, foram ao olho da rua Ricardo Vélez, da
Educação; e Gustavo Bebbiano, da secretaria-geral da Presidência. Agora, caíram
os generais Santos Cruz, da Secretaria de Governo; e Floriano Peixoto, que
havia sucedido Bebianno na secretaria-geral e foi rebaixado para a presidência
dos Correios. Incluindo-se na dança de cadeiras o presidente do BNDES, Joaquim
Levy, e o segundo escalão da Esplanada, as demissões passam de 20.
Por que o governo trocou tanta gente em tão pouco tempo? O
general Santos Cruz, um dos demitidos, ofereceu a melhor resposta. O governo
perde tempo com "bobagens" e "fofocagem", ele disse.
"É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante",
acrescentou. De fato, o governo é pródigo na produção de crises inúteis. E
Bolsonaro revelou-se um mago: as crises entram pequenas no seu gabinete e saem
de lá enormes e ameaçadoras.
Bolsonaro referiu-se de forma singela à carbonização de
auxiliares. Comparou certos ministros a fusíveis. Ele disse: "Para evitar
queimar o presidente, eles se queimam." Quantos ministros ainda serão
eletrocutados até que o presidente consiga passar uma imagem de tranquilidade?,
eis a questão a ser respondida. Bolsonaro mudou a equipe. Mas continua o mesmo.
Ainda não se deu conta do essencial: num governo marcado pela instabilidade, o
rosto do presidente é o rosto do problema.