REPROVAÇÃO DE BOLSONARO SOBE EM MEIO AO DESERTO DE POLÍTICAS PARA EMPREGO


Se o desemprego estivesse despencando e a economia crescendo de forma vistosa, Bolsonaro poderia defender a inclusão do terraplanismo nos livros didáticos que a maior parte da população acharia fofo. Com o país patinando (o Banco Central revisou para baixo a projeção de crescimento do PIB para 0,8% e o desemprego está em 12,5%, segundo o IBGE), a qualidade de vida dos brasileiros vai erodindo. E, com ela, a paciência com o presidente.

De acordo com pesquisa Ibope, divulgada nesta quinta (27), 32% da população considera o governo ótimo ou bom, frente a 35% no levantamento de abril do instituto. E 32% avaliam-no como ruim e péssimo, diante dos 27% de dois meses atrás. Antes, 31% consideravam-no regular. Agora, são 32%.

Tudo converge aos 32% – um terço da população, praticamente, segue a seu lado, um terço contra ele e um terço aguarda para ver o que acontece. A aprovação da maneira de Bolsonaro governar está em 46%, enquanto a desaprovação, em 48%. Além disso, mais gente desconfia do presidente (51%) do que confia (46%).

Bolsonaro herdou uma crise econômica de outros governos, então tem razão ao dizer que não é o responsável por ela… por enquanto. Pois não foi eleito para repetir eternamente que a culpa é do PT, mas para apresentar e executar políticas públicas a fim de nos tirar do atoleiro. À medida que o tempo passa, ele vai dividindo mais e mais a paternidade da criança.

Devido à quantidade de barbeiragens e bobagens cometidas nestes seis primeiros meses, o presidente vem queimando rapidamente o capital de boa vontade que é conferido aos governantes em início de mandato. Gasta mais tempo tentando manter seus decretos pró-armas, apresentando projeto para o fim da obrigatoriedade da cadeirinha de bebê e divulgando golden shower do que discutindo com o Congresso Nacional formas de promover a geração de postos de trabalho.

E quando questionado sobre isso, brada que a Reforma da Previdência e meia dúzia de medidas para reduzir a burocracia junto às empresas vão resolver. Não, não vai. E qualquer pessoa de bom senso no mercado sabe disso.

Ao mesmo tempo, o ministro da Educação Abraham Weintraub prefere acusar universidades públicas de serem locais de "balbúrdia" e cortar seu orçamento a ponto de ficarem sem dinheiro até para a limpeza dos banheiros do que convidá-las a desenvolver programas de qualificação da mão de obra para aumentar nossa produtividade e a chance de pessoas conseguirem emprego.

Não à toa, o total dos que desaprovam a gestão da área de educação sob Bolsonaro subiu de 44% para 54%, enquanto a quantidade dos que a aprovam caiu de 51% para 42%. Talvez para festejar os números, o ministro comparou, nesta quinta, os ex-presidente Lula e Dilma a pacotes de cocaína em sua conta no Twitter.

Com exceção do naco bolsonarista-raiz, que segue o presidente até o penhasco e além, os brasileiros não estão interessados em "guerra cultural". Para uma imensa massa de trabalhadores, o presidente pode empreender a cruzada ideológica que quiser, desde que melhore a qualidade de vida no país. O mesmo pragmatismo atropelou as denúncias do Mensalão e reelegeu Lula em 2006 diante de uma economia em crescimento.

Bolsonaro teria mais liberdade para sua pauta medieval de costumes e comportamentos se conseguisse reduzir significativamente o desemprego. Afinal, a parte da população que votou por mudanças e não por fiscalizar o sexo alheio ou criar milícias a fim de defender o governo aceitaria mais facilmente a excentricidade temática por ele proposta desde que o Estado garantisse segurança econômica. Ele preferiu inverter, acreditando que manter uma base bolsonarista bem alimentada e com energia para sair às ruas é a melhor garantia de proteção ao sei mandato.

Neste momento, ele governa para essa base. O resto do país? Que se vire.